Bibliotecas de Leitura Pública com rosto
Escreve quem sabe
2023-02-05 às 06h00
Lógica férrea, ou volátil acaso? Como sucede que Costa maioritário vareje, se Costa geringonçado desfilava graciosidades sobre tapete de flores? Mistério ou talvez não, rédea curta ou desmazelos de quem a sóis se assimila, de quem por sóis se deixa fascinar, perdendo – desprezando? – distância crítica e potência reflexiva.
Actor que se desconjunta em palco, actor à nora entre marcações, actor de falas trocadas. Fosse Costa um actor, estrela de papel de pôr e tirar num virar de dia, por resposta a charivari anedótico. E, já que o caso aludo: mas quem é que dá crédito a divagação estapafúrdia de pessoa atónita consigo, pessoa que, quanto a si não se basta, melhor selector de linhas e agulhas se julga para os alinhavos da vida social?
Tristezas de trans feitas grandezas de minuto ou dois à boca de cena. Que buscasse ele – ela! – protagonismo fora das misérias de prostituto – prostituta! –, dentro da colorida expressão empregue. Muito bem, e até aplaudo, porque antes este holofote que as penumbras ou os vermelhos de bas-fond. O que tardo a perceber, porém, e de todo a não aplaudir, é que encenador que se preze remende elenco com tal celeridade. A menos que tudo não passasse de truque publicitário. Estariam feitos?
Reserva lavrada, acode-me memória longínqua – um prémio inesperado de dissertação inesperada sobre a dimensão psicológica das técnicas de Serguei Eisenstein. Universidade de Moscovo. Participação imprevista nas Olimpíadas de Psicologia. Participo, sem bem saber ao que me proponho.
No que aqui importa, ao que recordo quarenta anos depois, era exigência de Eisentein que o actor não perdesse a noção do simbólico e, quanto não encarnasse a personagem, se mantivesse a distância crítica, exercendo duplo controlo – sobre si, sobre o representado. A mim, no que estudava sobre personalidade e comportamento, interessava-me este diálogo entre o agente e o acontecente, este fôlego entre o “ir” e o “ver-se”.
Abrevio evocações sem espaço em curta crónica. Deixo um «bons tempos!», por contraste com estes maus tempos em que, por cotas ou palermices afins, um trans só possa ser legitimamente representado por um trans, em que de orquestra sinfónica se despedem músicos brancos, porque negros não figurem em número bastante. Estranha civilização, em que somos cada vez menos «pessoa», para sermos cada vez mais, e opressivamente, etiquetas.
Somos conjugações, somos campo de opostos. Podemos ter tiradas, hoje de um tom, amanhã do contrário, conforme durmamos e acordemos, e ai de quem se negue ou reprima em si esse pulsar de espontaneidades. Não há moralista canhestro que se recuse os frémitos de uma guerra. Corria a troika, tomado da sua importância, houve um banqueiro que nos disse que teríamos que aguentar o que o cinto apertasse. Tomado da sua excelência, ouvimos de Costa um “habituem-se”. Ora, do lado de cá, nem um aguentaria, nem outro se habituaria, e não prima por cultura democrática – por cultura, tout court – quem avesso é à reversibilidade de papeis.
Encenador e PM à margem das atribuições. E uma partida dos redactores de leis e dos juízes do TC também. Eutanásia por “sofrimento espiritual”? Será obrigatório o preenchimento de tripla condição? Quem está em fim de forças físicas e psíquicas precisa de meter terceira a toda a caixa?
E, ao certo, o que é o sofrimento espiritual? Equivoca-se quem confunde o “espiritual” com o “religioso”. Mas isso é prosa para muita hora.
Entretanto, bom é que saibamos que agoniza a Nação em que o “espiritual” não luz. No resto, haja Cultura, que a decisão justa não brota por acaso.
26 Março 2023
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