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O agora, que de repente deixou de o ser...

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O agora, que de repente deixou de o ser...

Voz às Escolas

2019-10-21 às 06h00

João Andrade João Andrade

Quando somos jovens, a realidade que em cada instante vivemos é-nos intensa, absolutamente central e, por tal, julgada inesquecível. Também, por completamente imersos nas emoções dessa centralidade, a sua objetivação não é, normalmente, nem fácil, nem clara. Somente com o percurso do tempo, à medida que as emoções imediatas se dissipam, uma capacidade outra de entender e contextualizar as realidades vividas emerge, gerando-se, então, à luz da distância, novos saberes e, muitas vezes, novas emoções, mais sólidas e profundas.
Mas, se deixarmos o tempo passar sobre as realidades vividas, sem que sobre as mesmas ponderadamente reflitamos, nem nos dediquemos a cruzar toda miríade de pequenos aparentes nada que as construíram e deram sentido, a sua memória real desaparece. Como acabarão por desaparecer, por inerência da condição humana, todos os atores que as viveram.
Mais ainda, se aqueles que sentiram e viveram realidades, das mesmas não construírem memória e saber legítimo, correm, e corremos todos, o risco que outros, quer por desconhecimento, quer instrumentalmente, as reescrevam e adulterem.

Uma dessas realidades, plena de histórias que se estão a perder, uma a uma, no inexorável correr do tempo, ainda que imprescindíveis para que se possa construir História verdadeira, e não História reescrita, são os últimos anos das então denominadas províncias ultramarinas e a guerra colonial que em muitas delas decorreu, bem como a descolonização ou a incorporação na metrópole dos seus retornados. Histórias que são incontornáveis para perceber e enquadrar a especificidade da História portuguesa no Século XX e de Portugal, como nação e povo, dotados de identidade própria e distinta no mundo.

Na próxima quarta-feira, dia 23 de outubro, será apresentada, aos alunos e professores da Alberto Sampaio, a obra “Crónicas Intemporais – da Guerra e da Fraternidade”, que reúne relatos de diversos alunos do 14.º Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, iniciado em fevereiro de 1969. Que, como se refere no prefácio da obra, “Após o juramento de bandeira, (…) foram quase todos mobilizados para um destino comum – África. Uns foram destacados para assumirem o comando de lanchas ou noutras unidades navais e, até, nos Comandos Navais. Outros foram integrados em Destacamentos, Companhias e Pelotões de Fuzileiros e partiram.” Assim, temos um livro plural sobre uma realidade específica, que “resulta do historial que cada um conseguiu valorizar e reconstruir, sem constrangimentos e limitações de pensamento.” Porquê a apresentação no nosso Agrupamento? Porque um desses Oficiais foi o Miguel Carmo Soares, ex. Presidente do Conselho Executivo da ESAS, também um ator incontornável para perceber a história recente e a identidade da nossa Escola Secundária.

Esta apresentação, assim como inúmeras outras que aconteceram nos últimos anos, fazem-nos constatar, com orgulho, uma realidade dupla: que muitos dos atores ou ex-atores da escola são ativos produtores de memória, que marca um tempo – que seja sob a forma de ensaios, biografias e quase biografias, romance ou poesia; e que muitos de entre eles, fazem questão de partilhar essa essa obra e memória com as novas gerações, por via da nossa comunidade educativa. Assim e aqui, o nosso agradecimento e profundo reconhecimento – e que nos perdoe algum que esqueçamos – além do Miguel Soares –, ao Bernardino Costa, ao Adelino Domingues, ao José Moreira, ao Fernando Silva, à Fernanda Barros, ao saudoso Carlos Jaca ou ao José António Pinto de Matos. A que acrescem ainda outros, como o Alberto Matos e Corina Braga que, com o auxílio de muitos dos pares, produziram uma obra didática, de elevado sucesso, de apoio aos alunos na preparação para os Exames Nacionais de Português do 12.º ano.
A eles, e a todos os outros que escolhem o espaço escola para partilhar, em primeira mão, a sua memória e criação, assim o enriquecendo, o nosso muito obrigado!

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