Assim vai a política em Portugal
Ideias
2011-02-18 às 06h00
1 . Limitamo-nos a acompanhar António Ribeiro Ferreira que, no «Correio da Manhã», após toda uma análise caricatural, mas realista, de Sócrates e da sua figura acaba por reconhecer toda a evolução de “um pobre campónio deslumbrado pelo poder” que se tornou “numa figura internacional” e é agora “uma criatura falada nas grandes capitais (...), um sucesso obtido a pulso e com uma determinação inabalável: «Minto, logo existo!»”. ( cit. in Lux, n.º 561). Aliás uma amacacada fabulação do princípio cartesiano ôntico e metafísico duma simbiótica interacção entre a ideia e a realidade, aliás condensada num “Cogito, sum”, por muitos conhecido e interiorizado.
E a realidade dos nossos dias efectivamente nos mostra que, tal como ainda há dias escrevíamos, quando Sócrates nega qualquer coisa ou facto é certo e sabido que isso é verdade ou realmente aconteceu, sendo de todo inquestionável que já vai longo o tempo em que, continuada, inabalável e afoitamente nos vem enrolando com estórias de embalar, enredando-nos a todos nas “verdades” e “fetiches” da mentira, sempre bolçando irrealidades e palavras ilusórias.
Mas se isto é intrínseco e natural na sua personalidade, maneira de ser e de agir política, tem-se por certo que só já vai em tal conversa quem realmente se alheou e se desinteressou pela real situação do país, engrossando o número dos que, “engolidos” por uma partidocracia sufocante e clubista e vivendo do poder, não querem de modo nenhum perder regalias e privilégios e só pensam em subir na vida, mesmo servindo-se dos “escadórios” da mentira e das “almofadas” da corrupção, compadrio e amiguismo.
Interessada e interesseiramente, claro!....
2 . O Carlos Silvino, através de uma entrevista “cozinhada” na «Focus», estratégicamente temporalizada e com inelutáveis reflexos a nível de vendas e de projecção mediática, veio agora desmentir tudo o que dissera ao longo do julgamento “Casa Pia”, num claro mas encapotado “Minto, logo existo”.
Na verdade, diga-se, o Silvino, que já era uma figura quase esquecida e irrelevante da qual pouco ou ninguém falava, passou assim à ribalta e de novo a “existir” com tal entrevista conduzida por um tal Carlos Tomás, dito jornalista, que curiosamente é co-autor do livro “Carlos Cruz - As Grades do Sofrimento”, escrito de parceria com a sua ex-mulher Marluce.
Uma entrevista nada inocente, curiosa, oportuna e habilmente temporalizada que não deixa de sugerir e de sugestionar toda uma suja e orquestrada manobra de certos figurões da justiça, perfilados como costumeiros rábulas, vendilhões e trampolineiros do foro, e tão só para pôr em crise e perturbar a acção da mesma justiça.
Aliás é de sublinhar a sua coincidência com a distribuição do processo na Relação para apreciação dos recursos, sugestionando e fazendo acreditar em fortes e esconsos interesses, e quiçá encapotados dinheiros, a “sustentar” tão curioso e oportuno arrepio ou arrecuo ao dito. Que no entanto responde à voracidade dum povoléu bacoco, lorpa e ingénuo, suscitando discussões, comentários e opiniões nos media, e sobretudo audiência e schare. E também insinuações, reconheça-se, ao escrever-se que “quem vai julgar os recursos das condenações é o mediático Juiz Desembargador Rui Rangel, irmão de Emídio Rangel, amigo de longa data do apresentador “ (Flash, n.º 401).
Facto novo ou não, é imperioso ajuizar da real valência e realidade duma “verdade”(!?) só aflorada, assomada e assumida após o decurso dum alongado tempo de múltiplas audições, interrogatórios, inquirições e sessões de audiência, cotejando-a com a realidade irrefutável e incontestável das atitudes e posições tidas ao longo dos anos e julgamento. Tanto mais que, sublinha-se, se configura como de todo ilógica, irrazoável, material e absolutamente impossível tão serôdia “verdade”, tal como a manutenção no tempo duma tal “cabala” orquestada pela PJ e MP, como se quer fazer crer.
