‘Prontidão 2030’ vs. uma ‘potência Disney’
Voz às Escolas
2025-01-29 às 06h00
Perceberão, os estimados leitores, que esta crónica contém muito mais dúvidas e interrogações do que certezas ou afirmações. Com efeito, pretendo que se assuma mais como um catalisador que inste à reflexão global do que como mero compêndio de proto soluções, lamentos, ou mero produto da minha própria reflexão.
O fenómeno da globalização não é recente, mas atingiu o seu apogeu nos últimos anos. Enquanto sociedade atenta, temos assistido a um inusitado e crescente fluxo migratório que tem colocado sob pressão a capacidade de resposta não apenas de todos os serviços que integram o nosso Estado Social, mas também muitos dos demais recursos, com particular destaque para a habitação – ou falta dela. Um país dimensionado – em muito aspectos, insuficientemente - para acomodar 10 milhões de habitantes, terá sempre algumas dificuldades em encontrar a elasticidade suficiente para responder com eficácia a um aumento (demasiado) abrupto que equivale, grosso modo, a 10% da sua população. Este processo de integração é, desde logo, globalmente bem-vindo, até porque permite suprir muitas carências em múltiplos contextos laborais, implicando, não obstante, algumas “dores de crescimento” associadas.
Como se afigura óbvio, a Escola não tem sido uma exceção a esta realidade, antes a regra que a confirma. Mas se por um lado o aumento brutal do número de alunos que temos vindo a integrar vem permitir a sustentabilidade – nessa perspectiva aritmética - do ensino nacional, designadamente da Escola Pública, em risco na última década fruto do inverno demográfico que atravessámos, por outro traz-nos um considerável “pacote” de dificuldades e um ainda maior “caderno de encargos”, que acrescem a todas as outras que cronicamente vínhamos sentindo, e que comprometem, concomitantemente, a tal elasticidade acima referida – afinal frágil, falível e finita.
A situação percecionada não é exatamente de agora. Com efeito, tem vindo a instalar-se com particular intensidade nos últimos 4 anos, trazendo às escolas um pouco despiciente conjunto de adversidades que, com custo mas com todo o empenho, procuramos, se não ultrapassar, pelo menos mitigar, em nome quer da desejada e bem-sucedida integração, quer do sucesso educativo genérico que sempre será o nosso primeiro e principal desiderato.
Esta nova realidade, tão óbvia quanto insofismável, impele-nos a reflectir, colocando-se-nos uma questão inevitável: estamos ou não preparados para lidar com tão exponencial aumento da procura de alunos, salvaguardando o desejável sucesso que tradicionalmente imprimimos ao processo de ensino-aprendizagem vigente, sem que isso comprometa a sustentabilidade do próprio sistema de ensino? E se sim, a que custo? Com que dificuldades?
Assumo, pública e pessoalmente, as minhas reservas quer quanto à existência material dessa capacidade, quer no que concerne ao pleno sucesso desse processo de integração. Fundamento este meu posicionamento – admito que pouco consensual - recorrendo, exclusivamente, aos factos de que disponho, e que respeitam exclusivamente ao agrupamento de escolas que dirijo. Entre 2021 e 2024, observámos um aumento líquido de 250 alunos (de 2100 para mais de 2350). Desse aumento, extrai-se, em termos líquidos, que 95% desses alunos decorrem dos tais fluxos migratórios. Não obstante, à subida de quase 15% verificada em apenas 3 anos lectivos não correspondeu igual reforço de recursos, sejam técnicos, materiais ou humanos. Na verdade, sendo pragmático, esse reforço praticamente inexistiu, o que nos obrigou a um verdadeiro número de contorcionismo de forma a dar a resposta possível, mas longe da desejada.
Sem ir mais longe, e para que se perceba a dimensão do que partilho, 250 alunos implicariam, no mínimo, a criação de 10 novas turmas, com o correspondente reforço de meios. Na prática, aumentámos em 4 o número de novos grupos, distribuindo o “grosso” dos demais alunos pelos grupos já existentes, exacerbando muito expressivamente o número de grupos em desconformidade (com mais alunos do que a lei permite comportar).
Se tenho mais e mais complexas necessidades, mas mantenho os mesmos recursos, o resultado, por mais que se queira subestimar, é um e apenas um: o comprometimento da qualidade do ensino. Ter o Mundo na Escola é positivo em muitos aspectos, mas não é um mar de rosas sem espinhos…
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário