Ettore Scola e a ferrovia portuguesa
Voz às Escolas
2019-04-29 às 06h00
O tema norteador escolhido este ano letivo para o nosso agrupamento foi “Mundo”. Embora trabalhado nas mais distintas dimensões, o mesmo impôs uma primeira reflexão. Que papel para nós, enquanto escola, no mundo atual?
O mundo de hoje, porque efetivamente globalizado, se não noutras dimensões, claramente na constante e sufocante competição económica e capitalista, tornou-se, consequente- mente, um onde o discurso sobre como conseguir sucesso nessa dimensão foi tornado central e de cariz crítico. Isto muitas vezes à custa da desvalorização e submissão de outas dimensões muito mais centrais da condição humana, no nosso entendimento.
Uma das consequências desse cruzamento entre a obrigatoriedade do sucesso económico das nações, com o desvalorizar das dimensões do ser humano que não contribuam para uma imediata e espúria competitividade das organizações eco-nómicas, foi o emergir de frustrações, individuais e de nações, que originaram um ressurgimento de discursos protecionistas e nacionalistas.
Estamos perante tempos de permanente inquietação, em que a estabilidade da vida de cada um é colocada em causa, vivendo-se também, a nível das nações, sob a ameaça constante da próxima crise económica que as arraste para o fundo.
Na busca da prontidão para tais tempos, que exigem um cada vez superior rendimento de cada indivíduo, preconiza-se a formação para a vida, a necessidade de se ser capaz de aprender, desaprender e reaprender e a posse de competências que sirvam a competição.
Efetivamente, estes tempos, quer gostemos deles ou não, com a volatilidade que os caraterizam, obrigam, efetivamente, à aquisição contínua de saberes e à necessidade, muitas vezes, de se esquecer de saber obsoleto, que condicione a aquisição de novo.
No entanto, no que concerne à focalização somente nas competências, claramente que discordamos dela. Não porque não sejam efetivamente necessárias, mas porque perigosas, se não construídas a partir de valores.
Entendemos que, na deriva atual, que avalia o sucesso somente pelo económico, até pela sustentabilidade continuada do referido sucesso económico, é essencial recentrarmo-nos em valores que sirvam a realização do ser individual e coletivo: a liberdade, a responsabilidade, o humanismo, a equidade, a sustentabilidade e a inquietação reflexiva, como “a centelha que motiva a descoberta e a construção do conhecimento”. Nas palavras de Alberto Sampaio, “fazer pensar é tudo; e a agitação a única alavanca que pode deslocar esse mundo: pois que agitar quer dizer - instruir, ensinar, convencer e acordar”.
Para a competitividade pedem-se competências como a autoconfiança, a adaptabilidade à mudança, a resiliência, a auto-organização, o relacionamento huma- no eficaz e a mobilização de equipas para atingir fins pretendidos. Como construir essas competências sem fazer pensar? E que perigosas essas competências sem valores a sustentá-las.
Neste contexto, que papel para a Escola? Obviamente educar para e com valores, construindo a capacidade primeira de fazer pensar.
E pensar e refletir exige tempo. Tempo que a agenda vigente do mundo global atual muitas vezes (se calhar com propósitos outros…) nos quer fazer crer que não temos.
O progresso é um percurso sem fim. Nos percursos sem fim, mais do que as metas, o importante é, obviamente, o caminho. Tornando-se, assim, o caminho no próprio fim.
Cabe às escolas e às sociedades que não busquem construir somente agentes para o sucesso académico ou económico, mas sim para agentes reflexivos, atuantes e realizados em todas as dimensões - individual, familiar, social ou como integrantes do mercado de trabalho -, constituírem-se como espaços de serenidade que propiciem essa construção.
A transformação de uma criança em jovem, e depois em adulto, é um processo longo. Por todas as razões, necessariamente sereno.
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