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Os professores estão zangados

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Os professores estão zangados

Voz aos Escritores

2023-01-20 às 06h00

Fabíola Lopes Fabíola Lopes

Os professoress estão zangados. Cansados de serem enganados, sobretudo.
Não estão cansados de ensinar, de lutar por melhores condições físicas nas escolas, melhores equipamentos e conforto, melhores contextos sociais para os seus alunos. Não estão cansados de lhes alargar os horizontes, acrescentar possibilidades, exigir empenho e dedicação, conquistar encantamentos. Não estão can- sados de lhes pensar estratégias e adaptações, motivações diversas para que aquele brilhozinho nos olhos não desapareça num abandono escolar precoce.
Estão cansados da subtração consecutiva do tempo de dedicação para fazerem trabalhos administrativos e burocráticos para que o Ministério da Educação possa diminuir o número de funcionários administrativos. Estão cansados de ouvir as queixas, mais do que justas, sobre a qualidade da alimentação oferecida nas escolas, principalmente os que se lembram de como era quando havia cozinha e cozinheiras por lá. Estão cansados de fazerem malabarismos inclusivos só para dizer que sim, sem recursos físicos e humanos ou formação qualificada e adequada para a diversidade de casos que lhes entram porta dentro. Estão cansados de nivelarem por baixo, de tratarem alunos com potencialidades como se fossem desprovidos de massa cinzenta. Estão cansados de terem de passar alunos que sabem que não merecem, que não se esforçam, que na realidade não sabem o suficiente para aquele 3, aquele 5 é um 4, que aquele 4 é um 3, que aquele 3 é um 2. Que muitos alunos passam sem se esforçarem, sem merecerem, sem saberem. Porque as metas e a imagem, porque a avaliação das escolas, as justificações e papeladas de mil estratégias, porque a avaliação dos próprios professores, porque as taxas de sucesso, porque, porque, porque.
Porque tudo isto começou lá atrás quando os alunos deixaram de ser retidos com mais do que duas disciplinas negativas. Passaram a haver disciplinas de primeira e de segunda, que é o mesmo que dizer professores mais importantes do que outros. Na dianteira os do Português e de Matemática. Podem ter três ou mais negativas desde que não sejam a estas duas ao mesmo tempo e já passam. Com isto, matérias mais importantes e dedicações a duas velocidades. Quem é que se lembrou disto? E quem aceitou isto? Todo o conhecimento conflui para o crescimento e desenvolvimento do sujeito como um todo. Uma coisa é dar mais carga horária a umas disciplinas do que a outros, pela dimensão do currículo e sua importância transversal e basilar para todas as outras como é o caso do Português e da Matemática. Outra coisa é a valorização na avaliação. E que dizer dos professores de Artes, TIC e Educação Física? Vamos falar das AEC? Cujos professores andam de escola em escola, a tapar buracos, como quem mendiga tempo de serviço? Exactamente aquilo que o governo queria fazer com a municipalização da contratação de professores que acabou por ser a gota de água e trouxe os professores finalmente para a rua, numa união inédita.
Os males da escola pública crescem em dores. Dores dos alunos, dores dos funcionários, docentes ou não docentes, dores dos pais, que muitas vezes andam enganados ou distraídos e acordam quando os filhos chegam ao secundário com falta de bases. E quem tem dinheiro ainda recorre a explicações para suplantar a falta de professores, a falta de exigência e rigor, a falta de investimento, a falta de trabalho e dedicação dos alunos. Mas… e quem não tem?
Resta-lhes os cursos profissionais, não desfazendo a sua importância, que aumentaram bastante nos últimos anos por causa disto mesmo. É isto a escola pública gratuita para todos e que a todos recebe?
E depois disto tudo, destas greves prolongadas em dias e distritos, da manifestação com mais de 100 mil professores num sábado, o governo apresenta uma mão cheia de areia para os olhos de quem não quer ver, com falinhas dúbias banhadas no canto da sereia. Vamos falar de boa-fé?
Da média de 16,5 anos para efectivar e a andar com a casa às costas? De 7 anos de governo e só agora se lembrarem de fazer algo? Vamos falar dos 60 mil alunos que estão sem professor a alguma disciplina desde o início do ano? Esses não estão a ser prejudicados? Não preocupam o governo?
Quando não tiverem docentes para colocar e os alunos ficarem sem educação a eliminação das cotas de acesso ao 5º e 7º escalão, uma avaliação digna, a efetivação no final de 3 anos de contrato mesmo que não sejam seguidos (sem adendas), a reforma aos 36 anos de descontos efetivos, a formação superior com cinco anos, incluindo um de estágio pedagógico, já não irão parecer um preço tão elevado a pagar. Ou será que isto não os preocupa?
É um preço bem alto a pagar, o da ignorância.

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