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O Fim da Classe Média e a Nova Geração “Low Cost”

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Ideias

2011-04-15 às 06h00

J.A. Oliveira Rocha J.A. Oliveira Rocha

Em 2006 foi publicado em Itália um livro que associa o fim da classe média à explosão das marcas “low cost” como a Ryanair, Ikea, Skype, Zara e Google. Este livro foi ultimamente traduzido para português. Aí se refere que fruto da estagnação económica, crise do Estado social e o fim das certezas de emprego, a classe média como a havíamos conhecido e que foi o principal suporte e beneficiária da democracia, estava a ser substituída por um agregado social indefinido, “uma classe que já não é classe”. Estes indivíduos são cada vez mais consumidores de produtos e serviços “low cost”, que substituem pelo “welfare” e aspirações de subida na esfera social.

Segundo os autores, entrou-se numa nova era, caracterizada por: o aparecimento duma aristocracia muito abastada, ganhadora com a inovação capitalista; a ascensão de uma camada de tecnocratas do conhecimento, os quais raramente sobem ao Olimpo dos multimilionários, mas que podem cair na “massa”; uma sociedade massificada, à qual as indústrias e serviços “low cost” garante o acesso a bens reservados antigamente aos mais privilegiados. É a “Ryanair society”, a qual faz lembrar a turba romana do pão e circo; e finalmente, os marginalizados com baixo poder de compra, modelo “terceiro mundo”.

Podem encontrar-se várias causas para esta transformação das sociedades ocidentais. Por um lado, o envelhecimento da população que faz aumentar exponencialmente o custo das pensões e a contínua melhoria das técnicas médicas que proporcionam uma vida mais longa; por outro lado, a concorrência desenfreada das economias emergentes, as quais para além de custos de mão-de-obra baixíssimos não sabem o que significa encargos sociais.

O denominado “modelo europeu” já não existe, desagregado pela pressão do comércio internacional e pela incapacidade de proteger os seus cidadãos contra o desemprego, velhice e perda do valor da habitação. E entre os países europeus resistem mais aqueles que melhor aproveitaram os estímulos da concorrência e apostaram na inovação. Pelo contrário, os países que continuaram sem uma estratégia de crescimento, ou preponderamente baseadas em investimentos em infraestruturas tendem a terceiro-mundizar-se. É um fenómeno novo sob o ponto de vista da teoria económica, já que se entendia que as sociedades ocidentais teriam sempre vantagens comparadas.

A crise económica começada em 2008, que os autores já previam viria acontecer, está a acelerar este processo de empobrecimento do ocidente e de mudança da sociedade, conforme a conhecíamos nas últimas décadas.
Como é que o sistema político lida com estas novos problemas? Aterrorizados pela dimensão da crise, os políticos tendem a destruir ainda mais a classe média tradicional, através de aumento de impostos e diminuição das regalias sociais. Mas os riscos são enormes, já que esta sociedade desclassificada pode vir a ser arrastada para soluções ditatoriais que lhes prometam o pão e o circo. E o comportamento nada solidário dos países mais ricos da Europa pode acelerar este processo.

Para os autores que fomos acompanhando, na sua análise, torna-se necessária uma revisão geral. Para isso são necessários políticos capazes de ler a realidade e encontrar soluções possíveis para a nova sociedade ““low cost”. Quando assistimos na televisão às declamações dos tecnocratas e políticos europeus a propósito da crise temos clara intuição que essa gente percebe pouco do que se está a passar e usa velhas fórmulas para solver problemas novos. Não percebe porque um país pobre, saído duma ditadura, sem hábitos de trabalho, com pouco valor dado à educação não poderia aspirar a viver como os seus parceiros da Europa. Mas descansem que a crise vai chegar a todos. Talvez lhes custe mais a eles, porque há mais tempo estão habituados ao conforto do Estado social.

Esperamos que a crise política nacional sirva pelo menos, e será muito, para repensar a nova sociedade e desenvolver propostas de solução para uma sociedade que é diferente, isto é, uma sociedade “low cost”. Existem clusters de inovação, embora numa sociedade exausta, não qualificada e culturalmente conservadora.

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