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Os dados estão lançados

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Os dados estão lançados

Ideias

2025-01-24 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

À semelhança, creio, da maioria das pessoas, tenho na minha memória uma lista de livros que me marcaram de forma clara, por razões diversas. De entre eles, aquele cujo título faço aqui uso, porventura abusivo. Os “Dados estão Lançados” é uma obra de Jean Paul Sartre, uma peça de teatro publicada em 1947. Duas pessoas, um homem e uma mulher destinados um ao outro, mas com experiências de vida muito diversas, nunca se encontram e acabam por ser assassinados, aparentemente devido a um possível erro. È-lhes dada então a possibilidade de voltarem a viver, dentro de certas condições: uma nova oportunidade. Mas qual o papel do destino?
Sartre era existencialista; para ele, o ser humano constrói-se individualmente, a cada dia, num processo de construção que só acaba com a morte. Por outras palavras, o ser humano torna-se responsável pela forma como vive. Como muitos autores afirmam, para Sartre o ser humano está condenado, paradoxalmente, à liberdade. De qualquer forma, na peça de teatro de Sartre, que vale a pena ler, as duas pessoas, o homem e a mulher, acabam por descobrir que o destino é mais forte que o livre-arbítrio, em suma que a vida parece estar encaminhada para uma direção determinada. Trata-se de uma história intensa e envolvente , num pequeno livro, que vale a pena ler e reler.
Donald Trump tomou posse como Presidente dos Estados Unidos. Começou desde logo fazendo os Estados Unidos sair do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde. No primeiro caso, trata-se de um acordo assinado em 2016 de acordo com o qual a comunidade internacional reconhece a necessidade de promover a descarbonização das economias mundiais e procurar travar o aumento da temperatura média global. Este documento sobre o clima foi assinado por 196 países, e visava limitar o aumento da temperatura global ao máximo de 2ºC em relação aos níveis da era pré-industrial, prevendo ajuda aos países em desenvolvimento e indemnizações a países vulneráveis. A sua verdadeira importância reside neste reconhecimento, de que apenas com o contributo de todos é possível resolver o desafio das alterações climáticas. Mas na verdade tem sido muito difícil implementar medidas efetivas, por entre diversos tratados e reuniões internacionais. Já em 2017, no anterior mandato de Trump, os EUA se retiraram do acordo, argumentando que seria injusto para com a economia norte-americana. A posição atual de Trump reforça novamente esta posição, que se pretende que agora seja mais rápida. Note-se que os EUA são o maior emissor de gases com efeito de estufa em termos históricos. E agora com esta saída, os EUA juntam-se à Líbia, ao Irão e ao Iémen como os únicos países que ficam de fora de um acordo diplomático tão importante quanto foi difícil chegar a consenso. E o mundo continuará a ser defrontado com histórias cada vez mais frequentes de anomalias e cataclismos extremos, incêndios catastróficos, extensas inundações ou secas longas, tempestades e furações. Mas Trump aparentemente não acredita na ciência e opta pelas estratégias de curto prazo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) foi criada em 1946 no contexto das Nações Unidas. A sua génese vem da Primeira Guerra Mundial, ou até mesmo antes das guerras no final do séc. XIX. O objetivo é coordenar os esforços internacionais para combater doenças terríveis como a malária ou a tuberculose, apoiar o desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes e medicamentos. Apoia a pesquisa científica sobre doenças transmissíveis e conta para isso com o apoio de muitos reputados cientistas. Não menos importante são os programas de monitorização sanitária e campanhas de saúde, por exemplo para aumentar o consumo de vegetais e fruta. Aparentemente, Trump argumenta que as contribuições financeiras dos EUA são muito superiores às da China, e por isso sai da OMS. Claro que as implicações serão uma profunda reestruturação da OMS, traduzida seguramente em cortes substanciais e no potencial retrocesso de ganhos de décadas contra doenças infeciosas.
Mas pronto, os ganhos de curto prazo com a poupança de muitos milhões de dólares são avaliados como mais importantes do que o longo prazo. Teremos mais cataclismos e mais pandemias certamente, os Estados Unidos incluídos, mas para o alto dos 78 anos de Trump isso não deve fazer grande mossa.
E qual o papel da União Europeia? Trump instaurou já uma nova modalidade diplomática. Não é bem nova, chama-se chantagem… Ou compra mais energia aos EUA, ou terá de se defrontar com tarifas mais ou menos elevadas. E se se quiser defender, que pague a NATO, porque guerras como da Ucrânia podem afetar potencialmente a Europa mas não os EUA que estão muito longe, têm um oceano pelo meio, Trump dixit.
Os desafios para a União Europeia, confrontada com novos processos de alargamento e de reestruturação de políticas económicas e sociais, serão brutais. Os tempos mais recentes têm-nos ensinado que a atividade adivinhatória é de extrema dificuldade: um mundo inseguro e volátil. Os dados estão lançados.
No meio disto tudo, deixem-me terminar com um sorriso: a história das malas roubadas no aeroporto por um deputado é rocambolesca! Seja verdade inteiramente ou não – esperemos que não seja!

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