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2023-02-01 às 06h00
Nos últimos tempos, têm feito parte do nosso quotidiano notícias e vivências relacionadas com cheias e inundações, gerando graves prejuízos materiais e humanos. Estes eventos afetam principalmente as cidades, onde o ambiente construído condiciona o desempenho dos processos naturais, reduzindo a infiltração no solo e aumentando o escoamento superficial da água. De facto, os desafios de adaptação às alterações climáticas mais prementes, principalmente nas áreas urbanas, estão associados à dificuldade de retenção das águas pluviais. Por isso, os planos de ação climática recomendam que as cidades se concentrem em melhorar a gestão da água, implementando infraestruturas verdes.
Um olhar mais atento sobre a Natureza e sobre soluções implementadas noutros países para a gestão e uso eficiente da água, designadamente nos Países Baixos, leva a crer que as cidades se podem proteger de cheias e inundações (e até de períodos de seca severa) criando jardins de chuva. Estes ecossistemas podem ser a solução de base natural para problemas de infraestrutura urbana, pois contribuem para mitigar o impacte negativo causado pela impermeabilização resultante da pavimentação e construção do edificado urbano. Graças à sua capacidade para absorver e reter a água, contribuem para reduzir o escoamento superficial e repor os níveis de água subterrânea nos lençóis freáticos.
Os jardins de chuva, tecnicamente designados por sistemas de bior2retenção, constituem uma alternativa sustentável à drenagem de água urbana, recorrendo à atividade biológica das plantas. São infraestruturas ecológicas destinadas à recolha, infiltração e retenção das águas pluviais que escorrem dos telhados, pisos pavimentados e via pública, contribuindo para a adaptação às alterações climáticas e redução dos danos causados por chuvas intensas.
Um jardim de chuva é um jardim de arbustos nativos, plantas perenes e ornamentais, projetado para que, pela sua localização, geometria, composição de solo e vegetação, seja capaz de reter e absorver temporariamente mais água de chuva do que o solo natural seria capaz de absorver. Na maioria das vezes, são áreas plantadas com espécies de plantas autóctones, localizadas no solo ou em reservatórios preparados para esse efeito, situados nas proximidades de sistemas coletores e de drenagem de águas pluviais. Na seleção das plantas deverá ser privilegiada a sua capacidade de absorção e de remoção de poluentes da água da chuva que escorre das vias pavimentadas e dos telhados das cidades. As plantas atuam como reservatórios temporários de água pois absorvem a água do solo, transportam-na para os seus ramos e folhas e depois libertam-na no processo de evapotranspiração. Os jardins de chuva também atuam como meio filtrante devido à sua eficácia na remoção de partículas sólidas e outros poluentes que a água vai dissolvendo e arrastando no seu escoamento superficial, contribuindo, assim, para a preservação dos recursos hídricos superfici- ais e subterrâneos.
Deste modo, a vegetação urbana reduz os efeitos negativos das chuvas e inundações, reduzindo também a pressão sobre o sistema de drenagem nas cidades, por infiltração ou retenção de água durante os períodos de precipitação intensa. Além disso, as áreas verdes melhoram o conforto térmico nos dias quentes e aumentam a humidade do ar, o que ajuda a amenizar os efeitos da ilha de calor urbana.
Neste contexto, a recente Resolução da Assembleia da República n.º 84/2022, de 23 de dezembro, que recomenda ao Governo que incentive projetos de infraestruturas verdes e a instalação de sistemas de aproveitamento de águas pluviais, vem enquadrar e assinalar a importância e premência deste tipo de soluções. Os jardins de chuva poderão, por si só, não resolver totalmente o problema, mas seguramente contribuirão para a solução numa estratégia integrada com outras infraestruturas verdes, como as coberturas e paredes verdes, que não devem ser esquecidas no planeamento urbano das cidades portuguesas.
Por vezes, grandes problemas requerem Soluções baseadas na Natureza que, apesar da sua simplicidade, podem ter resultados positivos muito significativos na resposta aos desafios ambientais atuais, em particular na necessária e urgente adaptação das cidades às alterações climáticas, tornando-as mais resilientes. Parafraseando Liev Tolstói, “Não há grandeza quando não há simplicidade”.
29 Março 2023
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