Culpas à parte
Ensino
2019-10-24 às 06h00
Muito se tem dito e escrito sobre o “elevador social”, em Portugal. O que aqui e agora se pretende é aludir à sua vertente de mobilidade social efetiva, conducente ao aumento objetivo de qualidade de vida e de rendimentos, baseada na escolaridade dos indivíduos, nomeadamente ao nível do ensino superior.
São várias as vozes que referem a avaria do elevador social da educação. Não quero ser tendencioso. Nem quero secundarizar indicadores. Mas vamos a factos. Segundo a base de dados “Pordata” (gerida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos), Portugal é o país europeu com maior percentagem de indivíduos entre os 25 e os 64 anos sem o ensino secundário ou superior. Falamos de 50,2%: mais do dobro da média da União Europeia (UE), que se situa nos 21,9%. Paralelamente, a taxa de abandono escolar em indivíduos entre os 18 e os 24 anos ocupa a sétima posição mais elevada da EU, com um valor de 11,8%, face a uma média europeia de 10,6%. Estes dados foram apresentados na passada semana.
E o desemprego? Será que é influenciado por esta realidade? Voltemos às estatísticas da “Pordata” e detemo-nos em duas evidências: a primeira é que os valores da taxa de desemprego, entre os jovens com idade inferior a 25 anos, é quase o triplo da taxa de desemprego geral (20,3% contra 7%, em 2018), a segunda é que os valores da taxa de desemprego por nível de escolaridade são de 8,2% para quem completou o ensino Secundário e pós-secundário, contra 5,4% para quem é detentor de um grau de licenciado ou equivalente. Adicionalmente, segundo a edição do Público online do passado dia 27 de junho: 11,9% dos jovens portuguese não estudavam nem trabalhavam, em 2018.
Mas os factos não ficam por aqui. De volta a 2019, os indicadores do relatório anual sobre educação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), intitulado “Education at a Glance 2019”, são claros ao apontar que ser detentor de um curso superior em Portugal continua a ser a melhor garantia para uma realidade profissional mais vantajosa.
Entre os 25 e os 34 anos, ter uma formação superior corresponde a vencimentos 50% mais elevados, quando comparado com outros profissionais da mesma faixa etária. Adicionalmente é ainda referenciado que o desemprego de longa duração é superior para quem tem qualificações apenas ao nível do 3º ciclo do ensino básico.
Já para não nos debruçarmos sobre outras variáveis, como as que sublinhavam – há pouco mais de um ano, num outro estudo alusivo à média da OCDE – a relação entre o nível de escolarização e a esperança média de vida. Um estudante do ensino superior de 25 anos pode viver mais do que alguém que não frequentou a universidade (quase 8 anos se for do género masculino e cerca de 4,6 anos para o feminino).
É por estas e por outras razões que acredito que o investimento num curso superior vale a pena. Não me refiro apenas a investimento quantitativo. Esse é sem dúvida sinónimo de muitos sacrifícios que os pais fazem a pensarem no que os seus educandos poderão ser, ter e alcançar. Mas este é também um esforço apoiado por muitas instituições, como a minha o faz a pensar na criação efetiva de igualdade de oportunidades (para os estudantes com maiores carências sociais, os Serviços de Ação Social do Instituto Politécnico de Viana do Castelo disponibilizam um leque alargado de bolsas de estudo e de apoio social). Mas é também no esforço da vontade: compatibilizar o estudo com atividades profissionais, muitas vezes com família, com deslocações, com exposição e crítica social e com todo um conjunto de condicionantes que, frequentemente, puxam mais do que empurram.
São grandes os desafios e responsabilidades que pais, alunos e docentes têm nesta missão.
Aos pais cabe a tarefa de acreditar na valia da formação e, desde cedo, motivar e direcionar. Aos alunos mais novos a perceção da evidência da realidade espelhada nos factos já referidos. Aos alunos mais velhos, a força e a vontade para seguir em frente.
Aos docentes, num contexto de transformações significativas no ensino superior, desenvolver estratégias e práticas capazes de criar condições favoráveis à melhoria da qualidade das aprendizagens dos discentes. Claro que são necessárias condições de trabalho conducentes a esta postura. Mas são prioritários a vocação e o espírito de missão.
É neste contexto e com base nestas premissas que todos (alunos, pais e instituições) devem entrar no elevador. Para subir, claro.
07 Abril 2021
24 Março 2021
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