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O (nosso) sonho americano

Braga - Concelho mais Liberal de Portugal

Ideias

2016-11-07 às 06h00

Carlos Pires Carlos Pires

O Presidente dos Estados Unidos da América é considerado, com alguma razão, o “Homem Mais Poderoso do Mundo”. Não surpreende pois que as eleições para este cargo superlativo, marcadas para amanhã, dia 8 de Novembro, suscitem interesse em todo o mundo. E também não surpreende que a esmagadora maioria de pessoas em todo o mundo, na qual eu me incluo, esteja literalmente de cabelos em pé com a perspetiva de que ganhe um homem de estranhos cabelos cor de laranja ferrugenta (como o apelidou, e bem, a jornalista Clara Ferreira Alves, em crónica que assinou no Jornal “Expresso”). Entendo mesmo que, mais do que em quaisquer outras eleições norte-americanas, amanhã todo o planeta deveria votar, já que poderá sofrer as consequências do que aí vem.

E o que poderá acontecer se um ser como Trump ocupar o lugar? E como poderemos compreender o sucesso de tanta demagogia bacoca? Qual é a sua virtude, a sua força? Enfim, é altura de pararmos para pensarmos um pouco neste assustador fenómeno.
Donald Trump utilizou durante a campanha, como arma e plataforma, o medo e apelou à desesperança que muitos eleitores americanos dizem sentir - dois terços da população americana dizem que não confiam no governo e que acreditam que os Estados Unidos “estão no caminho errado”; 70% afirma temer o terrorismo ou/e a criminalidade. Aproveitando este contexto, e ao invés do que sucedeu em passadas eleições - em que o candidato mais otimista e com mensagem mais positiva fora o vitorioso (v.g. Barack Obama) -, Trump pintou um cenário de caos e trevas e vendeu-se como o candidato que iria “restaurar a lei e a ordem”. Afirmou que “o sonho americano está morto” e que só ele poderia restaurá-lo.

Aliado ao discurso do ódio, Trump oferece soluções que qualquer um entende. Afinal, as soluções fáceis são as que mais agradam ao cidadão comum, e ele sabe disso. Apresenta-se como o homem que vai expulsar os indesejáveis que atulham o mercado de trabalho, que vai pôr os chinocas e comunistas no seu lugar e que vai ainda pulverizar os terroristas islâmicos.
Razões eminentemente políticas ajudam a explicar o fenómeno Trump: desde 2007, início da crise, há um mal-estar na sociedade americana. “O verdadeiro distúrbio não é provocado por este ou aquele candidato, mas pela frustração dos americanos com a classe política, o que levou à ascensão de populistas”, afirma Simon Jackman, cientista político da Universidade Stanford, na Califórnia.

Trump é assim a face mais visível de um fenómeno mundial: a ascensão do populismo nacionalista e xenófobo. Na Europa, partidos de extrema-direita ganharam terreno em países importantes como Áustria, Polónia e Suécia. Nos países da Europa Ocidental, que historicamente vivem de uma alternância de poder entre dois partidos, uma série de movimentos nacionalistas tornou-se a terceira força política: o caso do “Alternativa” na Alemanha, do “Frente Nacional” da França e do “Movimento Cinco Estrelas” na Itália.

A globalização, com o crescimento da desigualdade nas sociedades ocidentais, está no âmago dessa insurgência, como de resto mostrou o resultado do referendo sobre a saída do reino Unido da União Europeia, o Brexit. “O Brexit é um sintoma de uma reação nacionalista e populista no Ocidente industrializado contra a globalização, o livre-comércio, a migração do trabalho, as políticas orientadas para o mercado, as autoridades supranacionais e, mesmo, as mudanças tecnológicas”, escreveu o economista Nouriel Roubini.

Segundo ele, a mesma globalização que reduziu a pobreza e a desigualdade no mundo, criando oportunidades nos países pobres, também reduziu salários e ceifou empregos em economias mais ricas, como Inglaterra e Estados Unidos.

Num momento em que muitos americanos estão cansados da política tradicional, e que a raiva é o motor do voto de milhões de americanos, alguém com uma história política como Hillary causa-lhes asco e desconfiança. Dizer pois que os americanos são estúpidos, racistas, imperialistas, etc, é errado. A opção por Trump tem a ver com angústias profundas da sociedade americana que se têm agudizado nos últimos anos a um nível quase paranoico. Algumas dessas angústias - emprego, decréscimo de rendimentos, terrorismo - são de resto partilhadas pelos cidadãos da europa civilizada, pelo que com toda a certeza tudo o que se está a passar do outro lado do atlântico de igual forma replicar-se-á no continente europeu. Amanhã o “american dream” é pois o sonho de todos nós.

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