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Braga, terça-feira

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Labirinto

A responsabilidade de todos

Conta o Leitor

2018-08-12 às 06h00

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Autor: Ana Maria Monteiro

Nunca te esqueças: duas à esquerda, depois à direita e em frente. Até ao fim.
- E agora corre, Paula, corre!
Largou a correr.
Duas vezes à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Meu Deus, onde estou? Não vejo nada. Só esta imensa luz.”
- Corre, Paula , corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Que é isto? A minha mãe no chão? Morta? Assassinada?”
- Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Que homem de olhar lascivo. Conheço-o.”
- Que queres pai? Pai, por favor… não!
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Que se passa? Porque está aqui a Cristina?”
- Cristina, que fazes? Pára, por favor, pára!
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Cristina de novo? Para que é essa faca na mão?”
- O pai, Cristina? Que foste fazer?
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Que bem se está aqui. Que bonita me sinto. O padre pergunta e eu respondo apenas, Sim!”
- Cristina?! Sai daqui! Ninguém te convidou. Cristina! Sai!
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“O meu bebé está tão calado. Que tens, meu amor? O meu bebé não respira. O meu bebé está morto.”
- Socorro! O meu bebé, ajudem-me. Cristina. Onde estavas que não te vi? Vai-te embora. Vai. Desaparece.
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
- Afonso! Afonso! Acorda Afonso! Acorda.
- Cristina. Que se passa? Porque me apareces em todo o lado? Sai da minha vida!
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
- Afonso, que fazes dentro dessa caixa de madeira? Como foste aí parar? Afonso, preciso de ti. Não o levem. Não fechem a caixa. Afonso! Afonso!
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
- “Grades e paredes por todo o lado? E paredes. Paredes altas, muros. Não vejo o sol. Não vejo nada. Não percebo.”
- Tirem-me daqui, não fiz nada. Soltem-me!
- Porque estás aí a olhar para mim, Cristina? Que queres? De que ris? Qual é a graça?
Corre, Paula, corre!
Duas à esquerda, depois à direita e a seguir em frente.
“Porque estou nesta cama? Porque não consigo sair dela? Que aconteceu?”
- Vieste visitar-me, Cristina? Porquê? Não te quero na minha vida. Sai. Sai. Sai.
- Tanta luz. Onde estou? Para onde corro? Não vejo nada.
- Chegaste à saída, Paula.
- À saída? Como assim? Aqui foi por onde entrei. Recordo-me da luz.
- Sim. Sairás como entraste, tal como todos. Já percorreste o labirinto.
- Mas não cheguei a lado nenhum, andei sempre a correr.
- E onde esperavas chegar? Porque correste?
- Era a voz que me comandava e mandava correr, eu não tinha escolha.
- Deste ouvidos ao que entendeste dar Paula Cristina. Foi a tua escolha. Agora acabou.



FIM

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