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O ponto de não retorno

Ettore Scola e a ferrovia portuguesa

O ponto de não retorno

Escreve quem sabe

2019-05-13 às 06h00

Álvaro Moreira da Silva Álvaro Moreira da Silva

Imagino-me piloto de um Airbus A300 em velocidade de cruzeiro, a MACH constante. Voo a 10 mil metros de altitude e cumpro metade da viagem. A partir deste momento, a quantidade de gasolina existente nos depósitos não me permite voltar atrás. Este é o ponto de não retorno. E é o momento do dilema.
O dilema de se seguir em frente, ou de voltar atrás, numa viagem ou nas diversas circunstâncias da vida, diante de um determinado objetivo, define, por vezes, um momento no espaço e no tempo de «não retorno». Se seguirmos em frente quando visionamos algo, conscientes do potencial desconhecido, do inesperado, até por vezes do abismo, somos audazes. Mas se voltarmos para trás, podemos perder a nossa identidade ao largar os nossos objetivos e os nossos sonhos. Portanto, decidir no momento e no espaço exatos, é algo fascinante onde podemos sair vencidos ou vencedores.

No retalho, tudo acontece de forma idêntica e existem decisões críticas do negócio que não podem ser tomadas de forma descontrolada. Daí advêm as tecnologias de suporte à decisão. Atualmente, a grande vantagem dos modernos sistemas de suporte à tomada de decisão é o de permitir identificar oportunidades, extraindo informação tática e estratégica sobre grandes volumes de dados brutos.
Júlio César decidiu avançar sobre Roma, atravessar o Rubicão quebrando todas as regras do antigo regime. Conta a história de então que depois desta audaz travessia se deu início ao império Romano, onde César, com excecional astúcia, superou as barreiras geográfica e política da época. Ele disse-o: alea jacta est. Com esta ação, o imperador avançou, venceu e não retornou.

Pensamos em Júlio César e concluímos que, na vida como no trabalho, não devemos ficar no limbo da indecisão, ou recuamos ou avançamos vigorosamente. Eça, quando decidiu avançar com algumas das suas obras, não tinha qualquer ferramenta de suporte à decisão a não ser os jornais e demais livros da época. Nas suas narrativas, tentou evidenciar os valores de uma época de burguesia extrema, em que a igreja tinha um papel deveras preponderante. Fê-lo, figurando com alto teor descritivo os locais e as personagens envolvidas. Que o diga o reprimido Teodorico, obcecado em avançar sobre a fortuna de sua tia beata. Ao decidir escrever o «Crime do Padre Amaro», por exemplo, já não podia voltar atrás e o impacto na igreja e preconceitos da época já era irreversível.

Tudo o que fazemos tem de ter impacto, não devemos ter medo de avançar ou recuar. Pensada uma ação, estudada toda a complexidade de um negócio, ponderados todos os contextos e consequências, situamo-nos exatamente no meio da ponte ou no meio da viagem. A decisão tem de ser célere, sob pena de morte simbólica imediata. As oportunidades não pairam estáticas, nem no tempo, nem no espaço, e quase todas são irrepetíveis. Ter a consciência do tempo intermédio, desse ponto exato em relação ao qual ou se ganha ou perde, é da máxima relevância. Se não formos capazes de avançar, melhor será viajarmos até ao Rio, não o Rubicão, sentarmo-nos em Copacabana a tocar violino, bebendo uma caipirinha aconchegante. Mas não duvidemos: as oportunidades, essas, acenar-nos-ão ao passar.
Em época de alto desenvolvimento da Inteligência Artificial e subsequente utilização em várias zonas do retalho, deixar fugir as oportunidades terá consequências gravosas para as empresas. Este é o momento exato de não-retorno: ou as empresas acompanham o desenvolvimento em IA, ou morrerão.


*com JMS

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