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Ideias
2024-07-21 às 06h00
Durante os dias de verão, muitos veraneantes dirigem-se à praia da Apúlia para desfrutar dos seus benefícios. Desde a segunda metade do século XIX, quando a frequência das praias começou a aumentar, muitas pessoas passaram a escolher esta agradável praia como destino.
A distância entre Braga e a Apúlia é de cerca de 35 km. Considerando a velocidade média de um coche, aproximadamente 7 km/h, conclui-se que uma viagem de Braga até à Apúlia demoraria cerca de 5 horas. Devido a essa longa viagem, muitos bracarenses optavam por permanecer nessa localidade durante várias semanas, aproveitando ao máximo o ambiente costeiro.
A moda de frequentar as praias acentuou-se a partir da segunda metade do XIX sendo, no entanto, as pessoas mais abastadas que o faziam. Por exemplo, a 11 de setembro de 1875 o “Commercio do Minho” noticiava que “Regressou hontem a esta cidade, vindo da Apulia, o ex.mo dr. Jeronymo Pimentel, presidente da camara municipal d’esta cidade e deputado por Barcellos”.
A 26 de agosto de 1886 “O Regenerador” referia que “Este anno nota-se n’esta praia uma concorrência extraordinária de famílias”. Destacava-se a presença do Ministro da Guerra, Visconde de S. Januário e, na “impossibilidade de dizer os nomes de todos, vão os seguintes: Viscondessa de S. Januario, Visconde de Negrellos e familia, comendador Antonio de Mendanha Arriscado…”.
Nesse ano de 1886, o Ministro da Guerra foi esperado por algumas pessoas de Esposende, que ali apareceram para tentarem obter benesses do Ministro. De seguida apareceu uma banda de música, que tocou para o Ministro, mas como “sua exc.a mal podia supportar as harmonias desferidas pelos executantes e por isso mandou-os metter a viola ao sacco”!
A 22 de agosto de 1895 a “Voz da Verdade” dava a conhecer que “Partiram para a Apulia os srs. viscondes do Castello, dr. Manuel Joaquim Peixoto do Rego e familia, Antonio Santos de Azevedo Magalhães e Manuel Ignacio da Silva Braga”. Também a 18 de agosto de 1898 a mesma fonte refere que “Partiu para o seu palacete da Apulia, com sua exc.ma familia, o snr. visconde do Castello, distincto professor do lyceu e seminário”.
Desde o século XIX até hoje, a Apúlia tornou-se um dos destinos preferidos dos bracarenses. A combinação da sua agradável praia e o ambiente costeiro atraiu e continua a atrair veraneantes, que aproveitam as belezas naturais e os benefícios desse local. Em 1894 foram publicadas quatro cartas, no “Commercio do Minho”, de um bracarense, que retratam bem a importância que esta praia tinha.
Na primeira carta, escrita a 26 de agosto de 1894, na Apúlia, e publicada a 30 de agosto desse ano (“Commercio do Minho”) o autor, que assina com “M.I.”, começa por referir que Apúlia é uma “aldeiazinha branca como açucena, airosa como um lyrio, fresca como uma madrugada e alegre como um bando de cotovias”. Refere ainda que está situada entre “o grave e sisudo Fão e a viva e irrequieta Povoa de Varzim, parece uma ilha escondida no centro das vagas oceânicas”.
As noites em Apúlia, nessa altura, apresentam uma escuridão imensa, pois as ruas ainda não eram iluminadas. Então, as famílias recolhiam-se às casas e, enquanto a criada preparava o jantar, que incluiu as fatias de pão doce das Necessidades, os elementos da família divertiam-se a ouvir as melodias “apaixonadas de uma guitarra habilmente dedilhada, ou o cântico harmonioso de uma canção repassada de sentimento e doçura”.
Na segunda carta, publicada a 4 de setembro de 1894, o autor lembra o dia em que partiu para Apúlia, recordando que pela “estrada fóra um interminável comboio de calhambeques e traquitanas de todas as edades, preços e feitios, que se dirigiam confusa e atropelladamente ao mercado de Barcellos”.
O carro que transportava o autor do texto era saudado pelos “Ranchos de raparigas cheias de vida e de côr, rapazes alegres e robustos enchiam o espaço com os seus descantes e risadas vibrantes e atroadoras, fazendo alas ao passar do carro que me conduzia, soltando clamorosos vivas a que eu correspondia commovido e satisfeito”.
Quando chegou à Apúlia, pelas 9h00, o autor do texto foi dar um passeio pela praia, enquanto a sua cozinheira preparava o almoço. Pelas areias brancas foi distribuindo cigarros pelos “banheiros, acto este que é, por assim dizer, a credencial que nos affiança e relaciona com estes funcionários”.
Nessa altura existia uma figura bem típica de Apúlia, o “banheiro da Apúlia, com a sua característica sobrecasaca de flanela branca e o seu capacete de oleado” que era repórter, piloto da barra, cicerone e médico, que dava as notícias das famílias importantes que chegavam e/ou partiam de Apúlia. Este banheiro de Apúlia informava sobre os melhores locais de caça e de pesca, os melhores sítios para passear, os eventuais ventos e trovoadas e ainda as horas mais indicadas para tomar banho.
Em finais do século XIX existia em Apúlia duas hospedarias, a da Capazoria e o Restaurante Borges, que forneciam diariamente casa e comida aos seus hospedes por preços convidativos. De referir que o restaurante barcelense, da Capazoria, abria em Apúlia no dia 15 de agosto de cada ano. Existia ainda um café, com bilhar, que estava quase sempre às moscas! Em Apúlia existia um talho, um mercado diário, diversos estabelecimentos de mercearia, um estabelecimento de panos e de algodão que pertencia a Inácio Fernandes Eiras.
Para além disso, existia na Apúlia excelentes casas de habitação, com boas camas, colchões e diversos utensílios de mobília. Existia ainda uma igreja paroquial e três capelas no centro da aldeia, onde os veraneantes e os locais podiam satisfazer as suas obrigações religiosas.
De Apúlia partiam duas carreiras diárias para Barcelos e para Laúndos. Tinha uma estação telegráfica e de correio, a cargo de José António dos Santos.
Na terceira carta, publicada a 8 de setembro de 1894, o autor recorda a visita que efetuou ao templo mandado construir pelo Arcebispo de Braga D. Gaspar de Bragança, em honra de Nossa Senhora do Amparo, que se celebra a 8 de setembro. Recorda que esta romaria tinha um cunho especial, pois era ali que muitos romeiros vinham “á força de exorcismos e de agua benta, se expulsavam os espíritos malignos que atormentavam o corpo humano”.
A 11 de setembro foi publicada a quarta e última carta. O autor refere que neste mês de setembro a praia de Apúlia já não apresenta o seu ambiente de tranquilidade. Agora tudo é “bulício e movimento, folguedos e descantes, danças e tocatas esturdidas”.
Nesses dias, marcados pelas romarias em honra de Nossa Senhora do Amparo e das Necessidades, o ambiente em Apúlia era intenso: rapazes e raparigas cantava as suas músicas e efetuavam as suas danças primitivas, mas alegres! O povo do Minho largava os instrumentos agrícolas e as preocupações do campo e festejavam com alegria e devoção destas festas religiosas.
Os dias de verão eram aproveitados pelas pessoas a quem a medicina aconselhava o uso de banhos do mar, como remédio para os seus males.
Era assim a praia de Apúlia, frequentada por muitos bracarenses, uma tradição que se mantém nos dias de hoje.
19 Janeiro 2025
19 Janeiro 2025
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