As emoções no outono
Ideias
2024-09-04 às 06h00
Braga é terra de história, tradição e identidade. Por si só, a cidade tem uma panóplia de possibilidades para traçar o presente e o futuro das suas ambições culturais. Se falarmos em aliar esta identidade tão própria às dinâmicas da região minhota em que assentamos e lhe juntarmos a nossa capacidade de bem fazer, as possibilidades tornam-se infinitas. Infelizmente, não é o que está a acontecer. Porquê?
Em primeiro lugar, numa altura em que estamos a meses de Braga ser Capital Portuguesa da Cultura, é incompreensível perceber que não houve preocupação em intervencionar e reabrir alguns dos equipamentos culturais. Estes equipamentos, cada um na sua medida, ajudam a preservar a nossa memória coletiva. Sem eles, estamos a dar um sinal a quem aqui vive e a quem nos visita que essa memória não interessa.
O Museu da Imagem, assente numa das torres da antiga muralha medieval, continua encerrado sem previsão de reabertura. Quem podia anteriormente contemplar um acervo fotográfico riquíssimo da região, agora contempla portas fechadas.
A Casa dos Crivos, ou das Gelosias, é outro exemplo de património arquitetónico esquecido. Classificado como Imóvel de Interesse Público, neste momento não pode ser visitado porque se considerou que não era importante fazer a sua manutenção em tempo útil.
Se viajarmos ainda mais para trás no tempo, vemos que um dos poucos exemplares que temos de arquitetura medieval na cidade também não pode ser contemplada por quem passa ou vive na nossa cidade. A Torre de Menagem continua sem esperanças de dias melhores e, aqui, a história continuará por contar.
Passei apenas por alguns exemplos de património e equipamentos culturais que não são uma prioridade para este Executivo e que não entram nas contas da dinamização cultural prometida desde 2013.
Porém, não deverá haver questão mais insultuosa para a cidade a este nível como aquela que rodeia o projeto para o cinema de São Geraldo.
Prometido como o projeto que daria uma nova centralidade cultural à cidade, o São Geraldo tem sido um buraco financeiro para o Município sem ganhos culturais. Foram gastos, em sete anos, cerca de 800 mil euros em rendas num espaço que não foi até agora requalificado e que não tem para si um projeto para os bracarenses. Um desnorte completo nas ideias desta coligação para a cultura.
Noutra perspetiva, não pode deixar de se assinalar algumas iniciativas culturais que, reconhecidamente, têm sido bem-sucedidas. Na sua maioria pertencentes ao legado socialista. É o caso da Noite Branca, que iremos voltar a testemunhar muito em breve, da Braga Romana ou das Festas de São João, festividades que trazem à cidade milhares de pessoas e que têm o potencial de atuar como dinamizadores da economia local.
Mas quando desenhamos políticas culturais para um território, temos de ser capazes de pensar além dos grandes eventos, porque há muito mais que pode ser feito se tivermos a astúcia de analisar bem a identidade do território e congregar esforços com todos os atores locais e regionais. É esse olhar que tem faltado a Braga.
A diversificação e a modernização da nossa oferta é um cenário em que temos de apostar desde já. Sem olharmos para a cultura de uma forma transversal, perspetivando cenários para diferentes públicos, com diferentes gostos, corremos o risco de ficar para trás num caminho que tem cada vez mais competição, porque não somos os únicos a querer atrair residentes e visitantes.
Diversificar a nossa cultura significa que possamos olhar as tradições e a religiosidade sem esquecer formas contemporâneas de expressão artística. Significa olhar para as nossas gentes e identificarmos oportunidades como parceiros ativos de todas as comunidades promotoras de iniciativas culturais, mesmo que dirigidas a audiências mais pequenas, mas sem por isso terem menor relevância.
Modernizar significa olhar para o que temos e adaptar, com esforços criativos de investimento, a nossa oferta cultural aos tempos modernos, com um foco importantíssimo no ecossistema digital, sabendo que essas mudanças trazem novas oportunidades. Ao encetarmos estes esforços somos capazes de atrair públicos jovens e diversificados.
Enquanto capital do Minho, temos de ter a capacidade de criar sinergias com atores regionais, nacionais e também internacionais. Ao olharmos para outras cidades europeias numa ótica de colaboração, damos a conhecer Braga a outros pontos do globo e reforçamos laços que são – ou deveriam ser – inevitáveis num mundo cada vez mais globalizado e interligado.
O potencial de Braga como centro cultural está por cumprir, mas temos todas as ferramentas para o fazer. Temos posição estratégica, temos pessoas dinâmicas, temos um associativismo e um tecido empresarial fortes, temos património, história e uma identidade muito própria. Tenhamos coragem de cumprir o máximo potencial cultural de Braga e veremos uma cidade a comandar os seus próprios destinos. Não há muitas cidades no país com os ingredientes que temos para ambicionar mais do que aquilo que temos feito.
07 Outubro 2024
07 Outubro 2024
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