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Médicos continuam a fugir do SNS

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Médicos continuam a fugir do SNS

Ideias

2023-05-29 às 06h00

Carlos Pires Carlos Pires

Há 3 anos atrás, e neste espaço de opinião, sob o título “Há heróis no Hospital de Braga. Há heróis nos Hospitais Públicos”, relatei aos meus estimados leitores a experiência de ter acompanhado uma familiar próxima aos Serviços de Urgência do Hospital de Braga, a que se seguiu o internamento.
Até essa altura não tinha pensado no Sistema Nacional de Saúde, na sua importância e necessidade, na forma como estava articulado e na importância do mesmo para as populações.
Reconheço que é necessário passarmos por situações destas, de aflição, para termos sensibilidade e empatia por quem diariamente tem como profissão cuidar dos outros. E é também com base nessa experiência que facilmente nos podemos orgulhar do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS), do qual os hospitais e os Centros de Saúde são verdadeiros cartões de visita, e que constitui algo estruturante para a sociedade e para o progresso do país.

Muito se ouve falar do SNS, a maior parte das vezes em tom de crítica negativa: há listas de espera, há falta de camas, há doentes que morrem por falta de assistência, etc etc. O que eu sei e o que eu posso testemunhar é que o Serviço Nacional de Saúde tem profissionais de excelência, incluindo médicos e enfermeiros, passando pelo pessoal auxiliar, até ao pessoal administrativo e todos os que de alguma forma contribuem para que o serviço funcione. São profissionais de saúde para quem tudo o que importa é o bem-estar e a recuperação dos doentes. Mesmo com carreiras profissionais congeladas. Mesmo com horários de trabalho pela noite fora, por vezes mais de 24 horas. Mesmo com retribuições equivalentes ao salário mínimo nacional (o caso dos auxiliares!). São profissionais de saúde que, não obstante, conseguem sorrir, apertar a mão a quem está numa situação de fragilidade, dar uma palavra de ânimo. São eles que mantêm o Serviço Nacional de Saúde a dar resposta e a cumprir a sua missão.

Recentemente soube-se que das mais de 970 vagas abertas a concurso para médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar só 393 foram preenchidas - o que corresponde a aproximadamente 40% das vagas disponíveis - e nem todos vão ficar.
Sim, é de reconhecer que houve um desenvolvimento positivo: a abertura de muitíssimas mais vagas do que aquelas dos médicos que concluíram a sua especialidade na primeira época. Contudo, a infeliz certeza de que não vai haver substituição dos médicos que se reformaram nem daqueles que foram para o privado. São 1100 que se vão reformar este ano. Vai continuar a haver um crescimento de utentes sem médico.
Sejamos realistas, o desfecho e os resultados deste concurso devem ser vistos com preocupação, pois revelam, mais uma vez, que os médicos estão cansados da falta de condições de trabalho que o SNS lhes oferece.
Falta atratividade ao SNS.  Um médico especialista aufere cerca de 1800 euros. Se tivermos em conta fatores de deslocação, torna-se incomportável. Sim, impõem-se grelhas salariais justas, condições de trabalho dignas e medidas que apoiem a parentalidade dos médicos. Por fim, há que garantir um projeto profissional no SNS que permita aos médicos prestar o apoio seguro e de qualidade à população, além de poderem conciliar a vida profissional, pessoal e familiar.

Tenho os profissionais do SNS como profissionais de excelência, como heróis. Para eles vai, pois, todo o meu respeito e admiração. Apesar de todos os problemas e limitações, são eles que continuam a manter a máquina a funcionar, todos os dias, de forma competente e empenhada, sempre com o propósito de prestar os melhores cuidados de saúde à população. Está na hora dos políticos criarem as condições necessárias para que todos nós possamos continuar a contar, em momentos de fragilidade das nossas vidas, com o apoio dos heróis – profissionais do SNS.

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