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Os incêndios não destroem só florestas

IFLA Trend Report 2024

Os incêndios não destroem só florestas

Ideias

2024-09-18 às 06h00

Artur Feio Artur Feio

Opaís e as populações têm enfrentado dias muito duros, com incêndios devastadores a assolarem sobretudo as regiões norte e centro de Portugal. Pensávamos – talvez ingenuamente – que íamos conseguir chegar ao fim do verão relativamente incólumes. Não foi o caso, tendo em conta que em dois dias ardeu praticamente tanto quanto o resto do ano.
Por tudo o que se está a passar, não posso deixar de dar uma palavra de muita força a todos os operacionais que continuam – dia e noite – com o que podem e o que não podem, a defender pessoas e bens e a lutar contra estes incêndios nefastos. A todos os bombeiros, forças de segurança, forças de emergência médica e de socorro e restantes agentes de proteção civil, uma palavra de agradecimento.
Por outro lado, manifesto o meu pesar por todas as vítimas que, infelizmente, estes incêndios já fizeram. A perda de vidas humanas é, e será sempre, uma derrota coletiva. O sentimento de pesar e homenagem a todos os familiares e amigos dos que perderam a vida por uma causa maior.
Vivi em primeira mão o sofrimento dos incêndios de 2017, onde em Oliveira de Frades exercia à altura a minha atividade profissional. Foi tudo tão rápido, quanto devastador.
Num país com as características do nosso, cujas alterações climáticas acentuam problemas que agravam estas situações ano a ano, temos mesmo a obrigação de deixar de olhar de lado para os erros de planeamento do território e para a gestão que (não) temos feito no que toca a mecanismos de prevenção de catástrofes, como os incêndios.
Este problema, transversal a todo o país, tende a ser enaltecido nas alturas de maior aperto coletivo como aquele que estamos a viver atualmente. À hora a que escrevo este artigo, temos cerca de cinco mil bombeiros e mais de 20 meios aéreos nos teatros de operação em todo o país, com apoio de meios de Espanha, França e Itália e posteriormente da Grécia. Se isto não é uma situação de aflição nacional, tenho dúvidas em descrever o que será.
É importante que percebamos que as medidas que aplicarmos agora ao nível da gestão do espaço florestal só terão efeitos no médio e no longo prazo. Mas não é por isso que os governos e as autoridades nacionais, regionais e locais devem demitir-se dessa função, muito pelo contrário. Se não começarmos a fazer este trabalho agora, maior a probabilidade de termos de voltar a enfrentar estas situações no futuro, eventualmente com ainda mais gravidade.
A situação em Braga não é muito diferente e deve levar-nos a refletir sobre o papel que os Municípios têm e poderão ter no futuro, no que respeita a complementarem as respostas dos agentes de proteção civil, nomeadamente com a disponibilização de mais recursos financeiros e logísticos àqueles que, todos os dias, dão de si para proteger o que é de todos e para proteger as comunidades.
Já por muitas vezes alertei para a situação insustentável em que se encontram instalados os serviços da Proteção Civil municipal da nossa cidade. As condições estruturais são débeis e essa realidade tem um impacto direto na forma como estes agentes podem trabalhar em prol dos bracarenses.
Por outro lado, tenho reclamado para a necessidade de se concretizar a verdadeira reforma dos serviços de proteção civil do concelho, marcadamente no que toca à implementação do Centro Municipal de Proteção Civil. Esta medida permitiria melhorar significativamente a articulação dos vários agentes do terreno e olhar de forma mais integrada para o território, identificando debilidades e atuando do ponto de vista da prevenção.
Noutra perspetiva, é necessário reforçar o contributo que o Município dá, sobretudo em termos de financiamento, às nossas corporações de bombeiros. Sabemos a realidade que a maioria destes corpos de bombeiros enfrentam a nível nacional e Braga não é exceção. Temos associações humanitárias com dificuldades de tesouraria, subfinanciadas e que não têm quaisquer condições para implementarem medidas importantes como a renovação de frotas, aquisição de equipamento moderno que dê novas respostas e, até mesmo, que permita a fixação destes bombeiros.
Como Município, não podemos olhar de lado para estas dificuldades e temos de ter um papel cada vez mais interventivo, porque estes operacionais têm uma grande responsabilidade sobre os seus ombros, que é olhar pelas nossas populações e comunidades locais. Não podemos fazer vista grossa a essa função, mas que é uma função partilhada também por todos os eleitos com responsabilidades na gestão territorial local.
Braga é o coração do Minho. A sua localização geográfica não é importante apenas do ponto de vista da afirmação de uma identidade regional muito própria, mas é sobretudo relevante para que o concelho se afirme como líder na condução destas políticas públicas de reforço de meios dos agentes de proteção civil, de reforma do território e de proteção das comunidades locais. De nada nos deve importar sermos os protagonistas de uma região tão única como a nossa se não tivermos capacidade de liderar em tudo o que devemos liderar.
Quando olhamos para situações como as que estamos a viver, temos de ter em atenção algo muito importante. Os incêndios, tal como outras tragédias coletivas, destroem muito mais do que floresta.

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