Da Importância das Organizações Profissionais em Enfermagem
Ideias
2025-01-11 às 06h00
A poucos dias da tomada de posse do futuro (47º) e ex-presidente (45º) norte americano, a Europa, um pouco atónita, depara-se com mais um indício de que estará possivelmente a viver o fim de uma era. Talvez tenha sido uma era dourada, na sua História; mas é provável que esse tempo esteja mesmo em vias de desaparecimento (ou, pelo menos, de transformação)!
Trump, esta semana, foi notícia mesmo antes de tomar posse como Presidente norte-americano. Em declarações, voltou a manifestar uma pretensão que já havia formulado em 2019 e que ninguém tinha relevado: anexar a Gronelândia. Mais ainda: retomar a gestão (pelo menos) do canal do Panamá e (isto é mesmo novo!), fazer do Canadá o 51º Estado norte-americano. Relativamente ao Canadá, recorde-se, ameaçou com uma guerra de tarifas (o que seria catastrófico para a economia do Canadá, cujo primeiro mercado de exportação é o norte-americano). No que respeita à Gronelândia e ao canal do Panamá, não excluiu, em ambos os casos, a possibilidade de recurso à força militar. Ou seja, a uma invasão à moda antiga ou à moda moderna, estilo Putin!
Não vamos agora determo-nos sobre os motivos que, na ótica de Trump, explicam tais pretensões expansionistas. Na imprensa encontramos facilmente tal explicação, assim como, pesquisando um pouco, deparamo-nos com várias “fontes” de informação histórica que nos podem, com clareza, elucidar sobre as causas e o contexto de tais declarações. Até mesmo sobre o impacto positivo para Trump que, em termos de popularidade interna, essas declarações tiveram. Referimo-nos aos núcleos populares mais básicos e indefetíveis de Trump e da sua aparente visão de uma América forte, isolada, bruta e, por isso, aparentemente grande. Registamos, ainda assim, uma coincidência: relativamente ao Canadá, Trump já tinha tido uma troca de palavras, de declarações e contradeclarações desagradável com o (ainda atual, embora demissionário) primeiro-ministro, a quem chamou de “governador” (presume-se, agora e para Trump, do Estado norte-americano do Canadá). Com o Panamá, para além das acusações e temores de que os navios chineses (e a China) controlem a gestão do canal, Trump entende, também, que o Panamá “gozava” com a América e fazia dos americanos parvos, porque, alegadamente, cobrava taxas mais altas aos navios norte-americanos.
E a Europa?
No dia 22 de fevereiro de 2022, com a invasão da Ucrânia, acabou-se a era da ilusão de que as guerras expansionistas, pondo em causa as fronteiras estabelecidas, seriam já uma impossibilidade histórica. A Europa, o “modo de vida europeu” (como repetidamente diz a Presidente da Comissão Europeia), teriam outros desafios. Desafios também hercúleos – desde logo, como salienta o Relatório Draghi, o da economia enfezada e da sua crónica falta de competitividade -, porém, desafios esses que passavam a leste da guerra, à moda antiga. A Europa sistematicamente autoconvenceu-se que o Estado de Direito, a Democracia e a liberdade individual, assim como os Direitos Fundamentais e a vivência de uma cultura que pressupõe a solidariedade, seriam, por si sós e sendo a sua “marca d’água”, um fator de atratividade e, por conseguinte, de respeito …precisamente para com esse “modo de vida europeu”. A defesa e a força militar seriam, a custo, equacionadas e, sobretudo, a muito custo democrático pois, por si sós, não se traduziriam em votos. A Europa autoconvenceu-se que bastaria, para se preservar, ser uma “potência normativa”. Esqueceu-se que mais de 4/5 do mundo (o dito mundo não ocidental) não vive em democracia, nem aprecia existencialmente a liberdade, nem se pode dar ao luxo de cultivar os “nossos” Direitos Fundamentais, nem políticas “abertas” e ditas multiculturais, com uma certa bonomia de quem se autoconvence, como nós, que detém alguma superioridade moral (reminiscência colonialista?!).
A Europa foi, lenta, mas progressivamente, cultivando uma certa “onda” política e intelectual muito irrealista e, também, bastante elitista, típica de uma certa ala dita de esquerda que, nos Estados-Unidos, tomou conta do partido democrata e que levou, muito por reação, ao resultado que se viu: a eleição de Trump e a ascensão do “Trumpismo” - hoje, praticamente dominante no partido republicano!
Não sei se as declarações de Trump deverão ser levadas a sério, em termos de atos consequentes, ou não. Não sabemos se não sertão apenas uma forma grosseira de tentar capitalizar uma qualquer vantagem negocial, para um futuro próximo. No entanto, no plano das narrativas – e hoje, grandemente, a política começa e acaba nas narrativas – há já uma consequência: tais declarações, vindas do futuro presidente da ainda única superpotência global existente, acabam por legitimar (pelo menos, desresponsabilizar aos olhos da comunidade internacional) a ação da Federação Russa e as suas pretensões expansionistas. Foram quase que um ato de amizade a Putin e um xeque-mate a Zelensky e à Europa. Podem vir a ser, também, uma espécie de certidão de óbito ao papel do Direito Internacional, tal como o conhecemos e fomos, com tons muito europeus, construindo.
13 Fevereiro 2025
13 Fevereiro 2025
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