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Mundial de futebol - Vencer ou arcar com as consequências

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Mundial de futebol  - Vencer ou arcar com as consequências

Ideias

2022-11-27 às 06h00

Joaquim da Silva Gomes Joaquim da Silva Gomes

O Mundial de Futebol, que por estes dias se realiza no Catar, está a ser marcado por grandes polémicas, quer ao nível económico, quer ao nível dos direitos humanos.
Como primeira referência, recordo que o país organizador do Mundial de 2022 gastou mais com este evento do que todos os outros vinte e um mundiais de futebol juntos!
Recordo ainda que a Rússia desembolsou, há quatro anos, 11 mil milhões de euros na organização do Mundial de 2018 e, neste Mundial, o Catar gastou 210 mil milhões de euros!
A nível de direitos humanos, basta recordar que na construção destes estádios das arábias morreram cerca de 6500 trabalhadores!
Não querendo entrar na atual controvérsia relativa a este evento desportivo, vou recordar o Mundial de Futebol que mais polémica gerou até hoje, o de 1934, realizado em Itália, em pleno regime de Benito Mussolini.
O regime Fascista foi marcado pelo fervor nacionalista e pelo culto da personalidade do seu líder, Benito Mussolini, que tudo fez para que a Itália recebesse a organização do Mundial de Futebol de 1934.

Impondo a sua autoridade, Mussolini garantiu que o dinheiro não seria problema na organização do Mundial de Futebol, tendo destinado a esse evento a então enorme quantia de 3,5 milhões de liras!
O culto da personalidade de Benito Mussolini foi uma constante nesse evento, para o qual, por exemplo, foi construído em Turim o célebre ‘Stadio Mussolini’, em homenagem ao ‘Duce’ italiano!
A vitória desportiva da Itália no Mundial de 1934 era uma questão de honra pessoal para o ditador que logo projetou que a Itália ganharia esse Mundial fosse da forma que fosse! Assim, não hesitou em convidar para integrar a seleção italiana alguns dos melhores jogadores de futebol da América Latina, nomeadamente os argentinos Enrique Guaita, Raimundo Orsi e Luís Monti (que tinha jogado pela Argentina na final de 1930 no Uruguai) e ainda o brasileiro Amphilóquio Guarisi Marques, jogador da Portuguesa dos Desportos, e rebatizado em Itália com o nome de Amphilóquio Guarisi Marques.

Guarisi Marques, no Brasil conhecido por Filó e na Itália por Guarisi, foi o primeiro brasileiro a sagrar-se campeão do mundo de futebol, apesar de ter obtido o título mundial pela seleção italiana!
Na seleção da Itália foi ainda reintegrado o polémico futebolista Luigi Allemandi, que tinha sido suspenso definitivamente, por suspeita de manipulação de resultados, no jogo Torino-Juventus, em 1927, e que resultou na perda do título do Torino. Nesse jogo, Allemandi terá recebido 35.000 liras de um representante do Torino! Reintegrado na seleção italiana foi, inclusive, um dos titulares do jogo da final contra a Checoslováquia!
A obsessão de Benito Mussolini na conquista do título mundial de futebol levou-o a solicitar à Federação Italiana a contratação do mediático técnico Vittorio Poz- zo, exigindo-lhe, tal como aos jogadores, para “Vencer ou arcar com as consequências”!

De referir que o Uruguai, campeão mundial em 1930, não participou no Mundial de 1934, em resposta pela Itália não ter participado no Mundial anterior, no Uruguai.
Os jogos da seleção italiana ficaram célebres pela violência com que atuavam os seus futebolistas, pois encaravam os jogos não como uma partida de futebol, mas como uma verdadeira batalha física e guerreira.
Depois de vencerem os EUA por 7-1 nos oitavos de final, os italianos venceram os espanhóis, na eliminatória seguinte, ficando essa partida marcada pela brutalidade usada pelos italianos, que lesionaram com gravidade sete futebolistas espanhóis!
Na partida decisiva contra os espanhóis, os italianos venceram com um único golo, marcado de cabeça pelo mítico Giuseppe Meazza, depois de se ter apoiado nas costas de um espanhol para marcar esse golo!
Nas meias-finais dessa competição, a Itália venceu a Áustria por 1-0, com o único golo a ser marcado por Enrique Guaita, que no Mundial anterior tinha jogado pela Argentina!

Na final desse Mundial, a Itália venceu a Checoslováquia por 2-1, com o segundo golo italiano a ser marcado por Raimundo Orsi, um jogador argentino naturalizado italiano.
A final do Mundial foi disputada em Roma, no ‘Stadio Nazionale del Partito Nazionale Fascista’ (Estádio Nacional do Partido Nacional Fascista) perante 55.000 espectadores, entre eles Benito Mussolini, que havia cumprido o seu desejo de “vencer a qualquer custo”, ou então alguém arcaria com as consequências da derrota!
Depois de 1934, a Itália viria a sagrar-se novamente Campeã do Mundo no torneio realizado em França, em 1938, vencendo na final a Hungria por 4–2.
Pelo meio, a seleção italiana venceu ainda os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, realizados em Berlim, derrotando a Áustria na final, por 2-1, num jogo realizado no Estádio Olímpico de Berlim.

Para além de Benito Mussolini, ovacionado amplamente durante esta competição, ficaram para a história o selecionador da Itália, Vittorio Pozzo, o único selecionador que, até à atualidade, venceu dois campeonatos do Mundo seguidos e ainda os Jogos Olímpicos desta modalidade.
O outro protagonista italiano foi Giuseppe Meazza, que no Mundial de 1938 marcou, nas meias-finais, contra o Brasil, um golo de penálti, num momento verdadeiramente caricato: quando estava preparado para executar o penálti, o cordão que segurava os calções rebentou, tendo Meazza segurado o calção com a mão direita, perante os risos gerais dos espectadores presentes no estádio!

No final da competição, Meazza recebeu do Presidente de França, Albert Lebrun, a taça do campeão do mundo, fazendo nesse momento a saudação nazi, o que provocou a ira de muitos adeptos presentes!
Hoje, o seu nome está perpetuado em Milão, no “Stadio Giuseppe Meazza”.
Quanto a Mussolini, acabou assassinado e o seu corpo arrastado por um carro pelas ruas de Milão, depois de dias pendurado de cabeça para baixo!
Depois do triste exemplo do Mundial de Itália de 1934, vivemos hoje um novo Mundial, com novos protagonistas e novas polémicas!

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