Para reflexão...
Voz aos Escritores
2022-06-23 às 06h00
Realizou-se, no dia 9 de junho, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, um Sarau Literário em homenagem ao escritor bracarense Fernando Pinheiro. O auditório da biblioteca encheu-se de público, maioritariamente juvenil, que, com a sua natural alegria, levou ao palco alguns contos do autor. ? bem conhecida, e reconhecida, a ação de Fernando Pinheiro no âmbito do teatro, pois além de ator é também exímio dramaturgo. O teatro e a cultura bracarenses muito lhe devem, sendo justíssima a presente homenagem. Ao longo da minha vida de professor e de participante em eventos literários, tive a oportunidade de conhecer o autor e de estabelecer consigo relações de funda amizade. Tive também oportunidade de ler, se não toda a sua obra literária, pelo menos a boa parte dela. E, porque o meu critério de apreciação estética do fenómeno literário é o critério do gosto e do rigor da escrita, posso dizer imediatamente que gosto e admiro tudo o que Fernando Pinheiro escreve. Gosto da sua poesia, assertiva, irónica, mobilizadora dos tópicos fundamentais da nossa contemporaneidade. Os livros "Ópera bufa" e "Razão" são disso excelente exemplo. Em tempos de guerra, é importante saber que alguém ainda procura pôr na sua despensa moral coisas tão simples como a paz, e se cansa denodadamente nessa luta. Concluir que a paz não se compra em nenhum supermercado e que depende do nosso comportamento é ideia evidente, mas que convém sempre relevar.
Gosto muito dos seus contos, de base brejeira e popular, ou não seja o autor um estudioso incansável da literatura oral e da literatura de cordel, que regista, adapta e refaz de forma sapiente. Ler estes contos mergulha-me nas vivências comunitárias da minha infância, nos lugares onde me fiz homem, nas sensações, emoções e sentimentos que me construíram e que constroem o nosso povo. "Alma Mater" e "Jardim das delícias" testemunham o que acaba de ser dito.
Gosto, ainda, das novelas. "Sonho e paixão em Apúlia" é, na sua singeleza, uma obra didática ímpar. Propondo vivências nas zonas naturais profundas (Gerês, praia e mar, dunas), o autor diz-nos implicitamente que podemos transformar o mundo, ora pelo contacto com os outros, ora pela figuração artística das diversas realidades, ora, ainda, pela ação política. Se os moinhos de Apúlia se apresentam como figuras arqueológicas das primeiras indústrias, há que preservá-los e mostrá-las às novas gerações. A consciência de que este tipo de didatismo se vem perdendo conduz o autor a sugeri-lo de forma clara, e até veemente. Veemente é também o seu apelo à salvação das estruturas dunares, facto que, felizmente, se concretiza na criação da reserva natural de Esposende e Apúlia.
Finalmente, gosto do pensamento organizado, da escrita rigorosa, do domínio absoluto das técnicas narrativas, do conhecimento filosófico e literário de obras como "Gualdim Pais - o último fronteiro". Este romance histórico, que narra a vida de Gualdim Pais desde o seu nascimento até à sua morte, é um compêndio de História de Portugal, com registo de ações de conquista e reconquista. Estamos nos primórdios da nacionalidade e ficamos a saber de personalidades como o nosso primeiro rei, Egas Moniz e muitos outras figuras relevantes, de cuja ação dependeu o fortalecimento da nossa nacionalidade. As referências à filosofia greco-latina, à patrística, à escolástica, ao pensamento cristão em época de cruzadas, a forma como a narrativa histórica se desenvolve de forma coesa e coerente, sob, sempre, um portu- guês de lei imaculado, leva-me a considerar este livro um dos grandes acontecimentos literários dos últimos tempos. Não se lê todos os dias um romance como "Gualdim Pais - o último fronteiro". O bracarense e português Fernando Pinheiro merece a nossa admiração. Admiremo-lo, pois.
17 Junho 2022
03 Junho 2022
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