As férias e o seu benefício
Escreve quem sabe
2022-01-07 às 06h00
Iniciámos o ano com a urna à porta. É mais uma oportunidade, entre tantas já perdidas, para quem manda neste país repensar o caminho. A meu ver, a demografia deve estar no topo da agenda. Temos um país que sobrevive a várias velocidades. É pequeno em área, enorme em desigualdade. Esta assimetria esticou de tal forma a corda que temos hoje números vergonhosos estampados nos últimos Censos, os primeiros realizados online.
Os dados obrigam Portugal a refletir. Não é de agora que o cancro está disseminado. O Interior e as Beiras são um deserto. O Sul é de banhos. O Litoral, asfixia. A capital e o grande Porto recebem o bolo quase por inteiro. Sobram golpes de asa que colocam a nu a alma de um povo esventrado em desânimo, descrente na liderança e que vê os melhores zarparem em busca do justo reconhecimento.
Na última década, Portugal perdeu mais de 200 mil almas. Há 13 anos consecutivos que morrem mais pessoas do que nascem. Este ano tudo aponta para ser o pior desde a gripe pneumónica, em 1918. O conhecido "teste do pezinho" revela que nunca nasceram tão poucos bebés em Portugal. Desde que há registos (1864), perder gente com este impacto só tinha sucedido na década de 60, período de forte emigração. Para termos uma ideia, seriam necessárias mais 250 mil crianças – por ano estão a nascer pouco mais de 80 mil em contraponto a 100 mil óbitos – para haver um saldo natural positivo neste período.
Face ao que temos, o país terá mais um milhão de idosos em 2050. Em menos de 30 anos, um terço da população residente em Portugal terá 65 ou mais anos, o que equivale a um total de 3,3 milhões de pessoas (mais 1 milhão que os atuais 2,3). Esta previsão saiu de um estudo - “Building a healthier and more thriving future” – divulgado, por estes dias, pela consultora imobiliária CBRE.
O quadro não arrepia mais – Portugal é o terceiro país mais envelhecido da Europa e o quinto do Mundo – porque a população estrangeira residente aumentou 40% nos últimos 10 anos. Mais de meio milhão não nasceu por cá, na maioria de nacionalidade brasileira.
A reboque, estão as últimas projeções do Instituto Nacional de Estatística (INE) que reforçam a desesperança. Em 2042, seremos menos de 10 milhões. O índice de envelhecimento – ultrapassou os 40% na última década – parece fatal (182 idosos para cada 100 jovens). A natalidade mirra. O mito que poderia eclodir o baby-boom, a pretexto dos confinamentos, não passou disso.
Fruto destas escolhas, há menos famílias numerosas e mais gente a viver sem ninguém. O número de portugueses que habitam sozinhos ultrapassou, pela primeira vez, um milhão (1 027 924), mais 160 mil do que na década anterior.
A inversão da pirâmide demográfica começou a dar sinais de alarme no início deste século. Virou cedo catástrofe a ponto de hoje os maiores de 65 representarem 23,4% da população portuguesa e crianças, até aos 15 anos, 12,9%. O mesmo significa que atualmente há 271 cidadãos em Portugal em idade ativa por cada 100 idosos, quando no ano 2000 eram 400.
Este desequilíbrio rompe com a economia e trava muito do futuro que um país como o nosso poderia ter. O modelo tem que ser alterado. Há muito que se pede e se exige outro saber fazer. Há estudos e reflexões por todo o lado. Esta é apenas mais uma gota num oceano de prece.
Defendo que devemos, por exemplo, inverter a forma de trabalhar. A prosseguir como está, ou seja, limitada por balizas etárias, vamos assistir a uma cada vez maior escassez de mão de obra. Continuamos organizados em sociedade como estávamos no passado, em que a população era jovem e havia reposição de gerações. Basta olhar para o lado e saber que Portugal é muito menos produtivo do que a Alemanha e trabalha-se mais nove horas por semana. Se estendermos a com- paração ao resto da Europa, o rendimento médio anual das famílias portuguesas é cerca de 75% da média europeia.
Estamos perante um Inverno demográfico sem Primavera à vista. Oxalá esteja errado e que a bazuca seja estrondo certeiro em áreas famintas que alavanquem a nossa amada pátria. Que não sejamos coniventes, em camarote, a ver o barco a atracar. Por terra ou por mar, podemos e devemos pugnar um amanhã que honre a marcha de tantos que lutaram para que eu possa estar aqui a escrever e você a ler.
19 Julho 2025
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