Na minha primeira crónica deste novo ano, 3 de janeiro de 2023, elenquei palavras relativas à postura do professor, de A a Z, e à importância do tipo de relação pedagógica que estabelecemos. Desde essa crónica e até julho aprofundaremos as diferentes palavras de A a Z, pela mesma ordem apresentada: a do alfabeto português, atualizando e referenciando os momentos mais marcantes da vida da escola, no presente, na atualidade, no “agora”. 

I – INTELIGENTE: “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo.” Arthur Schopenhauer. E o tempo é precisamente o que hoje o professor tem pouco. Tempo para estudar as matérias que leciona e a forma como as transmite. O professor inteligente é aquele que possui um vasto conhecimento sobre o assunto que leciona e sabe transmiti-lo de maneira clara e acessível aos alunos. Segundo o filósofo francês Michel Foucault, e já lá vão tantos anos, o professor inteligente não é aquele que apenas transmite informações, mas sim aquele que sabe despertar a curiosidade e o interesse dos alunos pela matéria (Foucault, 1980). Alguns estudos apontam que professores com maior inteligência cognitiva e emocional podem ser mais eficazes em transmitir conteúdo e em atender às necessidades emocionais dos alunos, o que pode resultar em maior satisfação e melhor desempenho académico. Acima de tudo, para além da necessária inteligência cognitiva, o professor tem de ser capaz de explicar melhor os conceitos mais complexos e de criar estratégias de ensino mais eficazes para os alunos com diferentes níveis de conhecimento. Reafirmo o que dizia Foucault: despertar a curiosidade e o interesse dos alunos pela matéria – o “princípio ativo” do professor inteligente.

J – JOVIAL: é alegre e expansivo. Demonstra alegria, bom humor, boa disposição, felicidade.
O professor jovial é aquele que tem uma atitude positiva e descontraída na sala de aula, o que ajuda a criar um ambiente de aprendizagem mais descontraído e agradável para os alunos. Ele sabe usar o humor e a empatia para se relacionar com os alunos e transmitir o conteúdo de maneira mais leve e atraente (Nunes, 2015). A jovialidade (e não necessariamente idade jovem) está positivamente relacionada com a motivação e empenho dos alunos na aula. Os professores que apresentam um comportamento mais descontraído e alegre são capazes de criar um ambiente mais acolhedor e motivador para os alunos. Mesmo nos alunos mais velhos, estes tendem a avaliar melhor a aula quando os seus professores apresentam um comportamento mais alegre e afável. Sei que nos tempos que correm, a jovialidade desapareceu das nossas escolas. Os professores sentem-se desrespeitados e tristes. A tristeza que hoje atravessa as nossas escolas está a olhos vistos: professores pouco joviais, pouco alegres, muito cansados e velhos (não necessariamente na idade, mas também)! O que implica uma escola triste, desmotivada, cansada, … o oposto da palavra “escola”, que significa "lugar de lazer", "tempo livre" ou "descanso". Na Grécia Antiga, a "skhol?" era um espaço dedicado ao estudo e à aprendizagem, mas também era considerado um local de ócio, onde as pessoas se podiam dedicar a atividades intelectuais e culturais sem se preocupar com suas obrigações quotidianas. Que longe estamos desta escola!

L – LIDER: a liderança que cumpre o seu maior objetivo - o desenvolvimento do potencial de cada um dos seus alunos. Aqui uma ressalva também para os líderes escolares: aqueles que deveriam desenvolver o potencial de cada um dos seus colegas. E tão difícil tem sido esta tarefa. Lideranças autoritárias, lideranças abusadoras, lideranças que se afastam dos seus colegas, dos seus pares… Um estudo publicado na revista "Journal of Educational Administration" mostrou que os professores que exercem uma liderança pedagógica efetiva são capazes de promover o desenvolvimento profissional dos demais professores de sua escola. Os autores afirmam que os professores líderes são capazes de inspirar os seus colegas e de fomentar uma cultura de aprendizagem e de troca de conhecimentos dentro da escola. Inspiração versus Imposição. Temos tão poucos líderes escolares inspiradores… e tantos dos outros… Mas vamos ao que importa. O professor líder na sua sala de aula. Aquele professor que se importa verdadeiramente com o desenvolvimento da criatividade e da inovação dos seus alunos. Os professores que assumem um papel de liderança na sala de aula são capazes de incentivar os alunos a pensarem “fora da caixa” e de se envolverem em projetos criativos e inovadores.

M – MAESTRO: lidera com a sua batuta, tem entusiasmo, é contagiante e termina sempre com um grande final. Tal qual como uma peça de música. Assim como um maestro, o professor também precisa ter uma batuta, que é o instrumento que o ajuda a conduzir a orquestra. Essa batuta é o conhecimento que ele tem sobre a matéria que leciona, a sua experiência e habilidade em lidar com os alunos e a sua capacidade de os motivar e inspirar. O professor maestro sabe como usar a sua batuta para conduzir a aprendizagem dos alunos, de forma a maximizar o potencial de cada um e criar um ambiente de aprendizagem animado e inspirador. Inicia suavemente, em adagio, vai aumentando de dificuldade ao longo do tempo, em allegro, acelera, exige rapidez, em presto, para logo de seguida acalmar, silenciando, em allegro ma non troppo, terminando com um grande final: inclui todos, em uníssono, em harmonia, onde as emoções e aprendizagens atingem o seu auge, ponto máximo dramático e impressionante: o que foi aprendido naquela aula, naquele dia. E a batuta pode descer. As cortinas encerram e o público aplaude. Que grande aula!