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O robô ideal

Ettore Scola e a ferrovia portuguesa

O robô ideal

Escreve quem sabe

2024-02-26 às 06h00

Álvaro Moreira da Silva Álvaro Moreira da Silva

No artigo publicado anteriormente, debrucei-me sobre os diversos tipos de inteligência de Gardner e, mais concretamente, sobre a inteligência emocional de Goleman e Damásio. Desafiei o leitor a refletir sobre até que ponto a inteligência artificial seria capaz de replicar, com autenticidade, as emoções e aprender um conjunto de habilidades sociais, tantas vezes inatas e tão características do ser humano.
Do ponto de vista científico, vários foram os autores que tentaram definir a inteligência emocional. Salovey e Mayer (1990) afirmaram tratar-se de uma habilidade mental, mais especificamente como uma subforma de inteligência social que envolve quatro capacidades: a perceção cuidada das emoções - reconhecer diferentes emoções, em si e nos outros, e expressá-las socialmente; o uso da emoção para facilitar o pensamento, a criatividade e a resolução de problemas – conectividade e interação constantes entre pensamento e emoção; a compreensão das emoções - capacidade de identificar emoções, atribuir-lhes significados, reconhecer a origem e o seu impacto e, por fim, a gestão emocional – ser capaz de gerar emoções de polo positivo, por exemplo alegria, e diminuir as de polo negativo, por exemplo raiva.

Depois deste enquadramento, tento imaginar o robô ideal, capaz de executar tarefas de forma autónoma, de aprender e acrescentar valor às aprendizagens anteriores, para além de as memorizar e aplicar no futuro. Para mim, um robô ideal teria de ser capaz de expressar e gerir as suas emoções de forma genuinamente inteligente, manifestar os seus sentimentos, bem como auxiliar e colmatar lacunas na nossa sociedade em áreas com défice de profissionais ou altamente exigentes. Acreditar que as máquinas possuem capacidades emotivas, da mesma forma que os humanos, é roçar os limiares utópicos da ficção científica. As máquinas, podem apenas ser treinadas para simular emoções. O ato de sorrir, chorar ou até abrir a boca de espanto, por exemplo, pode perfeitamente resultar de um modelo estatístico bem treinado. Muito embora o facto de conseguirmos que a máquina expresse um valente sorriso, fisicamente, não significa que a mesma sinta felicidade, tal como um ser humano. Tudo isto não invalida que reconheçamos o seu impacto positivo na interação com o outro.

Hoje leio sobre Elon Musk e as suas mirabolantes ideias em redor de robôs humanoides, nomeadamente da nova geração do Optimus. Tal como este robô da Tesla, encontro outros como Sophia, Cruzr, Replika, Mitra e até Pepper. Mitra, por exemplo, procura acompanhar e ajudar os clientes dentro de uma loja. Utilizando tecnologia para reconhecimento facial, processamento de linguagem natural e reconhecimento de voz, este robô não só responde a quaisquer dúvidas, como também guia os clientes pelos corredores, aumentando a satisfação e experiência dos mesmos. Na área da saúde, Pepper, interage com pacientes idosos, procurando reduzir os seus momentos de solidão e aumentando o seu bem-estar social. Nesta área muito sensível, os robôs têm o potencial de fornecer suporte essencial, reduzindo a carga diária exercida sobre os variados profissionais e melhorando de sobremaneira a qualidade de vida dos pacientes. Curiosamente, este tipo de máquina «aprende» à medida que os doentes passam mais tempo com elas, ajustando e personalizando o seu comportamento.

Se é um facto que a revolução do mundo da robótica e a procura de máquinas aparentemente mais emotivas e inteligentes abre um incrível leque de possibilidades vantajosas, revolucionando vários domínios da nossa sociedade, é certo que este novo mundo poderá ter um efeito reverso. Será que estes robôs, quem sabe, se tornarão em novos monstros de laboratório tipo Frankenstein, capazes de destruir o seu próprio criador? Ou serão poderosos instrumentos para a nossa evolução como sociedade, com maior ou menor capacidade de simular o nosso comportamento?

*com JMS

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