Correio do Minho

Braga, terça-feira

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O meu nome é Escherichia Coli

Ensinar e Aprender História com Alma

Escreve quem sabe

2011-06-25 às 06h00

Fernando Viana Fernando Viana

Nos últimos anos, temos vindo a ser confrontados com a ocorrência cada vez maior de vírus, bactérias, de origem diversa nos alimentos que consumimos, mas que têm vindo a abalar a confiança dos consumidores no que diz respeito à segurança alimentar efectiva e na capacidade das autoridades de saúde pública nacionais ou internacionais em proverem uma resposta adequada a estes problemas.
Em meados dos anos 80 do século passado, alguns veterinários do Reino Unido começaram a relatar o aparecimento de uma doença degenerativa do sistema nervoso dos bovinos, a que se deu o nome de doença das vacas loucas, ou BSE (encefalopatia espongiforme bovina), a qual- descobriu-se depois- através de uma proteína (designada de prião), se transmitia ao homem, provocando uma doença terrível semelhante à dos bovinos (a variante da doença de Creutzfeld-Jacob).
Gripe das aves (H5N1) foi o nome dado a outra doença causada por uma variedade do vírus da gripe hospedada em aves, mas que pode afectar o homem e que em 2005 afectou uma vasta área do sudeste asiático, acabando por causar uma pandemia à escala global. Muitos ainda estarão lembrados da corrida às vacinas, dos planos de contingência e de todo o folclore associado, com uns a exigirem a vacina e outros, onde se incluíam os médicos a recusarem a inoculação.
Estes são apenas dois meros exemplos de uma longa e recente lista de problemas alimentares, em que um dos primeiros lugares da lista poderia ser a contaminação do peixe da baía de Minamata no Japão com mercúrio, nos anos 50 do Sec XX, passando pela criminosa adulteração do azeite espanhol com óleo de colza, na década de 70, ou da recente contaminação de leite para bebes na China e por outros, infelizmente, muitos outros.
Nas últimas semanas, temos assistido ao aparecimento de uma nova pandemia, responsável já pela mor-te de 39 pessoas na Alemanha e uma na Suécia, causada por uma bactéria denominada escherichia coli (abreviadamente e.coli). Esta é provavelmente a bactéria mais comum e conhecida pelos seres humanos, desde logo por fazer do nosso intestino o seu habitat natural. A presença desta bactéria nos alimentos (ou na água) é indicativa de contaminação com fezes humanas, já que cada pessoa evacua em média com as fezes, cerca de um trilião de bactérias e.coli todos os dias. As fezes dos outros animais também estão carregadinhas de e.coli. A utilização de excrementos de animais como adubo na agricultura pode originar a contaminação dos alimentos com e.coli. Daí à histeria colectiva vai um pequeno passo. Por essa razão é extremamente fácil perceber porque foram os pepinos espanhóis subitamente banidos do cardápio alemão, após as autoridades deste país, os terem acusado de estar na origem do problema. Actualmente porém, parece que a contaminação tem outra origem (por exemplo nos rebentos de soja).
Os mass media, por seu lado, rejubilaram com o sucedido, já que ávidos de notícias chocantes e dramáticas para abrir telejornais ou colocar nas primeiras páginas dos jornais, não se têm cansado de relatar todos os pormenores que rodeiam a doença a uma velocidade mais rápida que a da propagação da bactéria.
A e.coli é, bem vistas as coisas, uma consequência inevitável de um mundo superpovoado, em que o rápido crescimento da população carece de uma resposta igualmente rápida na produção de alimentos. Pois bem, a necessidade de grandes e rápidas quantidades de alimentos obriga à utilização massiva de substâncias promotoras do crescimento, pesticidas, antibióticos, aditivos tecnológicos entre outros. Ora rapidez e produção de grandes quantidades de alimentos, dificilmente são termos conciliáveis com segurança alimentar, principalmente quando ainda por cima o mercado exige preços acessíveis.
Por outro lado, todos o sabemos, a produção mundial de alimentos está neste momento colocada sob desafio. E a prova está na cotação dos cereais e de outros produtos alimentares que não tem cessado de aumentar, devido a fracas produções nos últimos anos, com origem em catástrofes naturais, mas também por via da mão humana responsável por muitos problemas ambientais graves e pela diminuição do solo arável.
Temo pois que o actual surto de e.coli, seja apenas um episódio menor desta ópera bufa que é a questão da sobrevivência humana nestes tempos modernos. Curiosamente, ou talvez não, a mão do homem, isto é a sua responsabilidade, aparece mais ou menos claramente comprovada em todos estes episódios. A natureza é como as máquinas: “Tem sempre razão”

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