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O país dos videirinhos

Ser Dirigente no CNE - Desafios

O país dos videirinhos

Ideias

2025-03-14 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

O país está em plena crise política provocada pelo fato de o Primeiro-Ministro se recusar a dar explicações sobre a ambiguidade entre o Montenegro empresário e o Montenegro político. Não se trata, porém, de uma verdadeira crise política, mas mais de um teatro de revista em que a comunicação social vai descobrindo cada vez mais situações ambíguas. Entretanto, o Primeiro-Ministro vai-se recusando a dar respostas.
Esta crise mostra duas coisas. Em primeiro lugar, o sistema político está impregnado de relações de compadrio e conjugações de interesses que enlameiam a democracia. Primeiro, foi a evidência de que parte importante dos membros do governo está interessada na lei dos solos, já que tem negócios no setor imobiliário. Depois, foi o caso Montenegro e a sua situação pouco clara, eticamente condenável e legalmente duvidosa. O que ressalta é que o PSD pretende eleições antecipadas. Esgotado o dinheiro distribuído aos diversos grupos profissionais e ocupado o aparelho de Estado por gente da sua confiança, tem falhado a implementação de novas políticas. Veja-se, por exemplo o caso da saúde. E, por isso, ensaiou de imediato uma atitude de vitimização e culpabilização do PS, por entender que os responsáveis por precipitar eleições antecipadas serão prejudicados eleitoralmente. O espetáculo da votação da moção de confiança em que o PSD prometeu retirar a moção de confiança, em troca de uma comissão de inquérito à maneira, significou que teve acesso às ultimas sondagens que dão a vitória ao PS e que o povo privilegia a estabilidade.

No meio deste espetáculo deprimente, faço uma pergunta. Porque foi a comunicação social a levantar o problema da empresa de Montenegro? Porque é que o jornal EXPRESSO teve um papel fundamental, neste processo; a oposição andou atrás. Sendo certo que a comunicação social se vem situando, há anos, no centro-direita, apercebeu-se que o problema é bem mais grave, podendo alastrar e é oportuno parar, com o menor número de danos, para evitar o lamaçal.
Há muito tempo que se sabe que a atividade política é uma espuma que esconde interesses que passam por escritórios de advogados, autarquias e empresas. O desenvolvimento do caso Montenegro vem mostrando o que se passa nas profundezas do sistema. Inteligentemente, Montenegro quer parar o processo religitimando, como diz, a sua posição, através de eleições. Se ganhar, dirá que o povo lhe deu a sua confiança. De resto, esta seria a altura ideal porque Pedro Nuno Santos tem demorado a impor-se politicamente.
Mas quem irá ganhar as eleições? Ou, melhor, como é que os cidadãos votam? Os Estudos Eleitorais apresentam três fundamentos: identificação partidária; discussão das políticas; e carisma dos candidatos,
Por identificação partidária, entende-se a tendência de muitos cidadãos se associarem a um partido político. Ora, o PSD é o partido que tem mais militantes e simpatizantes. Além de que, na sua versão original de PPD, não tem uma marca ideológica definida, contendo, no seu ideário, mesmo soluções contraditórias. Com o tempo, foi-se transfigurando num partido catch all, com a redução do papel da ideologia, redução da importância das classes sociais, abertura a diversos interesses e e reforço dos quadros dirigentes.

Quanto ao segundo ponto, as políticas, o governo pode tirar dividendos da distribuição de dinheiro a muitos grupos profissionais.
O terceiro ponto é a personalidade do candidato, Luís Montenegro, pode não ser uma personalidade cativante, mas constitui um lídimo representante do desenrascanço e do videirismo nacional.
E, muito importante: esta situação não representa uma verdadeira ameaça para a estrutura do poder que, verdadeiramente, domina a sociedade portuguesa e que passa pelas grandes sociedades de advogados, grandes empresas e algumas figuras políticas que legitimam o sistema político.
Mas existem perigos. Desde logo, pode o povo abster-se, ou aderir a partidos populistas e a candidatos à Presidência da República que se distanciam dos partidos políticos e se apresentam como salvadores.

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