Os bobos
Escreve quem sabe
2019-11-08 às 06h00
Aemigração, parte integrante da história e cultura nacional, tem sido ao longo dos anos uma profícua fonte de inspiração para inúmeros cantores, letristas, compositores e artistas, que nos mais diversos estilos musicais têm evocado as agruras da partida e da saudade de quem demanda no estrangeiro melhores condições de vida.
Os mais antigos recordar-se-ão seguramente da voz suave e triste de Adriano Correia de Oliveira que interpretou o “Cantar de Emigração”, com letra de Rosalia de Castro e música de José Niza.
Uma das mais emblemáticas trovas do cantor de intervenção, o “Cantar de Emigração” constitui um retrato fidedigno da emigração portuguesa “a salto” para França nos anos 60, um período marcado pela saída maciça de jovens, sobretudo do Norte de Portugal, impelidos pela miséria rural, a ausência de liberdade e a fuga ao cumprimento do serviço militar, antecâmara da incorporação na Guerra Colonial.
Esta experiência marcante de fuga à pobreza de centenas de milhares de portugueses, que na sua maioria encontraram nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris, cidade que muitos conheceram como expressa António Barreto “antes de ir a Lisboa ou de ver o mar”, seria celebrizada nos anos 80 com o tema “Um Português (Mala de Cartão) ” de Linda de Suza, uma das mais afamadas cantoras lusas, emigrante em França. Ainda em terras gaulesas, os anos 90 assistiram ao sucesso entre a comunidade portuguesa de Graciano Saga, um cantor popular que ficou conhecido com músicas sobre a Diáspora, de que se destaca o tema "Vem devagar emigrante" e "Amiga Emigrante".
A influência do fenómeno da emigração na expressão musical portuguesa não se cinge ao passado mais recente ou às canções de intervenção e música popular.
A multiplicidade de projetos musicais onde está retratada na atualidade a temática da emigração vai desde o Fado e a Pop, singularmente representada em 2013 no dueto de Pedro Abrunhosa com o fadista Camané, que no tema “Para os braços da minha mãe” abordam a nova vaga de emigração; até ao Rap, discurso rítmico com rimas e poesias que o rapper brigantino Jorge Rodrigues e a cantora Vanessa Martins usaram em 2016 na música “Filha de emigrantes”, uma composição que retrata a vida hodierna dos emigrantes e a saudade que sentem da família e do país de origem.
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