Aliás, note-se, de modo nenhum nos surpreendem os sorrisos, as esperanças, os “graças a Deus” dos agora inocentados e familiares, como não estranhamos as reacções e palavras dos advogados, mormente de quem já personificou a figura de agente infiltrado.
Perante tudo isto, reconheça-se, apenas se impõe fazer valer toda uma natural sensatez, seriedade e prudência e fazer vingar uma indispensável isenção, profissionalismo, independência e legalismo. Aliás confia-se e espera-se que os magistrados, ainda que tentados em fugir à responsabilidade e à “chatice” das decisões, fazendo baixar o processo por isto ou por aquilo ou “entretendo-se” com os usuais interstícios, artimanhas e melopeias da lei, tenham a coragem de ajuizar e decidir. Até porque um alongamento no tempo, e consequente atraso, é obviamente o fim visado por esta serôdia, insólita e curiosa manobra de diversão. De um «Minto, logo existo» de cariz cartesiano, mas muito hábil e oportuno com vista a uma inexorável prescrição.
3 . Já quase nada nos surpreende do que dia a dia nos vem da PGR. Os inquéritos de que são objecto os dois procuradores do processo Freeport, as duas procuradoras do caso dos Submarinos e ainda a muito falada Cândida Almeida, para além de alguns outros que puseram em crise a acção do PGR e seu Vice, seguem toda uma linha de procedimento e de actuação do MP nos últimos tempos, condicionando e infirmando de todo um desejável clima de isenção, competência e independência.
O PGR, em despacho de 13.1.11, cuja publicitação no SIMP foi ordenada ( e por que não também em «A Bola» e no jornal «Benfica» !?...), exarou um louvor à Morgado referenciando-lhe a “coragem, espírito de sacrifício, dedicação, lealdade e persistência revelados no desempenho das missões de que foi incumbida, e em condições bastante adversas, mas também a sua invulgar capacidade de dirigir, coordenar, motivar e inovar (...)”, curiosa e ironicamente se aludindo ao seu trabalho no “Apito Dourado”, um caso que, não obstante uma programada e sustentada exaltação mediática, se saldou num notável fiasco do MP, desde os Teixeiras às Morgados. E isto apesar de toda a porfia e teimosia do PGR e seus pares concretizadas em avocações, indicações, orientações e recursos que acabaram por desaguar em absolvições.
Na verdade verificou-se todo um despropositado afã em mediatismo e escaparate, aliás de mãos dadas com muitos gastos, muitas notas e muita polémica a que subjaziam esconsos e nada inocentes interesses, com o MP a envolver-se e a enredar-se demasiado para gáudio de uns, censura de outros, desautorização e atropelo de magistrados e o surgimento natural de um perverso, incómodo e notório clima de mal estar, cansaço e descrédito em relação à PGR, seu chefe e mandatárias.
Mas se tal louvor é insólito, inaudito e no mínimo questionável, ainda que “alimentando” incontroláveis vaidades, com certa satisfação e esperança o acolhemos e registamos por poder ser sinal da saída próxima de P.Monteiro, já que é usual “bolçar-se” louvores quando se deixa um cargo ou o poder.
Uma saída tardia que só pecará pela demora, sendo certo que ainda nos interrogamos por que razão se manteve tanto tempo no cargo. Aliás por mera ironia até poderá pensar-se que certamente não estará à bica qualquer outra acusação ou processo contra Sócrates ou então que é seu intento abandonar o barco da governação. O que, depois da “bronca” das presidenciais e “campanha” assumida pelo governo (Sócrates, A. Martins, Santos Silva e outros), até não surpreenderia ninguém!...
06 Dezembro 2024
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