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Novo paradigma cultural?

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Novo paradigma cultural?

Ideias

2021-06-29 às 06h00

Jorge Cruz Jorge Cruz

O município de Braga tem em marcha um conjunto de realizações culturais, denominado programa “Descentrar”, o qual visa a divulgação e promoção do património cultural disperso por sete freguesias do concelho. Também em nome de uma alegada política descentralizadora, um outro projecto, “Olh’Ó Teatro”, propõe-se promover a apresentação de seis sessões teatrais em espaços públicos de algumas freguesias.
Da programação do primeiro, que foi desenhada especificamente para cada um dos espaços patrimoniais escolhidos, consta um vasto rol de eventos, designadamente concertos comentados de música clássica e erudita, bem assim como outras apresentações com artistas emergentes. O programa inclui ainda espectáculos de novo circo e, naturalmente, visitas guiadas aos locais sobre os quais agora se pretende um maior conhecimento e uma difusão mais ampla.
Através daquele plano de índole cultural, a iniciativa procura, pois, promover a fruição mas simultaneamente a valorização do património histórico e cultural dessas freguesias, tendo merecido co-financiamento no âmbito do Programa Operacional Norte 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Serão palco dessas acções, que se prolongarão até 18 de Setembro, sete espaços patrimoniais classificados, localizados nas freguesias de Figueiredo (Igreja de S. Salvador), Dume (Núcleo Museológico), Real (Capela de S. Frutuoso), Nogueira (Igreja de Santa Maria Madalena da Falperra), Nogueiró (Castro e Capela do Monte da Consolação), Mire de Tibães (Mosteiro) e Merelim S. Paio (Ponte de Prado).
Sobre esta matéria, convirá recordar que a vereadora da Cultura sublinhou, a propósito, que estes espaços “não foram escolhidos ao acaso: têm grande atractividade e são monumentos classificados que devem ser activados, não só na vertente cultural mas também turística". Lídia Dias também realçou a importância deste programa, ao destacar a circunstância de juntar o património bracarense à cultura emergente, ao mesmo tempo que o classificou de "muito relevante, sobretudo pelos tempos difíceis que a cultura atravessa".
Mas porventura o destaque mais impactante terá sido o reconhecimento de que “a aprovação da Estratégia de Cultura Braga 2030 permitiu perceber a importância de cultivar um conjunto de territórios, e de os qualificar e trabalhar apoiando os nossos agentes artísticos e o nosso tecido cultural”. Por essa razão, a responsável pela Cultura no Município de Braga mostrou-se plenamente convicta de que, desse ponto de vista, o programa “Descentrar” irá corresponder a um novo paradigma para o território bracarense.
A ser assim, a confirmar-se a viragem na política cultural, é de saudar efusivamente o reconhecimento e a tentativa de corrigir um equívoco que se arrasta há anos, e que se tem constituído como mais um factor condicionante da política do sector. E é de felicitar o município porque, sendo embora certo que tardou quase oito anos a perceber a realidade do concelho, parece que finalmente os responsáveis acordaram para essa mesma realidade e agora pretendem enfrentar os problemas. Problemas que, de resto, até já tinham sido reconhecidos no levantamento elaborado pela equipa que desenvolveu a estratégia cultural de Braga para a década de 2020-2030.
E esta, como tantas outras, constitui na verdade uma das inúmeras fragilidades então apontadas, e tacitamente aceites pelos responsáveis municipais, mas que lamentavelmente continuam a integrar o extenso rol de constrangimentos que, na área cultural, ainda é possível constatar-se na capital do Minho.
Nesse âmbito, nunca será excessivo recordar que alguns dos alertas do extenso documento se referem precisamente à “grande assimetria centro/periferia, no domínio da oferta e participação cultural”. Mas a equipa que elaborou a estratégia cultural para o próximo decénio também referiu outros obstáculos, como serão os casos da “subvalorização de equipamentos culturais fora do centro da cidade” e a “carência de sinalética, informação e conteúdo relevante de interpretação e mediação à visita no património imóvel”, entre outros.
Não tenho dúvidas de que programas como estes que agora vão ser colocados no terreno podem, de alguma forma, atenuar o enorme défice que, do ponto de vista da desigualdade entre a sede do concelho e as periferias, ainda se verifica. Mas também é perfeitamente óbvio que para acabar com essas e, já agora, com outras assimetrias que penalizam algumas parcelas da geografia municipal bracarense, é indispensável adoptar outras estratégias, consubstanciadas em políticas que privilegiem a subsidiariedade territorial.
Tenhamos, pois, esperança que as acções agora programadas e outras que se anunciam correspondam, de facto, a uma real mudança de rumo e não sejam apenas parte de quaisquer operações de cosmética no âmbito da pré-campanha eleitoral.

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