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Mais uma vez

Ser Dirigente no CNE - Desafios

Mais uma vez

Ideias

2025-03-21 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

Pois é verdade, lá vamos mais uma vez votar. Também não vale a pena entrarmos em grande depressão ou ansiedade, porque no fundo vamos repetindo o que se tem passado em muitos outros países, com democracias bem mais antigas que a nossa, e envolvidos em processos de crescimento económico recente mais complicados. Portanto, pronto, é assim a vida democrática, com as suas regras de funcionamento e os incentivos que vai criando a um envolvimento mais cooperativo das partes.
Apesar de tudo, a crise que nos trouxe ao dia de hoje, já com o Parlamento dissolvido, foi estranha. Ainda que as notícias sobre o rendimento do Primeiro Ministro e as suas utilizações alternativas tenham surgido há mais tempo, o verdadeiro pontapé de partida para o seu agudizar surgiu de uma notícia do Expresso sobre a já célebre empresa de advocacia e seus potenciais clientes. Ou seja, uma notícia dada por um jornal que justamente é percecionado como um jornal sério e não um mero veículo de notícias provocatórias, eventualmente falsas. E que ainda por cima pertence a um grupo económico, propriedade de um dos fundadores iniciais do PSD, ex primeiro-ministro, etc. Claro que aqui os muitos, muitos anos que levo já de leitura de livros policiais, a par das muitas horas passadas a ver séries desse mesmo tipo, me fazem soar um botãozinho vermelho. A questão que sempre se coloca face a um homicídio, é: a quem aproveita o crime? Porquê a notícia do Expresso, porquê o destaque que lhe foi dado? E para quê?
Em todo este processo, devo dizer em primeiro lugar que nada tenho contra a capacidade empreendedora de quem quer que seja. Que o desempenho empresarial beneficie da reputação do líder da empresa, advinda de competência própria ou de contactos políticos, é expectável. Pode permitir ou mesmo enquadrar, é certo, problemas ao nível da concorrência, mas muitas vezes todos esses problemas se situam muito mais no que respeita a perceções do que na realidade dos factos.
Ainda assim, neste caso em particular, houve uma coisa que me surpreendeu. Montenegro liderava uma empresa cujo capital humano era constituído tão só por advogados. De acordo com a CAE, era, portanto, um gabinete de advocacia, aparentemente especializado na área da proteção de dados. Ora de entre uma das diversas explicações dadas por Luís Montenegro sobre a atividade empresarial em causa foi referido o caso de um trabalho, longo por sinal, na criação ou desenvolvimento de uma marca, da identificação de potenciais parceiros e, no geral, reestruturação empresarial. Pelo menos, foi o que percebi das informações prestadas em sede de uma televisão. Um trabalho que certamente se enquadra numa empresa de consultoria em gestão, com técnicos especializados em marketing e estratégia empresarial. Depois, se minha nora fosse fazer integralmente o trabalho, para que precisaria eu de um intermediário?
Seja como for, chegamos então às portas de uma nova eleição. Este governo da AD não teve vida fácil; em menos de um ano, confrontou-se com duas moções de censura, e apresentou uma moção de confiança que sabia de antemão ser rejeitada. O Orçamento de Estado só foi aprovado graças ao voto do PS, e o mesmo aconteceu com a eleição da Presidência da Assembleia da República. Portanto, andou sempre a caminhar sobre o parapeito da ponte, digamos assim, cai não cai. É fácil perceber porquê, dado tratar-se de um governo claramente minoritário.
Tomou no entanto, desde o seu início, uma postura de não abertura ou procura sequer acordos claros. O comportamento não cooperativo, herdeiro porventura de uma abordagem política cavaquista, não era fácil de manter e enquadrar num Parlamento onde, pela lei dos números, era sempre possível fazer aprovar legislação e políticas não governamentais. A matemática é terrível. O Governo preferiu então optar por governar para o curto prazo. A saúde das contas públicas, a disponibilidade de fundos comunitários, o crescimento económico sustentado, tudo isso herdado do governo anterior, a par da baixa tendencial da taxa de juros, justificava e permitia a opção pelo curto prazo, fidelizando clientelas. Satisfizeram-se diversas classes profissionais nos seus interesses específicos, e ultimaram-se processos em evolução, como o caso do aeroporto de Lisboa. Substituíram-se os cargos dirigentes da administração pública, identificados na generalidade como incompetentes, permitindo a captação de tantos outros da confiança política.
As promessas setoriais, destinadas ao longo prazo, foram mais difíceis de desenhar e implementar. Na campanha eleitoral tinha perpassado a ideia de que os constrangimentos na habitação, na saúde, na educação, na justiça se deviam á inabilidade, mesmo incompetência dos governos PS, sendo facilmente ultrapassáveis. Mas por agora o que vemos é os problemas na habitação se agudizaram; na saúde, os hospitais rebentam pelas costuras, os centros de saúde não dispõem de todas as vacinas obrigatórias do Plano Nacional de Vacinação para bebés. Parece que se descobriu, de novo, a solução miraculosa de vender a saúde pública…
E este ano o país ainda deverá manter o ritmo de crescimento nos 2,3%, acompanhando a aceleração da procura externa e a execução dos fundos externos, mas para 2026 e seguintes já se prevê um abrandamento claro!
Vamos lá às eleições!

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