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Orgulho português

Voz aos Escritores

2019-06-07 às 06h00

Fernanda Santos Fernanda Santos

Ó Pátria mil vezes Santa
- Meu Portugal, minha terra
Onde vivo e onde nasci!
Na tua História me perco,
E nela tudo aprendi.
Mesmo que fosses pequena
E eu te visse pobre ou nua
- Ninguém ama a sua Pátria por ser grande,
Mas sim por ser sua!

António Botto

Aproxima-se o dez de junho. Este dia é assinalado, em democracia, como o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Portugal é um dos poucos países do mundo que dedica o seu dia nacional a uma data relacionada com a cultura e com a própria Língua Portuguesa:
Os reinos e os impérios poderosos,/ Que em grandeza no mundo mais cresceram,/Ou por valor de esforço floresceram,/ Ou de seu ser primeiro,/Os vossos deram honra e liberdade.

E foram tantos os que, como Camões, cantaram Portugal, como podemos ler nos versos de Florbela Espanca:
Meu Portugal querido, minha terra/De risos e quimeras e canções/Tens dentro em ti, esse teu peito encerra,/Tudo que faz bater os corações!/Tens o fado. A canção triste e bendita/Que todos cantam pela vida fora;/O fado que dá vida e que palpita/Na calma da guitarra aonde mora!/Tu tens também a embriaguez suave/Dos campos, da paisagem ao sol poente,/E esse sol é como um canto d’ave/Que expira à beira-mar, suavemente…
Celebrar o Dia das Comunidades Portuguesas é ter memória e reconhecimento na voz. É ter respeito pela nossa terra e pelas nossas gentes. Gentes que foram forçadas a partir.
Várias são as causas que, ao longo do tempo, têm levado as pessoas a emigrar. As más condições de vida no país de origem têm sido a principal causa. Contudo, importa assinalar que também algumas circunstâncias têm determinado a necessidade de emigrar como, por exemplo, perseguições de natureza política, a falta de liberdade de expressão, a guerra nas antigas colónias e as práticas sociais dominantes que levaram à fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.

Este fenómeno afetou as regiões do Minho, de Trás-os-Montes e da Beira - Alta, de onde partiram os maiores contingentes de emigrantes, não só em direção ao Brasil, mas também, já durante a segunda metade do século XX, para a Europa, nomeadamente para França, tendo várias consequências a nível nacional. Entre elas, o processo de crescimento urbano e industrial e o aumento dos movimentos da população com destino aos principais centros urbanos agravando, desta forma, o processo de desertificação do interior.

A emigração portuguesa foi sempre um fenómeno familiar. Inicialmente partiam os homens, para criarem depois as condições necessárias para a família se juntar a eles. Emigravam por um projeto de família, que podia ser desde o construir uma casa até à preocupação de poder dar aos filhos condições de vida diferentes das que tinham em Portugal. O emigrante português, no seu perfil mais clássico, partia para outro país para angariar dinheiro para o futuro, pretendendo sempre regressar a Portugal quando cumprido o seu objetivo. No meio de um ambiente estranho, os pais sentiam que tinham de dar aos seus filhos uma identidade portuguesa e transmitir-lhes a cultura do seu país de origem. Assim, tudo o que fosse português, desde o folclore até às especialidades culinárias ganhou especial destaque nas comunidades portuguesas.
Manter viva a relação com Portugal passou a ser tarefa prioritária. Neste ponto, há que sublinhar o interesse dos pais e o seu empenhamento em muitas associações pela criação e desenvolvimento dos cursos de língua portuguesa.

A família portuguesa tendeu sempre a acentuar o aspeto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de integração. Procuraram sempre manter uma unidade cultural, que os impediu de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança e o desejo de regressarem ao seu país de origem. A família sentia obrigação na conservação de valores de uma sociedade que já não existia: uma sociedade de um Portugal rural, interior, fechado e conservador. Outra das características destas famílias emigrantes era a falta de vontade dos filhos dos emigrantes de prosseguirem os estudos. A dificuldade com a língua do país de acolhimento era uma das causas imediatas. Até à década de oitenta/noventa o emigrante abdicava de uma vida com dignidade no país de acolhimento.

Da emigração portuguesa durante o estado novo para França, por exemplo, tinha-se uma visão sobranceira, como se pode ler no Diário de um Parisiense, 1969:
“São esquisitos, baixos e com bigodes e barbas. Chegam, na esmagadora maioria, homens. Elas, quando vêm, cobrem os cabelos com panos e não usam saia acima do joelho. Muitas são proibidas pelos maridos de cortarem o cabelo. Por vezes, eles ameaçam-nas com uma chapada ou um murro; elas, subservientes, baixam a cabeça e colam as mãos ao ventre. Trazem com eles uma paixão fervorosa pela religião. Usam colares com o símbolo das suas crenças e são capazes de dar mais do que têm para que o seu local de culto, na sua terra natal, tenha um relógio ou um telhado novo. Chegam sem falar uma palavra da nossa língua. Parece que fogem de uma guerra qualquer lá no país deles, da fome e da miséria. Não. Fogem em vez de defenderem o seu país e lutarem por uma vida melhor lá, na terra deles, vêm para aqui sujar o nosso país com a sua imundície. Atravessam países inteiros a pé ou à boleia para chegarem aqui. Pagam milhares para saírem do seu país e vêm ficar na miséria. Alguns têm muitos filhos, muito mais do que aquilo a que estamos habituados. Deixam-nos sozinhos ou com os irmãos mais velhos, que não vão à escola. Mas são muito trabalhadores. Bem, na verdade, não roubam exatamente o nosso trabalho, porque aqui há leis que não nos permitem trabalhar dezoito horas diárias, embora isso exista e dê jeito a alguns patrões. Não são muito limpos, cospem para o chão e as suas maneiras em público deixam muito a desejar. Vivem em bairros de lata que mais parecem campos de refugiados. Não sei como conseguem. Se é para viverem na miséria, mais valia ficarem na terra deles.”

Felizmente, esta atitude tem-se alterado, principalmente porque o tipo de emigração e as suas motivações também se alteraram. Se o projeto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família se deu conta que esse projeto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado. A redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de trabalho remunerado.
Uma certa integração que o tempo e os contactos sociais acabavam por provocar levou a repensar a relação com Portugal.
Quando uma crise de refugiados sírios se alastra pela Europa e a chegada maciça de brasileiros ao nosso país é uma realidade inegável, importa esclarecer os nossos leitores sobre quando os “refugiados” éramos nós, os portugueses.
Hoje, e ao som de “Para os Braços da Minha Mãe”, de Pedro Abrunhosa, uma espécie de hino dos emigrantes, teremos de relembrar e aprender com a nossa história.

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