O nosso mundo é hoje uma pequena aldeia movimentada e, em qualquer lugar, podemos encontrar gentes de todas as partes. Embora seja uma área onde dados precisos sejam difíceis de obter – muita imigração não se encontra registada –, presume-se que Portugal acolha cerca de 700 mil imigrantes, podendo ser possível encontrar no Distrito de Braga mais de 145 nacionalidades distintas (conforme referia, num artigo recente e neste mesmo jornal, o professor e historiador Joaquim da Silva Gomes). Dentro do Distrito de Braga, o Conselho de Braga é o que mais imigrantes acolhe.
Centrando-nos no Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio e nas crianças e jovens que acolhe em regime diurno, somente 85% são nascidas em Portugal, sendo que 12,8% (396, no total, atualmente) possuem Nacionalidade distinta: coexistem, assim, nas nossas turmas, crianças e jovens oriundos de Portugal, Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Camarões, China, Croácia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Países Baixos, Hungria, Índia, Irão, Itália, Luxemburgo, Moçambique, Mónaco, Paquistão, Porto Rico, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Roménia, Rússia, Senegal, Suíça, Turquia, Ucrânia e Venezuela.

Esta é uma imensa riqueza, que engrandece a formação de todas as nossas crianças e jovens. Mas, ao mesmo tempo, coloca um imenso desafio formativo às instituições que as acolhem.
Ultrapassando a primeira dificuldade, que é a de fazer a adequada correspondência entre a habilitação estrangeira de cada jovem e o percurso formativo português, emerge o desafio de ensinar uma criança ou jovem, para quem o português é um conjunto de sons, muitas vezes desconexos, nos diversos currículos nacionais. O processo, difícil, é feito, casuisticamente, mediante cada especificidade, recorrendo a tutorias entre pares, ao apoio de docentes especificamente atribuídos e recorrendo à imprescindível equipa de docentes de Português Língua Não Materna que, embora tendo com principal atribuição garantir, para esses alunos e em substituição disciplina de Português, a disciplina de Português Língua Não Materna (PLNM), prevista nos currículos dos ensinos básico e secundário, Artigos 12.º e 11.º das Portarias n.os 223-A/2018, de 3 de agosto, e 226-A/2018, de 7 de agosto, respetivamente, também são incontornáveis no cumprimento do previstos no Despacho n.º 2044/2022, de 16 de fevereiro, que estabelece as normas destinadas a garantir o apoio aos alunos cuja língua materna não é o Português.

O imenso crescimento de cidadãos de outras nacionalidades é também é visível, no nosso Agrupamento, numa outra dimensão: o aumento de 100% (!) de grupos/turma de estrangeiros não falantes de português (e que, portanto, não são oriundos nem do Brasil, nem dos PALOP) que aprendem a nossa língua na Escola Secundária de Alberto Sampaio. No total, são 16 grupos/turma, albergando mais de 320 alunos de 45 nacionalidade diferentes, todos recentemente chegados a Braga. Se recuarmos dois anos, o aumento é de 167% (!). Juntando o seu número ao dos mais jovens, temos que 20,6% dos alunos que frequentam o Agrupamento não são de nacionalidade portuguesa.
Esta imensa alteração de realidade coloca-nos a todos, Escola e Cidade, um desafio que não é somente formativo, mas, antes de tudo, humano, social e civiliz- acional
Em contexto humano, quando, num mesmo território e realidade, são inseridos elementos identitários e culturalmente distintos dos que habitualmente o povoavam, surge como inevitável a ocorrência de momentos de choque e de tensão.