Braga - Concelho mais Liberal de Portugal
Ideias
2014-09-16 às 06h00
A terceira edição da Noite Branca que dominou o fim-de-semana de Braga e atraiu um autêntico mar de gente constituiu um enorme sucesso, na senda, aliás, do evento realizado no ano passado. Para esta avaliação não entram em linha de conta, até porque me faltam os dados necessários, orçamentos ou outros quaisquer números relacionados com a realização. O que me parece de relevar neste momento são os resultados e esses apresentam-se francamente positivos, quer na óptica do comércio e restauração locais, quer na do público, em geral, e dos bracarenses, em particular.
O presidente da Câmara Municipal enfatizou, já com o evento a decorrer, que a Noite Branca é um “momento de afirmação da marca Braga e da cultura da cidade”. Sob esse ponto de vista, particularmente no que à afirmação de Braga concerne, parece-me que Ricardo Rio também deverá estar satisfeito com os resultados. A questão da cultura será bastante mais complexa…
Com efeito, e pese embora o reconhecimento quanto às melhorias de que o programa beneficiou, na justa medida em que alargou consideravelmente o leque de “produtos” e promoveu uma abertura a todos os agentes, creio que na área cultural ainda existe um largo campo a explorar - e a corrigir.
Conforme se anunciava no sítio virtual da iniciativa, “a Noite Branca é um acontecimento cultural e de lazer, organizado pela Câmara Municipal de Braga e pela Fundação Bracara Augusta, que tem por objectivo celebrar e promover a cidade, a sua história, as infraestruturas, a juventude, a cultura e o futuro”. Temos de convir que para cumprir o conjunto dos itens referidos, um conjunto bastante ambicioso, deve assinalar-se, se impõe planear cuidadosa e atempadamente um programa pluridisciplinar abrangente que procure cobrir todas essas áreas. Mas não só.
Como se sabe, uma realização deste género reveste-se de enorme complexidade porquanto tem que ser pensada tendo em conta múltiplos aspectos, onde se inclui, por exemplo, a decoração - que este ano foi mais, digamos, fraquinha.
A julgar pelas três primeiras edições, creio que também seria vantajoso repensar a distribuição dos palcos e, nomeadamente, relocalizar o palco principal por forma a permitir a assistência de maior número de pessoas. Também perfeitamente dispensáveis são as confusões, para ser muito moderado na linguagem e não chamar os bois pelos nomes, criadas com ajustes directos e contratações, para já não falar no processo quase surreal relacionado com os quiosques das bebidas.
Em conclusão, entendo que o sucesso destas primeiras edições da Noite Branca não deve inebriar os responsáveis pela organização, bem pelo contrário, impõe a responsabilidade de aperfeiçoamento constante para que este evento se assuma definitivamente como uma das imagens da marca Braga.
A bordadas que estão algumas questões relacionadas com a Noite Branca, importa tratar um tema deveras repugnante, para não utilizar terminologia mais dura, mas cuja análise reputo de incontornável. Estou a referir-me à postura inqualificável assumida há dias pelo eurodeputado português Marinho e Pinto.
Como todos estarão recordados, o antigo bastonário dos advogados foi eleito para Estrasburgo na lista do Partido da Terra (MPT), formação política com quem celebrou a “união de facto” que lhe permitiu candidatar-se às últimas eleições europeias. Contudo, pouco tempo depois de tomar posse, Marinho e Pinto anunciou a sua saída do Parlamento Europeu para se candidatar às legislativas portuguesas do próximo ano mas sem fechar a porta também às presidenciais de 2016. Ou seja, agora diz acreditar que “os problemas nacionais são mais graves do que os europeus” e até descobriu que “o elemento agregador da Europa não está nos ideais nem nas políticas, mas no dinheiro”.
Mas por falar em dinheiro, será de referir que o antigo bastonário considera “ignóbil” que um eurodeputado aufira 18 mil euros mensais mas, curiosamente, está disposto a embolsar essa escandalosa verba durante um ano, até à anunciada saída de Estrasburgo.
Entretanto, há dias, Marinho e Pinto anunciou a sua desvinculação do partido em que se filiou ao mesmo tempo que garantia a criação de uma nova formação política. Esta decisão do ainda eurodeputado, que naturalmente passa a independente, terá sido tomada na sequência de uma reunião da Comissão Política do Partido da Terra na qual as suas teses foram derrotadas.
Evidentemente que Marinho e Pinto está no seu direito de escolher o momento para abandonar o Parlamento Europeu e prescindir do ordenado “ignóbil” que recebe. Como também lhe assiste o direito de se desvincular do partido em que se apoiou para chegar a Estrasburgo. Não deve é fazer os discursos moralistas com que frequentemente nos martela os ouvidos.
É por estas e por outras de idêntico jaez que insisto numa tecla frequentemente utilizada aqui nestas colunas: a descredibilização da política advém em grande parte da circunstância de alguns políticos entrarem ou se manterem na actividade política apenas para tratar dos seus interesses pessoais. E frequentemente, à promiscuidade entre interesses públicos e privados junta-se a mediocridade e o oportunismo político que, umas vezes em conjunto outras de per si, contribuem decisivamente para afastar os cidadãos da política, enfim, para enfraquecer o exercício de cidadania e, consequentemente, a qualidade da democracia.
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