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O preço do sargaço

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O preço do sargaço

Ideias

2023-07-17 às 06h00

Álvaro Moreira da Silva Álvaro Moreira da Silva

Chegados estes meses de calor, e depois de um suado ano de trabalho, eis que me sento, como tem sido prática recorrente, à procura de um lugar, distante e soalheiro, para usufruir do merecido descanso em família. Vasculho em agências de viagens pacotes com tudo incluído e espreito, também, em plataformas digitais de reservas, na expectativa de ser presenteado com o melhor destino ao menor preço. Numa ou noutra situação, tento efetivar a escolha com alguma antecedência. Quando não o consigo fazer, já antecipo o sentimento de frustração acorrentado ao preço exagerado ou até à falta de disponibilidade. Ano após ano, esta história repete-se. Um pequeno atraso na reserva e observo os preços a disparar para valores altamente incomportáveis. Paralelamente, sempre tive a noção de que, muito embora este padrão corresponda à realidade neste tipo de negócios altamente afetados pela sazonalidade, existem outros fatores que contribuem para que o preço se retraia, o que me leva a suspeitar da razão para tal simpatia no preço. No ano passado, por exemplo, notei um aumento da oferta para destinos como México e República Dominicana, e a substancial redução dos preços nos pacotes oferecidos. Curiosamente, e através dos noticiários, soube-se que algumas das suas praias estariam a ser invadidas por grandes acumulações de sargaço, fator que espoletou a queda abrupta do valor do serviço.
No âmbito na minha atividade profissional, sempre fui apaixonado por procurar entender o porquê de determinado preço num serviço ou produto. No retalho, em particular, tento vislumbrar e compreender quais as estratégias de precificação das grandes organizações. Uma das práticas mais implementadas num retalhista alimentar, por exemplo, baseia-se na aplicação de uma “percentagem de margem” sobre o custo unitário e demais custos estimados. Esta abordagem fornece uma fórmula simples e previsível para definir preços, cobrindo custos e ainda gerando o apetecível lucro. Tenho constatado que os preços não variam muito, entre as diversas marcas, nos produtos altamente sensíveis, daí imaginar que as almejadas margens fossem bastante menores. Para produtos menos sensíveis, por outro lado, notam-se maiores discrepâncias nos preços, com reflexo nas margens do produto.
Há imensas outras estratégias que me suscitam curiosidade, entre elas a baseada em “zonas de preço”. Uma zona de preço está geralmente associada a uma geografia delimitada de diversas formas. Por exemplo, a organização retalhista Pepco, cujos centros de distribuição não se encontram em Portugal, possui uma política de preço única por país, sendo que cada país representa uma determinada zona. Todas as lojas dentro de uma zona terão o mesmo preço de venda e os clientes que estão localizados mais perto dos armazéns de expedição, geralmente pagam um valor inferior comparativamente aos clientes que residem nas zonas mais distantes. Este procedimento considera aspetos variados, entre eles o impacto do custo de transporte da mercadoria até à respetiva localização dentro dessa zona.
Outra prática que acho curiosa é aquela adotada pelas organizações de foro tecnológico. Vejam-se os automóveis elétricos e os telemóveis, cujas marcas colocam os preços dos seus mais recentes produtos em patamares proibitivos para o cidadão comum. Este tipo de mecanismo pretende distinguir-se da concorrência, colocando o produto e a marca na vanguarda tecnológica e de inovação. Sempre que essa componente tecnológica já não seja novidade e a concorrência aperte, o preço é reduzido e passa a ser introduzida uma nova versão do produto, a um preço bastante superior. Esta técnica, cíclica, não só permite aguçar o apetite dos mais destemidos e/ou daqueles sem compaixão pela sua carteira, como tam- bém possibilita aos menos abastados comprar uma versão excelente, mas não tão recente daquela almejada marca.
Por motivos pessoais este ano as minhas férias serão no meu país. Felizmente, planeei tudo com a devida antecedência conseguindo, por isso, um preço “dinâmico”, mas justo, evitando dissabores. Se o leitor costuma procrastinar nesta matéria, então sugiro-lhe que comece imediatamente a sua pesquisa. Caso contrário, poderá ter de desembolsar uns euros a mais ou contentar-se com os mantos de sargaço da bela praia da Apúlia.
*com JMS

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