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O (ab)uso de tecnologia e os mais novos: estará o desenvolvimento dela a prejudicar o deles? 

Começar de novo

O (ab)uso de tecnologia e os mais novos: estará o desenvolvimento dela a prejudicar o deles? 

Voz à Saúde

2023-09-28 às 06h00

Márcia Costa Márcia Costa

O desenvolvimento tecnológico faz parte do nosso quotidiano e revolucionou a forma como vivemos e interagimos. Na infância e adolescência, mudou a forma como as crianças interagem socialmente e ocupam o seu tempo. Estará a tecnologia a ameaçar a saúde psicológica e o desenvolvimento das crianças e adolescentes? Há alguns anos atrás, era comum brincar a maior parte do tempo na rua, ao ar livre, muitas vezes na companhia de outras crianças. Aos poucos, o telemóvel e outros dispositivos tecnológicos foram ganhando terreno, sendo hoje o brincar uma atividade quase exclusivamente interior, solitária e tecnológica. O telemóvel, tablet, a televisão são, agora, os brinquedos mais famosos das crianças e os meios prediletos de entretenimento dos adolescentes. A utilização de dispositivos tecnológicos tem desvantagens já muito debatidas, em todas as idades. Por exemplo, alguns estudos associam o uso excessivo de tecnologia à existência de dificuldades a nível da cognição, da linguagem e da expressão socioemocional. Nos mais novos, sobretudo até aos 2 anos de idade, o desenvolvimento cerebral acontece de forma célere e a estimulação da criança desempenha um papel importante neste processo. Por esta razão, é fundamental que as crianças possam explorar os objetos com as suas próprias mãos, interajam socialmente e desenvolvam as suas capacidades cognitivas, motoras, linguísticas e sociais. Estas experiências são mais facilmente proporcionadas pelo meio real do que pelo meio virtual, pelo que o uso da tecnologia, nestas idades, pode ser mais prejudicial. Além dos impactos no desenvolvimento global, são conhecidos outros prejuízos possíveis na qualidade das relações familiares, no sono, bem como na inteligência socioemocional, havendo o risco de dependência e de isolamento social. Serão estas desvantagens motivo para interditarmos telemóveis e outros dispositivos a crianças e adolescentes? Para responder a esta questão, em primeiro lugar, importa realçar que a literatura científica mostra o viés dos investigadores, que pesquisam maioritariamente sobre as desvantagens do uso da tecnologia, sendo escassos os estudos sobre as potenciais vantagens e os efeitos de um uso moderado. Depois, é inquestionável que o progresso tecnológico irá continuar e, por isso, torna-se irrealista proibir o uso de tecnologias. Pelo contrário, tal facto alerta-nos para a importância de ensinar a usar a tecnologia em vez de a abolir por completo. Para que as crianças e adolescentes (os futuros adultos) aprendam a autorregular o seu uso digital é importante que se coloquem restrições, de tempo e conteúdo. Esta tem sido, também, uma preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que definiu algumas linhas orientadoras: até ao 1 ano, o uso é desaconselhado; entre os 2 e os 4 anos, o tempo deve ser limitado a 1 hora por dia e, dos 5 aos 10 anos, não deve exceder as 3 horas diárias. Na adolescência, o tempo deverá ser negociado entre pais e filhos, tendo em mente que é considerado uso excessivo se a utilização diária perturbar, claramente, o funcionamento do adolescente. Para crianças, o conteúdo deve ser supervisionado, preferencialmente educacional, interativo e, claro, não-violento. Com os adolescentes, deve-se fomentar uma navegação segura e incentivar-se o gosto por conteúdo estimulante. Neste sentido, importa realçar que a educação pelo exemplo é a mais eficaz e persuasiva, pelo que é crucial que os pais demonstrem aos filhos o mesmo comportamento que esperam deles. Assim, para responder à questão colocada a palavra-chave é equilíbrio - o uso equilibrado e moderado permite um balanço das possíveis vantagens e desvantagens do entretenimento digital. Em boa parte, as desvantagens da tecnologia residem no facto de a usarmos em substituição de atividades no contexto real e presencial. Saber usar a tecnologia é fundamental, já que esta fará parte da vida adulta e, por isso, um pouco como acontece noutros aspetos, tentar promover a abstinência é ineficaz e, até, contraproducente - o essencial é, mesmo, educar!

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