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O conhecimento como ativo corrosivo

A responsabilidade de todos

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O conhecimento como ativo corrosivo

Ensino

2021-10-06 às 06h00

Francisco Porto Ribeiro Francisco Porto Ribeiro

A proposta de tema de artigo para hoje é controversa e não é fácil de digerir. Mas no princípio é de comunicação e partilha de opiniões, não deverá causar desconforto, nem confortar, mas permitir espaço de reflexão. É certo que que este tema, não se esgota aqui. As opiniões divergem, dependendo da perspetiva individual, mas partilho experiências pessoais.
A escolha do título do artigo baseia-se na perceção pessoal a respeito do que o excesso de conhecimento pode causar, considerando eu como um ativo corrosivo, dependendo da medida em que for analisado e interpretado pelo público alvo. Estes pressupostos são fundamentais. O conhecimento, enquanto ativo pessoal, quando mal utilizado ou mal dirigido (público alvo errado), incomoda de facto. Se analisarmos a situação com maior detalhe, tratando-se de exposição do conhecimento, corremos o risco de não estar na mesma linha de entendimento do(a) ouvinte e passar a ser pessoa “non grata” (visto da forma simpática), se não mesmo ostracizado socialmente (situação mais crítica). A ausência de “plataforma” de entendimento dá espaço a diferentes leituras dos factos, permitindo uma avaliação “abusiva” alegando excesso de exposição ou soberba, quando se revela interesse em determinado tema. Tal como a imagem em anexo (“o conhecimento é inútil se não soubermos usá-lo”), podemos ser alvo de crítica quando não usamos o conhecimento adquirido ou, sendo mal utilizado ou utilizado indevidamente, transforma-se num perigo social (evidência).
Pessoalmente, o mercado de trabalho está repleto de pessoas que se preocupam de mais em passar a sua “mensagem” e de menos em ser ouvintes dos outros (não seguem a linha da boa liderança). Quando se emite opiniões não solicitadas ou contraditórias à versão inicial, o resultado traduz-se em algo menos bom. Do alto do pilar de conhecimento, os considerados detentores do mesmo, sentem a opinião contrária como uma ofensa (sem sentido eclético) manifestando-se ofendidos, seja pela idade de quem emite opinião, seja pela gestão do risco em expressarem a sua opinião.
Por vezes, a oportunidade que os outros tiveram na vida, tornando-os uns potencias rivais e o conhecimento revela-se um ativo corrosivo, alvo de um comportamento “talibânico” (conceito associado ao silenciamento de oposição). Nessa linha, o objetivo é o silenciamento e anulação da pessoa visada, havendo casos que, por opção, a pessoa visada “esconde” ou retira aptidões/qualificações dos seus curricula vitae. Uma vez admitidos, esses personagens vão chocar com os atores “residentes” quando, involuntariamente, expõe ideias próprias e conhecimentos adquiridos, apresentado como soluções alternativas. Há muitos aspetos a explorar, mas, e em síntese, claramente são os “residentes”, detentores do conhecimento histórico das organizações, que vêm com maus olhos as novas soluções, numa clara aversão à mudança, revelando desconfronto com as novas posições. Mentalida- des.
Outra realidade, com a qual por vezes somos confrontados(a)s, prende-se com o caso de pessoas que são, de facto, detentoras de muito conhecimento, mas deficitárias no sentido de oportunidade, não sabendo tirar o devido proveito. Recordo de um estimado professor que tive e que dizia ser necessário fazer a destrinça entre conhecimento apreendido e o aprendido (ou seja, aquilo que retemos depois de esquecer o que não é importante, segundo a definição de Cultura, versus mera passagem de mensagem). Em termos práticos, as pessoas podem ter “quilos” de cursos, perceberem imenso de algo, mas só quando o tema está dentro da sua linha de raciocínio. Fora desse registo, ficam perdidas, como a imagem revela (“o conhecimento é inútil se não soubermos usá-lo”). Para complementar o exposto, sugiro a releitura do texto publicado a 2021-04-07 sobre as “Leis Fundamentais da Estupidez Humana”.
O último cenário, relacionado com este tema, prende-se com a gestão de expectativas (pessoais). Todos nós temos ideia que determinada ação tem uma reação. Do alto da nossa experiência de vida, por vezes pensado que sabemos que determinada situação irá resultar em determinado aspeto, optamos, por defesa, em não investir e não acreditar. Depois, surge alguém com outra visão, ou menos experiência nessa área, e resolve ter essa ação. Se o resultado não é o que esperamos, reflete-se em nós em sentimento de injustiça, o conhecimento que detínhamos traiu-nos. Como resultado, não podemos deixar de investir e nós nem deixar de acreditar em quem investe em si. Nós somos o nosso maior investimento e se não acreditarmos em nós, ninguém (ou poucos) o fazem.
Correndo o risco de outras eventuais situações, qual a solução proposta perante as questões de: E agora, o que fazer? Como fazer? Opções? Penso que, para a maioria das pessoas, porque tem obrigações contratuais diversas, optam pelo autossilenciamento e retirada de “cena”, escondendo ou evitando expor as suas competências. Nessa postura de “yes man” (boneco sempre-em-pé), não levantam hostilidades e ficam livres de aborrecimentos. A perda é da sociedade, no geral, e das organizações, em particular, por perderem a possibilidade de não usarem os seus recursos de forma eficiente e eficaz. Fica a sociedade refém do “talibanismo” social e do subaproveitamento de recursos válidos. A melhor forma de combater essa postura, julgo eu, passa por pensar e agir de modo disruptivo e “fora da caixa” (conforme artigo publicado a 2021-02-24), revelando algum empreendedorismo e inovação.
Devemos pensar que o erro não está em pensar e agir de forma diferente, mas, e antes, naqueles que, para sua proteção pessoal (contra o bem das organizações e da sociedade, no geral), lutam pela manutenção do erro, evitando a sua correção. Relembro aqui um velho conceito latim “errare umanus est” (é próprio do Homem errar), apelando a uma evidência que poderia ser do senhor La Palice, extraindo-se que “errado não é errar, mas permanecer no erro”. A escolha está do lado de quem, de facto, detém o conhecimento e opta, corretamente, por combater o conformismo.
Fica a sugestão.

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