Correio do Minho

Braga, terça-feira

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O pilarete

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Ideias

2018-09-16 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Só por esforço denodado de vereador a tempo inteiro! Em Braga multiplicam-se os pilaretes, como pão e peixes sob o comando do Senhor. Chegou a ser ventilada justificação estapafúrdia: de que, tal como múltipla fieira de tacholas, seria para protecção de invisuais, isto porque, fruto da nova estética dos passeios, os ditos ficavam ao nível da faixa de rodagem. Meritória justificação para ferrosa excrescência – para que incauto protegido de Louis Braille não transvariasse para as faldas do macadame! Ámen!
Tempo que passa e que tudo explica, ou desmonta. Proliferam, os também designados palitos, em artéria de pisos distintos com regular desnível. Pior, em passeio de quatro corpos, duplica-se a esquadrilha de ferrinhos, seguramente para que um amblíope de bons reflexos exercite técnicas de slalom, com vista aos próximos jogos olímpicos de Inverno. Não sei se estão a ver, mas basta que passem para os lados da catedral.
Eu, cheira-me que os plantam, aos pilaretes, para que ninguém acavale viatura em passeio público, o que muito se compreende. Infracção que por vezes se aceitaria, por umas sacas que entram e que saem da bagageira de um automóvel, por um bebé que não se acomoda expeditamente na cadeirinha, por um familiar de mobilidade reduzida que demora o seu tempo a tomar assento ou a dele ser resgatado, casos de minutos em que a fila atrás se impacienta. Acasos que não se reduzem à comodidade passageira deste ou daquele. Que dizer de VMER de giratórias acesas em artéria passa-um-de-cada-vez!? Tem o seu quê de contracorrente, mas a cidade também é dos carros e dos condutores, que inevitavelmente acabam exercendo uma pressão insustentável nos reduzidos canais viários, pelos desafogos trazidos a outras ruas. Haverá alguma forma de resolver o pequeno inferno da Rua dos Chãos? Com os pilaretes é que não, suponho.
Quanto às colunelas, em si mesmas. Pois neste capítulo eu sugeriria que fossem comissionadas à Serafim Jerónimo, e não a vulgar entreposto de ferrarias importadas da China. Assim como assim, os tubos poderiam vir afinados em oitavas, com sustenidos e bemóis, artifício graças ao qual, dentro dos happenings de via pública, se poderiam organizar concertos de “tubular bells”, em despique pegado com as torres sineiras que por aqui abundam, de S. Vicente à Sé Primacial, do Carmo a Santa Cruz. Seria de encher ouvidos a adepto saudoso do Mike Oldfield. E mesmo o auto de ocasional despiste, ou raspadela de autocarro bojudo, poderia ser transcrito em folha de pauta, com tempo determinado, do Largo ao Moderato, para evitar batidas superiores a 120 por minuto.
Siga a música, e esta é ideia para ficar mais em conta do que a revitalização da Fábrica Confiança, estrutura pela qual os actuais edis terçaram armas nos idos da oposição. Quanta generosidade social, quanta oficina criativa, quanta artesania caída em desuso, não se propunha a vanguarda regeneradora da cidade instalar nesse espaço nobre, resgatado in extremis à gula imobiliária dos associados ao burgomestre deposto! Dos rendados de oratória inflamada restou a quadrícula dos buracos. Estarão mal aconselhados? Terão despedido sumariamente os bons conselheiros? Será apenas por chochice de quem cala, mais do que fala, por Circe tomado de feitiços? Ou será negócio miúdo, por uso entranhado por osmose? De todo o modo: abdiquemos de abdicar das boas ideias, e avancemos destemidamente sob a flâmula do município e dos munícipes! Por que não manter in vivo os limpos e luminosos rascunhos apregoados para tão emblemático edifício e, obra feita, suscitar invejas desenfreadas entre concorrentes? Por que não um Garnier- -Confiança Saint Victor’s Urban Academy? Ou L’OREAL? Ou Head & Shouders? Era pelo que desse mais, como bem se entende.

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