Miguel Macedo
Ideias
2025-02-15 às 06h00
A Real Academia da Suécia agraciou os economistas Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson com o Prémio Nobel de Economia de 2024, em reconhecimento pelas suas importantes contribuições para o desenvolvimento da humanidade, nomeadamente quanto as pesquisas por eles realizadas, tais como:
(a) as disparidades de prosperidade entre os países;
(b) como as instituições são formadas e afetam a prosperidade;
(c) as propostas de novas estratégias para entender a desigualdade. Ora, os académicos Daron Acemoglu, turco-americano e Simon Johnson do Reino Unido são investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge (EUA), enquanto o aca démico James A. Robinson britânico é investigador da Universidade de Chicago (EUA).
Assim, a Real Academia da Suécia considerou, desde logo, de elevado mérito o trabalho realizado por aqueles laureados quanto a questão do porquê dos 20% de países mais ricos do mundo serem, atualmente, cerca de 30 vezes mais ricos que os 20% dos países mais pobres. E, também, o porquê da diferença de rendimento entre os países mais ricos e os mais pobres caracterizar-se pela sua persistência. Na verdade, pese embora, os países mais pobres tenham enriquecido, eles não estão, contudo, a aproximar-se dos países mais prósperos. Quer dizer, os laureados Nobel de Economia de 2024 “adicionaram uma nova dimensão às explicações anteriores da desigualdade, para as diferenças atuais na riqueza dos países ao redor do mundo”. Por sua vez, referem que as diferenças regionais entre climas, não poderão ser vistas sem antes compreender quais instituições sociais foram implementadas em cada país.
De acordo com os laureados as “instituições criadas para explorar populações são más para o crescimento económico de longo prazo, são as designadas “instituições extrativas”, enquanto que as instituições que estabelecem liberdades económicas fundamentais e um Estado de Direito são boas em termos de crescimento económico de longo prazo, conhecidas como “instituições inclusivas”. Para entender tal disparidade, os laureados avaliaram os impactos da colonização europeia do século XVI em diante, e perceberam a criação de dois principais tipos de colónias:
(a) em alguns países, os colonizadores chegaram com o objetivo prioritário de explorar os povos originários e extrair os abundantes recursos económicos em benefício dos colonizadores, gerando o que os pesquisadores classificaram como “instituições extrativas”, com forte propensão à geração futura de regimes ditatoriais e com mais desigualdade entre pessoas. Essas regiões costumavam ser as mais ricas, devido a sua forte e rápida oferta de recursos económicos para os colonizadores;
(b) em outros países, os colonizadores visaram beneficiar a longo prazo os migrantes europeus instalados nas regiões colonizadas, através da criação de “instituições inclusivas” com elevada propensão à geração futura de regimes democráticos e com mais abertura para a ino- vação, crescimento mais rápido e mais igualdade entre pessoas (esses países eram inicialmente os mais pobres). Em suma, criaram-se com a colonização dois tipos de instituições, por um lado, as que objetivavam o bem-estar das pessoas que ali chegavam para habitar “instituições inclusivas” e, por outro, as que pretendiam gerar instituições para facilitar e manter a dinâmica extrativa “instituições extrativas – estas, a longo prazo acabaram por permitir no futuro uma “reversão de riqueza”, isto é, tornaram-se mais pobres do que as do tipo de colonização anterior.
Complementando, pode-se indicar que a Real Academia da Suécia na avaliação do trabalho dos três economistas, teve em consideração, sobretudo, os seguintes pontos da investigação:
(1) A introdução de “instituições inclusivas” criaria benefícios de longo prazo para todos, mas as “instituições extrativas” apenas garantiam ganhos de curto prazo para as pessoas no poder;
(2) As sociedades com princípios de direito fracos e instituições que exploram a população não conseguem gerar crescimento económico nem melhorias;
(3) Uma das justificativas para as diferenças na prosperidade entre países encontra-se nas instituições sociais estabelecidas durante o período de colonização;
(4) Quando os europeus colonizaram grandes partes do mundo, as instituições nessas sociedades sofreram mudanças. Assim, enquanto em algumas regiões as instituições estabeleceram os fundamentos para sistemas políticos e económicos inclusivos, em outros lugares, o objetivo extrativo era explorar intensamente os recursos naturais e a população indígena,
(5) Em todos os casos, as populações originárias eram obrigadas a trabalhar em benefício dos colonizadores, e em muitos casos, tratados com inaceitável brutalidade, aliás, uma lacuna relevante no trabalho dos laureados.
Concluindo, poder-se-á dizer que a combinação do trabalho dos três economistas laureados teve um papel fundamental ao ajudar a compreender porque os países têm diferentes níveis de prosperidade na atualidade. Sublinham ainda a importância das instituições mostrando que os países que têm instituições mais fortes são os mais prósperos. Será também de vincar em resultado da investigação merecedora do Nobel de Economia de 2024, um alerta sumamente importante para os dias de hoje, ou seja: “na medida em que à escala mundial se observa a um retroceder dos países com sistemas democráticos e um aumento de países com sistemas autocráticos, em resultado ou não de movimentos populistas, será expetável com base nas ideias subjacentes ao trabalho dos laureados, que a longo prazo será expetável que haja menos crescimento económico e menor igualdade social nos países autocráticos.
19 Março 2025
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