Fui ver... e fui ler...!
Ideias
2023-09-30 às 06h00
No passado dia 13 de setembro, Úrsula Van der Leyen - Presidente da Comissão Europeia -proferiu o habitual discurso sobre o “Estado da União”, diante do Parlamento Europeu. Trata-se de um discurso já recorrente, desta e dos antecedentes Presidentes da Comissão. Normalmente, lançam-se, nesse discurso, os grandes objetivos políticos que orientarão a construção europeia. No discurso deste ano, Van der Leyen preferiu seguir outro rumo: sem descurar os objetivos e os desafios vindouros, acabou por fazer uma espécie de balanço dos quatro anos da “sua” Comissão. Com propriedade, pois aproxima-se o fim de um ciclo. Em 2024, teremos novamente eleições para o Parlamento Europeu e é bem provável que a atual Presidente da Comissão se apresente como candidata à renovação do seu próprio mandato. Talvez o seu discurso tenha sido uma espécie de “balanço da legislatura”, antecipando mesmo uma reeleição. E, sem dúvida, esse balanço foi positivo. Segundo Van der Leyen, a Comissão conseguiu concretizar mais de 90% das orientações e dos objetivos políticos que tinha apresentado em 2019, no início do respetivo mandato. Mas, na verdade, o sucesso do seu mandato e da atual Comissão, em parte, poderá avaliar-se pela capacidade que a União demonstrou ter para enfrentar desafios imprevistos e de grande magnitude!
A União vive um momento de viragem histórica. É confrontada, desde fevereiro de 2022, com o fim da ilusão de que tinha acabado o tempo da guerra. Vivia na convicção de que aquilo que, em grande medida, a tinha gerado – ou seja, a guerra e a sua rejeição existencial – seriam já um anacronismo histórico e político. Uma guerra de e contra Estados, de conquista territorial. Guerras que põem em causa o princípio da estabilidade das fronteiras. Guerras movidas por intuitos imperialistas, sacrificando povos a alegados “interesses de Estado” (dos seus líderes autoritários).
Claro que sempre existiram (infelizmente) guerras. Mas não com esse cariz de guerra total e “à moda antiga”, contra uma ordem comum estabelecida. Guerra geradora de “blocos” que, em termos de poder geopolítico, se antagonizam concorrencialmente, pondo em causa a ordem internacional com que temos vivido, depois da 2ª Grande Guerra. A impotência da ONU para ser minimamente dissuasora de agressões como a que a Rússia perpetrou conta a Ucrânia, ilustra essa tendência para o aparecimento de uma nova ordem geopolítica. De todo o modo, a União (muito impulsionada pela Presidente da Comissão) tem tido uma postura de apoio à Ucrânia, sem tribiezas. Mostra o empenho na defesa de um “modo de vida” europeu, de uma cosmovisão dita “ocidental” (a europeia!), assente em valores que resultam de muito esforço histórico. No fundo de um “Iluminismo” que, sendo também humanista, se contrapõe à visão e vivência anti e “a-democrática” atávica (aos nossos olhos) e opressora. A visão de uma Rússia putiniana profunda, czarista e imperialista e com a ilusão de que o esplendor de tempos passados (realmente, quais?) pode ser, agora, em pleno século XXI, resgatado. Mas a União lidou também com a pandemia, lida com a inflação e com a crise energética. Assim como acabou por gerir a crise das “dívidas soberanas”…mais ou menos erraticamente (digo eu). Mas superou esses engulhos, esses percalços que muito bem poderiam ter-se transformado em crises definitivas, arrasadoras da própria integração. Portanto, Van der Leyen tem razão. O seu mandato foi bem conseguido!
Há, no entanto, uma “nuvem negra” que se vai avolumando e, relativamente à qual, este discurso sobre o “Estado da União”, pouco (quase nada) refere: a crise dos refugiados, as migrações que procuram massivamente a Europa. Itália que o diga!
Pouco poderia a Presidente da comissão, agora, dizer sobre esse problema. Creio que, tirando a guerra (dada a necessidade da sua resolução tanto quanto possível, no sentido da preservação do “modo de vida” europeu e rapidamente), as migrações, a quase “invasão” da Europa por refugiados ou simplesmente por quem procura melhores condições de vida 8de sobrevivência, mesmo!) é o grande problema, será a grande crise com que brevemente a Europa terá que se debater. E, tal como a guerra, uma crise existencial. Ou se consegue resolvê-la, ou provavelmente os danos para a Europa serão irreversíveis! Não terá nada a ver, diretamente, mas……há algo de parecido (reminiscências históricas?) com o fim do Império Romano…. Digo eu, esperando estar enganado!
10 Setembro 2024
09 Setembro 2024
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