Correio do Minho

Braga,

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Medalhas e comendas de ouro ou pechisbeque?

As emoções no outono

Ideias

2022-03-26 às 06h00

Humberto Domingues Humberto Domingues

Através de Despacho da Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, de 17 de Fevereiro/2022 e publicado em DR de 11 de Março/2022, através do Despacho nº. 3055/2022, foram condecoradas várias individualidades, personalidades e instituições que se distinguiram “no contexto da resposta à pandemia de covid-19”, que a todos afectou, já sacrificados com a crise que se fazia sentir.
Os Profissionais de Saúde – Enfermeiros, Médicos, as diferentes classes de Técnicos Superiores e Operacionais – não escaparam de forma alguma à “pandemia”. Viveram-na de duas formas: Primeiro: a assegurar o funcionamento dos serviços em turnos imensamente intensos, esgotantes, longos e trabalhosos. Segundo: Muitos destes Profissionais infectaram-se no local de trabalho e passaram a viver dias e semanas angustiantes do “outro lado”, agora na condição de doentes. Alguns faleceram! Mas todos foram esquecidos neste Despacho!
No desempenho de funções, como todos os Cidadãos viram e sentiram, muitos destes Profissionais, nomeadamente Enfermeiros, deixaram de ir para casa, deixaram a Família, passaram a pernoitar e a viver noutros espaços, quartos e apartamentos, alguns deles cedidos gratuitamente, durante alguns meses.
Fizeram turnos longos, desgastantes e sofridos, dentro de fatos blindados e calafetados, com mascara, viseira e todo o desconforto daí decorrente. Asseguraram turnos e serviços em exaustão e burnout, evitando a rotura de serviços e instituições de Saúde.
Programaram, asseguraram e escalaram todo o período vacinal contra a covid-19, com galhardia, altruísmo, dedicação e profissionalismo, sem gozo de folgas, nem férias e com horários longos, prolongados e esgotantes.
Portugal alcançou uma alta taxa de vacinação o que veio a ser muito positivo nas vagas covid que se sucederam, diminuindo as taxas de mortalidade e novas infecções. Todos os indicadores desta “pandemia” começaram a melhorar em consequência desta entrega e trabalho abnegado de Enfermeiros Médicos, Assistentes Operacionais e todos os outros Profissionais.
Eis que, perante tudo o vivido em condições muito dolorosas e de falta de recursos, Sua Excelência o Presidente da República, decide atribuir a mais alta condecoração ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) “como Membro Honorário da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”. De seguida a Srª. Ministra da Saúde, por despacho acima referido, decide conceder a “medalha de serviços distintos do Ministério da Saúde, grau ouro” a várias entidades, personalidades e serviços. Até aqui tudo bem.
Mas… que estranho… não estarem em evidência e também condecorados Enfermeiros, Médicos e Todos os outros Profissionais de Saúde, que foram essencialmente os grandes pilares da sustentação de todos os serviços durante esta longa jornada – a “Pandemia Covid”?
Chegados aqui, registamos mais uma vez a ingratidão da Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, e do Governo, para com os Enfermeiros!
Tenho para mim, que as condecorações e comendas não devem ser banalizadas e servem para agradecer, realçar e valorizar, servindo como exemplo, actos de galhardia, altruísmo e valor, reconhecendo-se perante a Sociedade, esses mesmo actos e valores. Assim sendo, ou todo o trabalho desenvolvido pelos Profissionais de Saúde, tem um valor altíssimo, que nenhuma comenda ou condecoração poderão agradecer e por isso a Srª. Ministra da Saúde não está ao nível de a poder decidir, atribuir e condecorar, ou o seu inflamado ego impediu-a de avaliar com clarividência, justiça, bom senso e isenção, o valor dos Profissionais que tem sob sua tutela, o que é um viés grande para um membro do governo de qualquer país e sobretudo com a pasta da Saúde.
Se por um lado, os Enfermeiros não estão à espera e não querem palmadinhas nas costas, nem condecorações ou comendas forçadas com cheiro a bafio e cínicas, por outro lado, como qualquer Humano ou Classe Profissional, gosta de ser reconhecido por todo o valor, entrega, altruísmo e profissionalismo que oferecem no desempenho das suas funções, particularmente durante tão agreste, esgotante e demolidor período que foi a “Pandemia”.
De forma tendenciosa e com uma enorme falta de isenção e cheia de preconceitos e estados de alma, como a Srª. Ministra da Saúde atribuiu a condecoração de “Medalha-Grau Ouro”, motiva com certeza, indignação aos Enfermeiros e Médicos.
Mas sendo assim, com esta decisão da Srª. Ministra, retirou uns bons quilates de valor a este ouro, desta medalha, correndo-se o risco de se transformar esta medalha em latão ou pechisbeque, retirando com isso mérito merecido a quem foi condecorado. E quem foi condecorado, com este “pechisbeque”, como se sentirá? Não estranharam a falta de reconhecimento de Enfermeiros e Médicos?

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