“10 palavras no caminho? Apanho todas. Um dia construo uma ponte.” HUMOR
Ideias
2016-04-15 às 06h00
Afectuosamente ou nem tanto, debruçar-nos-emos hoje sobre o Senhor dos Afectos e o Senhor dos Aflitos (escrevemos com maiúsculas por assim nos merecer o respeito e o justificar a divindade do último), já que nos faz evocar com certa nostalgia e saudade a nossa aldeia natal (hoje abrilesca e pomposamente projectada como vila e também com rotundas !...), e o vetusto cruzeiro do Senhor dos Aflitos localizado num largo junto da escola aonde iam dar a volta todas as procissões.
Respeitado como um símbolo de fé, de piedade e de devoção, erguia-se tal cruzeiro num recinto aberto protegido por um telhado sustentado por quatro pilares, aí se abrigando e assomando uma cruz assente num pedestal que encimava dois degraus de acesso, aliás um género de altar aberto que apenas tinha a resguardá-lo de qualquer vandalismo um gradeamento prateado. E como símbolo da fé e da devoção das gentes locais, nunca lá faltavam flores e até algumas velas, uma e outra mesmo acesas, numa respeitosa adoração e afecto do povo a tal local de refúgio e de esperançoso conforto para as muitas aflições do dia a dia da vida.
Era o Senhor dos Aflitos, a quem muitas das vezes se recorria, de todo em todo deixando extravasar e projectar todo um respeito, o afecto, o amor e a esperança das gentes mais amarguradas e aflitas. O que, refira-se e sublinhe-se, hoje nos faz evocar e de certo modo nos transporta para o actual senhor de Belém (não tem nada a ver com a Palestina nem com o outro Senhor...), que, pelo que se diz e o próprio insiste, dá primazia e importância vital ao mundo dos afectos e assim publicamente se projectou, sendo por muitos reconhecido ou tido como tal, tão só se aguardando actos que o concretizem no dia a dia do país. O que, diga-se, na vida política será sempre muito difícil, questionável e até problemático porque nas lutas partidárias e nas querelas do poder e seus anexos os “afectos” acabam por rapidamente se volatizar e desaparecer em todas as suas efemeridade e instabilidade, surgindo naturalmente os “amuos” e os “desafectos”, aliás sempre muito condicionados por circunstâncias e interesses do momento.
Aliás, no momento actual em que “o bom senso é um sem-abrigo”, como se conclui no Banana Split do C.M. de 5.4.16, é bem necessário que o Senhor dos Afectos se transmude e se transforme urgentemente em Senhor dos Aflitos e tenha a coragem de tomar e de assumir atitudes de amparo e de refúgio para todos os amargurados deste país, e que muitos são, designadamente os que vêm dolorosamente suportando as loucas despesas do Estado e as não menos loucas e utópicas ideias dos políticos, pagando impostos gravosos, assistindo a todo um agravamento da situação e do custo de vida e sofrendo na carne todas as suas aleivosias e maldades.
A que se aliam todas as manhosices, burlas e matreirices dos banqueiros e seus apaniguados, aliás uma classe ou um “tipo” de gente, com quem, diz-se, se teve ou ainda se tem um certo e muito especial relacionamento de íntima proximidade, amizade e companheirismo, ainda que muito “salgado” em todos os sentidos. E se, como disse Catarina Martins, a conhecida e famosa “inteligência” falante, ”«o bom senso não mora há muito» no PSD”, “como também não mora no Bloco (...) e tão-pouco mora no PS ou no PCP” (id.) a grande realidade é que assiste toda a razão ao Banana Split quando assevera, afirma, cara-cteriza e qualifica “o bom senso” como um sem-abrigo, aliás uma triste e dolorosa realidade dos dias de hoje e da nossa comunidade porquanto há muito deixou de “existir” e de ter “residência” na cabeça da nossa classe política e de muitos outros figurantes da vida pública. E como “um sem-abrigo” que naturamente é, é de se esperar que o Senhor dos Afectos o distinga e lhe dedique toda uma preocupação, carinho e afecto e o acolha em Belém, dando ao “bom senso” uma moradia segura, firme e confortável que proteja tal “sem-abrigo” das tempestades e dos vendavais dos tempos que se aproximam.
E se esse tal “sem-abrigo”, “o bom senso”, for acolhido em Belém com todo um afecto, ternura, inteligência, real sentido de Estado e consciência das responsabilidades que se desejam é indubitável e incontornável que os aflitos deste país, e que muitos são, se irão sentir menos amargurados, mais seguros, mais esperançosos e mais confiantes no futuro e em melhores dias.
Dir-se-á que tudo isto não passará de uma simples quimera e de um mero e irrealista sonho, mas neste momento actual de “gerigonças”, “despeitos”, de “esgrouviadas” ideias e de utópicas e loucas “projecções” de ficcionadas realidades, importará ter esperança e acreditar que o Senhor dos Afectos, se não tergiversar nem “trambicar”, será capaz de cuidar e de zelar por todos os amargurados e sem-abrigo deste país, que somos afinal todos nós, portugueses, que desde há muito vimos vivendo apenas de promessas e de “questionáveis” experiências democráticas, sempre lutando pela sobrevivência e ... por manter bem viva a nossa inteligência e toda uma sanidade mental .
E já que acolheu em sua morada o “Asa”, a quem muito naturalmente irá também dar atenção e o seu afecto, seria óptimo que de igual modo, “afectuosamente”, sem quaisquer estruturais ou conjunturais malabarismos, jogos de palavras ou de raciocínio, acolhesse nas suas gestão e orientação do poder e de vida todos os sem-abrigos e amargurados da democracia, minorando-lhes as suas aflições, resolvendo os seus problemas, oferecendo refúgio e dando-lhes conforto e segurança. Transformando-se assim num verdadeiro e fiável Senhor dos Aflitos já que “os afectos” pouco ou nenhum significado e valia terão se à proclamada afectividade não corresponderem obras, atitudes e acções em concreto onde “more” o “bom senso”. Até porque já começam a rarear os cruzeiros do Senhor dos Aflitos nos caminhos e na vida deste país, cada vez mais a afundar-se numa generalizada crise de valores, de princípios, de ética, e numa manifesta “quebra” de uma tradição ancestral, de morigeração de costumes e... de bom senso.
26 Janeiro 2021
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