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O que é a solidão?

A responsabilidade de todos

O que é a solidão?

Conta o Leitor

2020-07-01 às 06h00

Escritor Escritor

Por Pedro António Cardoso


Quando acreditamos que amamos alguém e somos amados da mesma forma, rejeitamos sempre a possibilidade de um dia nos sentirmos sós. O que não é de todo verdade... O amor e a solidão são dois sentimentos que andam de mão dada e, inúmeras vezes se unem para nos enganar, nos confundir, nos baralhar.
Um dia conheci uma mulher. Linda, jovem e independente, soube que iria amá-la com a certeza absoluta de que me faria feliz até ao fim dos meus dias. Nós, os seres humanos temos a faculdade de criarmos ilusões na nossa mente e acreditarmos que o que queremos para nós, é o mesmo que queremos para a pessoa que amamos. Construímos uma relação dia a dia, tentando perceber se os sonhos e objetivos que temos se encaixam um no outro, à medida que nos vamos conhecendo. Limamos arestas e cedemos muitas vezes, na esperança de que "as pedras no caminho" não sejam obstáculos, mas tão só oportunidades de os podermos resolver. Ou contornar...

E depois, vamos ganhando confiança e vivendo. Até que, um dia, um sinal de alarme toca na nossa cabeça e, mesmo não percebendo que alarme é, sentimos que ele está lá! Tentando entender, vamos olhando com mais atenção para pequenos nadas, ridicularias mesmo, que até ali não dávamos importância nenhuma e, queiramos ou não, a dúvida instala-se. Quase sempre, acabamos por sentir que, afinal, o que nós desejávamos não é o mesmo que a outra pessoa deseja; que os sinais que vamos dando já não são suficientes, que não adianta tentarmos ser "perfeitos" em pormenores que o outro tem como adquiridos ou certos, pois não consegue entender. Óbvio... e, num abrir e fechar de olhos, começam as cobranças, as desconfianças, uma mensagem na hora errada, os "espíritos santos de orelha" que nos vão buzinando aos ouvidos palavras que sempre as soubemos, porém sempre as desvalorizávamos. A partir daí, entra-se num espiral de silêncios que berram mais alto que gritos, de amuos, de argumentos líricos de que estamos cansados, ou não tomamos banho, inventamos desculpas sistemáticas para evitarmos estar a sós, na intimidade, precisamente com a única pessoa com que queríamos estar. Nesse dia, percebemos que a sintonia que imaginávamos ter, os mesmos prazeres, a mesma liberdade, a mesma "música", não eram mais do que ilusões só da nossa cabeça! E sentimos-nos sós...

A solidão é um sentimento doentio, que se vai alastrando na nossa mente como metástases num corpo canceroso. Cria-nos uma sensação de angústia, de desespero, de desânimo. Fechamos-nos no nosso mundinho, achando sempre que a responsabilidade não é nossa e, tentando misturar as emoções, procuramos a companhia de outras pessoas, aceitamos convites para isto e para aquilo, fazemos coisas que já conhecíamos antes, mas das quais nos tínhamos afastado, pela simples razão de que não era isso que queríamos. Queríamos só conhecer alguém que amassemos de verdade e que nunca nos sentíssemos sós!
Facilmente se confunde estar sozinho com sentir a solidão. Estar sozinho, que muitas vezes é uma opção, não significa sentir-se sozinho. À distância de um telefonema, um almoço ou um jantar com a família, colegas e amigos, raramente se está sozinho. Sentir-se sozinho é algo bem diferente... é estarmos no meio de uma imensidão de pessoas que até conhecemos e sabemos que gostam de nós, e sentirmos a falta da única pessoa que queríamos que estivesse lá, e não está! E essa falta, que nem tem que ser presencial, faz-nos sofrer, pois temos a capacidade de perceber que não é pelo facto de a pessoa que amamos estar ou não ao nosso lado num ou noutro determinado momento importante para nós, mas sim por percebermos que nós já não estamos dentro dela! De sentirmos que já não somos amados, adorados e desejados como sentíamos antes. Que a pessoa que amamos já não sente a nossa falta, que existirmos ou não na vida dela já não é tão fundamental como dantes, que uma palavra meiga, um sorriso, um gesto de carinho nosso já não têm significado...
Nesse dia, sentimos-nos profundamente sós...

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