Na minha primeira crónica deste novo ano, 3 de janeiro de 2023, elenquei palavras relativas à postura do professor, de A a Z, e à importância do tipo de relação pedagógica que estabelecemos. Nestes próximos artigos aprofundaremos as diferentes palavras de A a Z, pela mesma ordem apresentada: a do alfabeto português, atualizando e referenciando os momentos mais marcantes da vida da escola, no presente, na atualidade, no “agora”.
A – ATIVISTA: empenha-se profundamente na defesa dos seus alunos, porque reconhece os seus direitos.
Hoje, mais do que nunca, a defesa da escola pública está nas ruas, nas manifestações, nos protestos, nas greves. Os professores, finalmente em uníssono, tornam-se ativistas porque empenhados na defesa dos seus alunos. Todas as profissões ligadas à educação, pretendem acima de tudo cumprir com o seu desígnio: o superior interesse das crianças e dos jovens. E é este superior interesse, no reconhecimento deste seu superior interesse, que a nossa atuação se situa. Ao reconhecer o superior interesse da criança partimos para as soluções, estabelecendo os seus direitos, por exemplo. E por isso o professor luta, revolta-se, manifesta-se, contra um sistema que se diz de inclusão e não é, contra um sistema que se diz universal e não é, contra um sistema que se diz defensor da escola pública e não o é. Não, não e não.
B – BRILHANTE: por onde passa, a sua luz é o reflexo da luz dos seus alunos. Ele não é o astro (os seus alunos, sim) mas antes o seu satélite.
Tão bom pensarmos que somos uns bons satélites. De puro reflexo. Por isso sabemos tão bem a real importância de conhecer um a um, todos os alunos das nossas salas. Que será possível quando tivermos turmas com um número baixo de alunos, quando os professores lecionarem em poucas turmas, quando lecionarem poucos níveis de ensino por ano escolar, quando constarem do seu horário tempos letivos direcionados a alunos com dificuldades e que precisam de um acompanhamento individual. Sim, individual. O apoio em pequenos grupos e dentro de sala de aula é completamente ineficaz. Há tanta investigação na área da psicologia completamente esquecida pelas ciências da educação que nos faz cair em tantas “boas intenções”, que hoje, ofusca o brilho dos nossos alunos. Estamos em constante eclipse lunar. Em que a Terra (o “sistema escolar”) se coloca entre o sol (os nossos alunos) e a lua (os professores). Assim, não. Não conseguimos refletir a luz dos nossos alunos. Estamos ofuscados por um sistema escolar que esse sim, está em eclipse solar: o sol só vai brilhar quando os professores saírem da frente, por isso o sistema escolar vai mesmo ter de mudar a sua rota. Para que o eclipse se vá, e possamos todos refletir a luz dos nossos alunos: brilhando.
C – CONHECEDOR: detentor de conhecimento curricular e essencialmente das estratégias impactantes, das estratégias com intencionalidade pedagógica.
E aqui me atento: na divulgação de um programa que coincide com o título deste artigo. O AaZ – Ler Melhor, Saber Mais. Ajuda crianças do 1.º e 2.º anos de escolaridade com dificuldades na alfabetização básica a desenvolver as suas capacidades de leitura e escrita. A intervenção segue um modelo de tutoria regular e sistemática, em regime individual, centrado nas competências básicas (descodificação, velocidade e expressividade). O programa é desenvolvido em parceria com a Universidade do Minho e conta com a colaboração de especialistas e peritos que apoiam a intervenção de uma equipa de professores-tutores em mais de 30 escolas do país. Um programa de intencionalidade pedagógica, partindo dos seguintes pressupostos: A leitura e a escrita são fundamentais para toda a aprendizagem escolar e para a vida em sociedade; Ler não é um ato natural, é um ato social. É uma habilidade complexa e difícil de aprender; A intervenção nesta área deve ser atempada, intensiva, sistemática e estruturada. Pretende assim: Evitar que as dificuldades iniciais com a leitura e a escrita se transformem em dificuldades crónicas; Permitir que os alunos encarem a leitura, não como algo de penoso, mas como um instrumento de obtenção de conhecimento e saber; Permitir que os alunos se aproximem do nível geral da turma, em termos de leitura e escrita; Fazer com que os alunos leiam com velocidade, precisão e expressividade adequadas à idade; Desenvolver nos alunos, progressivamente, a motivação para a leitura. E é individual, ou em pares, 2 alunos, que se encontrem exatamente no mesmo nível de competência básica de leitura e escrita, com 3 a 5 sessões semanais de 45m cada, e termina quando o aluno alcançar um desempenho próximo da média da turma. Subscrevi a newsletter da “Iniciativa Educação” que tem excelentes artigos.
D – DINÂMICO: não deixa acontecer, antes faz com que aconteça. 
É o professor que não fica à espera, já fez. É o professor que espanta, que leva a aprender. É o professor que expõe, que conta histórias, que traz o novo. “É o professor que improvisa onde os outros se limitam a repetir” (Reboul).
E não há maior dinamismo que aquele que resulta da competência.