‘Spoofing’ e a Vulnerabilidade das Comunicações
Voz às Escolas
2020-04-07 às 06h00
Tendo a comunidade do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio, assim como restante País, experienciado recentemente tempos difíceis e exigentes, a união em torno do ato educativo de pais, alunos, professores e pessoal não docente, fez com que fosse possível - tal como o resto da Nação, em inúmeras outras áreas -, a adaptação e construção, de um momento para o outro e com o sucesso, face às condicionantes, de toda uma nova realidade.
Subitamente, estávamos perante contextos que não se esperávamos, de todo, de ter de enquadrar: num primeiro momento, antes da suspensão letiva presencial (a que nos referimos, há menos de um mês, aqui mesmo!), o desafio de garantir, num ambiente de sempre crescente inquietude, que os quase três milhares e meio de alunos do Agrupamento podiam continuar a vir às escolas e continuar a aprender, em segurança e proteção; depois, uma segunda fase, após suspensão letiva, que surgiu de um dia para o outro, a necessidade de continuar a acompanhar, educar e formar os mesmos quase três milhares e meio de crianças, jovens e adultos à distância, mantendo toda a estrutura funcional do Agrupamento operacional. Assim, num repente, novas aprendizagens foram feitas pelos docentes, as aulas possíveis continuaram a ser dadas remotamente, os demais alunos e famílias foram acompanhados, as avaliações foram realizadas, os espaços das escolas foram seguros e higienizados e toda a estrutura organizativa e administrativa do Agrupamento manteve-se. Fim atingido apenas com um mínimo de elementos, incontornável, presente nos espaços.
Assim, e antes de a todos os demais, o nosso reconhecimento a esses poucos - e neles o reconhecimento a todos no País! -, que saíram e continuam a sair da segurança das suas casas e do conforto dos seus, pondo-o em causa, para garantir a continuidade do bem de outrem.
A todos, desta comunidade e da Nação, os que lutam em casa e os que lutam na rua, o reconhecimento da entrega abnegada à causa da educação e ao sucesso coletivo, face a um momento único da nossa história moderna.
Nas escolas, muito há ainda a fazer: começando por ultrapassar a dificuldade de alguns docentes, que já não esperariam tal desafio, em lidar com uma nova realidade tecnológica e educativa, até ao problema primeiro e maior da assimetria de recursos, não só tecnológicos, mas também de capital de apoio, de cada uma das diferentes famílias. Este é o primeiro e grande problema que queremos e estamos a resolver, face ao mais do que previsível arranque remoto do próximo período letivo.
Num contexto que a cada dia é novo, aguardamos serenamente as orientações que, ainda durante esta interrupção letiva, serão superiormente emitidas. Duas certezas, entretanto, já nos foram transmitidas: existirá um terceiro período letivo e existirá um novo momento de avaliação.
No entanto, adiantamos que algumas notícias recentes, vindas a lume na comunicação social, relativas à possibilidade de existirem aulas presenciais somente para os alunos do ensino secundário, suscitam-nos alguma inquietude, pelas razões seguidamente expomos: os docentes do ensino secundário são dos mais velhos de entre todos (por exemplo, a moda de idades, na ESAS, é de 60 anos) e constituem-se, com o acrescento muitas patologias inerentes, em grupo já de risco; as escolas secundárias são das maiores, implicando que um elevado número de alunos vai confluir, conviver, estudar e alimentar-se em espaços exíguos; os pais desses alunos, são também dos mais velhos; e muitos docentes, face a mais do que legítimas patologias (respiratórias, imunodepressoras, oncológicas, pós-oncológicas e outras), decorrentes e agravadas pela sua idade, não poderão, por explícita indicação clínica, lecionar, provocando diferentes contextos de aprendizagem, pondo em causa a equidade na preparação para os exames nacionais e no acesso ao ensino superior.
Presumindo, ainda, que os alunos do ensino secundário são os que melhor lidam com a realidade das aulas à distância, que também são os que possuem maior autonomia de aprendizagem (para o que o sistema educativo os preparou!) e que são os que, pela sua idade, os que não obrigam a que os respetivos pais necessitem de permanecer em casa (com o consequente impacto económico), entendemos que devem ser muito bem ponderados os eventuais benefícios do seu retorno físico à escola (que não nos parecem, face ao exposto, assim tantos…), com o risco de por em causa o enorme esforço coletivo que o País vem fazendo.
Uma palavra aos alunos do 12.º ano do Agrupamento, os quais juntam à ansiedade do momento presente, a ansiedade do acesso ao ensino superior: no caso particular da inclusão, no cálculo da média de acesso, da nota da disciplina de Educação Física, referimos que a situação específica, que entendemos que coloca, significativamente, em causa a equidade de todos os alunos nacionais no acesso ao ensino superior, já se encontra, de forma clara e assertiva, exposta superiormente.
Seja o próximo período letivo, no seu todo ou em parte, lecionado de forma remota ou presencial, o sucesso de todo o empreendimento educativo (tal como o sucesso de todo o empreendimento nacional presente), dependem do rigor e entrega de cada um: alunos, encarregados de educação, professores, elementos não docentes ou atores da demais comunidade envolvente.
Com os profundos desejos, para todos, de boa saúde, os votos de uma Boa Páscoa!
07 Outubro 2024
30 Setembro 2024
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