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Ideias

2017-01-23 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Não são tempos bons para o jornalismo estes que vivemos. Nos EUA, Donald Trump tem tido comportamentos censuráveis no relacionamento com os media noticiosos. Por cá, a classe jornalística, recentemente reunida em congresso, vem exprimido preocupações relativamente a uma liberdade que tem vindo a ser (bastante) comprimida.

Foi inverosímil a primeira conferência de imprensa de Trump enquanto presidente eleito. Marcado para o dia a seguir ao discurso de despedida de Barack Obama numa tentativa de capitalizar todo o impacto mediático para si, esse encontro com os jornalistas foi subitamente dominado por um assunto delicado lançado pela CNN nesse dia: a suspeição de que a Rússia teria em sua posse informações comprometedoras sobre aquele que iria tomar conta do poder político dos EUA. Em frente dos jornalistas, Donald Trump exaltou-se com o repórter da estação de notícias norte-americana, mandando-o calar sem cerimónias. Teria sido desejável que, nesse momento, os restantes jornalistas se solidarizassem com o colega que ali era humilhado e abandonassem a sala, mas tanto lá, como cá, a classe não sente conforto para tomar esse tipo de posição. Por isso, os políticos se permitem certos avanços em relação à violação do direito a informar.

Refira-se que não são apenas os políticos que têm um relacionamento, por vezes, difícil com os media. Há réplicas disso noutros campos. O futebol é, a esse nível, fértil em maus exemplos. Qualquer clube da I Liga tem uma assessoria de imprensa própria. No entanto, em Portugal, seguindo aquilo que testemunham os jornalistas de desporto, nem sempre se promovem aí estratégias de abertura e transparência que facilitem o acesso à informação que os repórteres procuram, frequentemente muitíssimo pressionados pelo tempo.

Também é verdade que muitas vezes os clubes adoptam comportamentos que mais parecem corresponder a um ímpeto dos dirigentes do que a uma política de comunicação pensada no âmbito das relações públicas. É comum um clube instituir um blackout com os jornalistas, apenas porque não aprecia a noticiabilidade produzida. Também é conhecido o jogo de informação e contrainformação que existe em determinados contextos. Apontamos aqui o exemplo da compra e venda de passes dos jogadores onde se podem transacionar milhões de euros.

Isso significa que os media podem constituir-se como um vértice de um triângulo que se revela fulcral na negociação dos empresários de futebol com os clubes interessados na compra ou venda de determinado jogador.
Depois de quase 20 anos sem ter havido qualquer congresso, os jornalistas portugueses reuniram-se este mês em congresso e desse reunião saíram muitas queixas. A principal foi a falta de autonomia que as redações sentem e os constrangimentos económicos que se abatem atualmente sobre as empresas jornalísticas. Num livro que preparei em 2015, intitulado “Jornalista: profissão ameaçada”, 100 jornalistas já haviam manifestado essas preocupações. “menos dinheiro, menos gente e mais gente mal paga”, declarou-nos um jornalista sénior.

Todavia, não são apenas as limitações económicas que mais afetam os media noticiosos. As pressões das fontes assumem-se também como elemento crítico, principalmente porque são cada vez mais sofisticadas. “os vícios controleiros dos poderes são um sério constrangimento”, assegurou-nos um jornalista. Um outro deixa uma leitura pertinente da atual situação: “Alguns responsáveis editoriais adotaram um princípio totalmente errado, aquele segundo o qual só podemos ser independentes se formos rentáveis (até chegar à rentabilidade, temos de fazer cedências). Isto gerou uma espécie de espiral recessiva: quanto menos independentes, menos rentáveis. A lógica deveria ser a oposta. Ninguém consome jornais de cuja independência desconfia”.

Como escrevi no meu último livro, a renovação dos jornalismo é uma competência exclusiva dos jornalistas. São eles que devem reformatar um campo que lhes pertence. São eles que se devem reinventar a si próprios. São eles que devem reinventar um futuro para o jornalismo. Para que a sociedade seja mais equilibrada, mais dinâmica, mais cumpridora.

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