Recorrentemente, porque acredito que as organizações escolares, ainda que juridicamente iguais, são também, na cultura e identidade que buscam e na ação, significativamente distintas, retorno à frase de José Saramago, plasmada no nosso Projeto Educativo e que tão bem retrata esse contexto: “O que sabemos dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar.”
Ontem, na Universidade do Minho, num auditório repleto de personalidades, pares, amigos e família, aconteceu uma reconhecida homenagem ao percurso e à pessoa, agora que uma nova etapa da sua vida se inicia, de Licínio C. Lima.

Foram inúmeros os testemunhos, oriundos das mais diversas partes do planeta educativo, que atestaram o papel ímpar do Professor Doutor Licínio Lima nas Ciências da Educação, nos últimos 40 anos. A partir da sua centralidade de Professor catedrático, agora jubilado, do Departamento de Ciências Sociais da Educação, do Instituto de Educação da Universidade do Minho, Licínio Lima foi professor visitante e presença regular em inúmeras universidades e instituições da Europa, América Latina, África e Ásia. Ao longo da sua prolífica carreira de investigador, pensador e autor – que, acreditamos e esperamos, esteja longe de terminar –, produziu, significativamente, bem mais de uma centena de publicações, entre livros de autor, capítulos de livros, atas e contributos em revistas.
Mas o principal impacto da carreira de Lícino C. Lima nas Ciência Sociais da Educação transcende claramente a palavra escrita: reside na palavra oral, servida pelo saber alicerçado e a paixão que coloca em todas as suas intervenções e que, por tal, marcaram, no último meio século, tantos agentes da educação, que tiveram o ensejo de o ouvir.
Assim foi ontem, quando fez uma visita, livre e irreverente, ao percurso da educação em Portugal desde a Revolução dos Cravos, na sua conferência “50 anos de educação em democracia: revolução, reforma, governação”. Encerrando, assim, com chave de ouro, os três dias do “V Colóquio Internacional de Ciências Sociais de Educação”, evento que comemora os 50 anos de educação em democracia, sob o relevante tema "Eu vim de longe... eu vou p´ra longe".

Bastaria a proximidade à Universidade do Minho, onde tantos dos seus docentes se formaram ou pós-graduaram, do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio, para a marca de Lícino C. Lima, em nós, ser marcante. Mas ela transcende e muito, esse limite. No início da sua carreira de docente, é na Escola Secundária de Alberto Sampaio que Licínio Lima estagia. Mais tarde, o cruzamento da sua investigação com o trabalho de campo e o papel de discreto observador das práxis, na ESAS, servirão a sua tese de doutoramento, onde apresenta uma análise multifocalizada dos modelos organizacionais de escola pública, originando uma sua primeira obra maior “A Escola como Organização e a Participação na Organização Escolar – Um estudo da Escola Secundária em Portugal (1974-1988)”. A partir desse embrião, temos contado, para nosso contentamento e proveito, com a palavra regular do Mestre, quer na nossa Defacto, quer enquanto conferencista, em inúmeros momentos relevantes do percurso da ESAS e da Educação em Portugal. De que foi exemplo maior o excelente momento com que nos presenteou, juntamente com outro excelso pensador, An-tónio Sampaio da Nóvoa, aquando das comemorações dos 50 anos da ESAS sob a égide do patrono, quando refletiram, conjuntamente e perante uma rendida plateia no nosso Auditório Sebastião Alba, sobre “os últimos cinquenta anos e os futuros da Educação em Portugal”.

Mas, para nossa Comunidade, falar de Licínio C. Lima é indissociável de falar da Maria Helena Leite, sua companheira e esposa de sempre. Numa carreira intencional e meritoriamente distinta, mas indelevelmente ainda mais profundamente ligada a nós, a Maria Helena foi, nos últimos 40 anos, a amiga, a colega sempre presente para os pares e a docente constantemente preocupada com os seus alunos e com o sucesso da nossa Comunidade Educativa. De esse plural e permanente envolvimento resultou a assunção, com coragem e num momento particularmente crítico para a comunidade - a agregação de escolas -, do cargo maior de primeira Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio. Cargo que desempenhou, com assinalável lucidez e lealdade, durante os últimos oito anos da sua carreira, até a sua aposentação.
Como o esposo, a Helena também estagiou na ESAS, onde desenvolveu a quase totalidade da sua carreira docente. Foi, ainda, membro de várias direções e Presidente do Conselho Diretivo, para além do desempenho de outros cargos e do seu papel maior e primeiro de professora. Em paralelo, foi ainda uma sindicalista emérita, que ajudou inúmeros colegas, e defendeu a causa da educação pública.
Duas carreiras distintas, paralelas e mutuamente apoiadas, de dois grandes profissionais e seres humanos.
A nós, Comunidade – e mim pessoalmente – só nos resta agradecer, Licínio e Helena, a Vossa amizade o Vosso elevado e indelével contributo para a identidade do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio. Muito, muito obrigado! Continuaremos a cruzar-nos!