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O Luís trabalhará; os outros, veremos...

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O Luís trabalhará; os outros, veremos...

Ideias

2025-05-27 às 06h00

João Marques João Marques

Portugal votou e escolheu. Luís Montenegro pediu e os portugueses aceitaram. Poderá trabalhar com uma “maioria maior” e condições reforçadas de legitimidade política.
A AD viu confirmadas as suas expectativas de incremento do apoio popular e terá agora, pela frente, um período mínimo de dois anos em que dificilmente algum partido se atreverá a voltar a colocar o país em rota de eleições. E aposto mesmo que o prazo de validade deste governo será de quatro anos porque ao resultado da coligação há que juntar a débacle do PS.
Vejo por aí muita gente a desvalorizar o resultado da AD, como se a maioria absoluta fosse o óbvio objetivo perdido e a margem de crescimento pouco acrescentasse ao que vinha de 2024. Ora isso não pode pura e simplesmente passar como facto, porque não poderia estar mais longe da verdade.
Sim, um partido como o PSD tem uma vocação de governo estribada numa história de maiorias absolutas virtuosas e reconhecidas pelo povo português. Mesmo no caso das maiorias obtidas em contextos difíceis e em conjunto com o CDS-PP, como ocorreu em 2011, no quadro negro de uma intervenção externa, os eleitores valorizaram a trajetória de recuperação e a inquestionável elevação de um governo que foi tudo menos eleitoralista.
Só que tudo isso não pode ser comparável com o que se passou nesta campanha e nesta eleição.
Já aqui o escrevi e repito, nunca um Primeiro-Ministro foi sujeito a uma bateria de ataques tão intensa, desproporcionada e incessante como foi Luís Montenegro. Repito igualmente que não considero que ninguém na causa pública esteja acima da obrigação de escrutínio que permita vetar os que não servem ao país, mas ninguém deve estar abaixo do limiar mínimo da decência que tributamos a qualquer político em funções e, por maioria de razão, ao líder do governo.
Passada a tormenta, o mais normal seria que tivéssemos hoje um homem ferido e derrotado, vergado pelo peso do “quarto poder”, e um partido e uma coligação em frangalhos, a colher as peças dos despojos de PS e Chega.
E, no entanto, a AD venceu, renovou a sua ligação com o eleitorado e afastou-se decisivamente do segundo partido mais votado, assim criando as condições para consolidar as bases do bom trabalho que vinha fazendo e forçar a agenda reformista junto daqueles que apenas queriam que o país corresse agrilhoado pelo status quo.
Hoje, a maioria maior das forças que lideram o governo ainda em funções traduz-se numa maioria absoluta de facto que permitirá estar sempre ao leme do processo político, conquanto o talento e discernimento de Luís Montenegro e da sua equipa mantenham o acerto até aqui demonstrado.
O que nos leva aos derrotados e às vitórias de Pirro.
O PS cai com estrondo. A impaciência e imprevidência de Pedro Nuno Santos revelaram-se no momento zero, na origem da última crise política, quando confundiu palavra de honra com elevação política.
Ao que parece, fiando-nos nas mais recentes notícias, o agora ex-Secretário-Geral do PS não queria voltar atrás na garantia de que chumbaria uma moção de confiança. Como se disso dependesse a crença popular e a adesão do povo à sua “persona” política. Enganou-se duplamente. Por um lado, trivializou os destinos do país ao hiperbolizar a sua suposta coerência. Se é verdade que, desde Viriato aprendemos que Roma não paga a traidores, a verdadeira traição de um político faz-se ao seu povo e àquilo que verdadeiramente importa às suas gentes.
Num contexto de alta volatilidade assente numa campanha de casos, o PS tinha-se já traído a si próprio, entrando num campo de batalha enlameado pela premissa que colocou os interesses do PS à frente dos interesses de Portugal.
E assim fazendo colocou-se na posição ideal para provar a razão de Bernard Shaw, segundo o qual nos devemos abster de lutar com porcos, porquanto todos os que o fizerem sairão sujos e, ademais, os porcos gostam.
A pocilga provou-se custosa para o PS e levará muito tempo até que a higienização do seu espaço político produza efeitos.
Para isso o PS precisa de tempo, provavelmente o tempo de uma legislatura. O tempo de demonstrar que o PSD não se pode aliar ao Chega, não se deve aliar ao Chega e que o PS nunca falhará ao país se o país precisar do PS.
Essa trajetória no deserto é, ao mesmo tempo e paradoxalmente, o tempo que o Chega tem para demonstrar que o PSD não se pode aliar ao PS, sob pena de demonstrar ao país que é igual ao arqui-inimigo e que verdadeiramente a única alternativa de governação é o extremismo de Ventura.
Um extremismo que, por muito irresponsável que seja nas propostas políticas, tem de começar a demonstrar algum grau de maturidade, de qualidade de quadros e de mínima coerência programática e prática, sem os quais o salto para o patamar de governo se torna praticamente uma miragem.
Se aparentemente esta distópica história da carochinha parece ser um empecilho dispensável para a AD, ela pode tornar-se no seu mais precioso capital político, sabendo-se bem como termina o conto para o João Ratão.

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