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O Papel das Redes Sociais na Escola: Entre a Divulgação Positiva e os Riscos da Exposição Indevida

Maravilhas Humanas

O Papel das Redes Sociais na Escola: Entre a Divulgação Positiva e os Riscos da Exposição Indevida

Voz às Escolas

2025-03-22 às 06h00

Artur Monteiro Artur Monteiro

Vivemos numa era em que a comunicação digital se tornou uma extensão natural da nossa vida quotidiana. As redes sociais, em particular, assumiram um papel preponderante na forma como nos relacionamos, partilhamos informação e promovemos ideias. No contexto escolar, estas plataformas digitais ganharam terreno como ferramentas valiosas para a disseminação de atividades pedagógicas, culturais e sociais desenvolvidas no seio das comunidades educativas. No entanto, nem tudo são benefícios: quando mal utilizadas, as redes sociais podem ser palco de mal-entendidos, conflitos e até de situações mais graves, que comprometem a harmonia e o bom funcionamento da escola.
A escola, enquanto espaço de aprendizagem e formação integral, realiza diariamente um vasto leque de atividades que extravasam os muros da sala de aula. Projetos interdisciplinares, campanhas solidárias e de sensibilização, iniciativas ecológicas, concursos, visitas de estudo e exposições são apenas alguns exemplos de boas práticas que, quando divulgadas nas redes sociais, alcançam uma visibilidade amplificada.
As páginas institucionais das escolas no Facebook, Instagram, YouTube e outras plataformas permitem dar a conhecer à comunidade envolvente – pais, encarregados de educação, antigos alunos, parceiros locais e até ao público em geral – as boas práticas e a dinâmica que se vive nos estabelecimentos de ensino. Este tipo de comunicação contribui para a valorização do trabalho realizado pelos alunos e professores, para o reforço do sentimento de pertença à comunidade educativa, para a criação de uma imagem positiva da escola junto da sociedade, para o envolvimento de famílias e parceiros institucionais nas atividades escolares e para a motivação dos alunos ao verem o seu esforço reconhecido publicamente.
Além disso, as redes sociais são também canais eficazes para divulgar informações úteis, como datas de reuniões, inscrições em atividades extracurriculares, concursos ou eventos abertos à comunidade. Esta comunicação, em tempo real, facilita o acesso à informação, promove a transparência e reforça os laços entre todos os que fazem parte da vida escolar.
Outro aspeto relevante é o potencial pedagógico das redes sociais. Quando bem integradas no processo de ensino-aprendizagem, estas ferramentas podem ser utilizadas para desenvolver competências digitais, estimular a criatividade e fomentar o pensamento crítico. Por exemplo, a criação de blogues, páginas de projetos ou canais educativos pode ser uma excelente forma de trabalhar a expressão escrita, a organização de ideias, a análise de fontes e a cidadania digital.
Em projetos de turma ou clubes escolares, os alunos podem participar na produção de conteúdos para as redes sociais da escola, desenvolvendo competências transversais como o trabalho em equipa, a gestão de tempo, o design gráfico ou a edição de vídeo. Esta participação ativa promove o protagonismo juvenil e prepara os estudantes para um mundo cada vez mais digital.
Apesar de todas as potencialidades, o uso das redes sociais na escola não está isento de riscos. Quando os conteúdos partilhados escapam ao controlo institucional ou quando as redes são utilizadas para fins menos nobres, podem surgir problemas sérios, com impacto direto no ambiente escolar.
Um dos principais perigos reside na utilização indevida das redes sociais por membros da comunidade educativa, seja por alunos, pais ou até profissionais da educação. Em certos casos, surgem publicações que, sob o pretexto de “denúncia” ou “opinião pessoal”, expõem situações internas da escola, criticam docentes, funcionários ou colegas, sem recurso a canais formais e sem garantias de imparciali- dade.
Estas publicações, frequentemente emotivas ou mal fundamentadas, podem gerar conflitos desnecessários e desinformação, danificar a reputação de pessoas ou da própria escola, encorajar comportamentos desrespeitosos entre os alunos, instaurar um clima de desconfiança entre os diferentes intervenientes.
É importante salientar que, numa comunidade educativa, existem canais próprios para a resolução de problemas, nomeadamente as reuniões das equipas educativas, reuniões de pais e a direção da escola. Quando se opta por expor situações nas redes sociais, muitas vezes sem contexto ou contraditório, está-se a contribuir para a degradação da confiança institucional e do respeito mútuo, valores fundamentais na educação.
Perante este cenário, torna-se evidente que a escola deve assumir um papel ativo na educação para a cidadania digital. Isto implica formar os alunos (e, quando possível, também os pais) para uma utilização responsável, crítica e ética das redes sociais. Tal formação pode ser integrada em disciplinas como Cidadania e Desenvolvimento, ou surgir no âmbito de projetos transversais e campanhas de sensibilização.
Alguns temas que devem ser abordados com regularidade são o impacto da pegada digital e da reputação online, a verificação de fontes e combate à desinformação, o respeito pela privacidade e pelo direito à imagem, a importância do discurso respeitoso e da empatia nas interações online e as consequências legais de comportamentos como difamação, partilha indevida de conteúdos ou ameaças.
As redes sociais são uma realidade incontornável do nosso tempo. Na escola, podem ser um instrumento de grande valor para divulgar atividades, motivar alunos, envolver a comunidade e enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, também trazem riscos que não podem ser ignorados.
Cabe à escola, enquanto instituição formadora, promover um uso consciente, responsável e seguro destas plataformas, estabelecendo regras claras para a sua utilização e apostando na literacia digital como competência essencial para o século XXI. Só assim será possível aproveitar o melhor que as redes sociais têm para oferecer, evitando os perigos que surgem quando a sua utilização foge aos parâmetros do respeito, da ética e da verdade.
Em suma, as redes sociais na escola podem ser tanto pontes de comunicação e valorização, como armadilhas de conflito e desinformação. O desafio está em encontrar o ponto de equilíbrio – e esse caminho passa inevitavelmente pela educação.

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