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Instituições perenes

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Instituições perenes

Voz às Escolas

2021-11-15 às 06h00

João Andrade João Andrade

No passado dia 6 de novembro, tivemos o prazer de participar no “Encontro de Escolas com História”, realizado na Escola Secundária de Sá de Miranda, que pretendeu ser o primeiro passo para a criação de uma associação de escolas nacionais com mais de um século de percurso que possibilite sinergias na preservação da sua memória. Encontro que foi um prazer, porque, mais uma vez, tivemos ocasião de visitar o fabuloso património educativo alojado nessa Escola, pudemos desfrutar da qualidade das intervenções e da organização do evento e nos possibilitou, novamente, constatar o quão marcante é o papel das instituições educativas perenes – e a identidade de cada uma – nos territórios onde prevalecem.

Se é verdade que a escolaridade para todos e a variação e mobilidade demográficas fizeram surgir - e depois desaparecer - uma miríade de pequenas escolas, nas principais cidades, assistiu-se, pelo menos no último meio século, a uma constância das suas instituições educativas públicas. Sendo que muitas dessas instituições são herdeiras, em continuidade, de estruturas que desempenhavam o mesmo papel e que, amiúde, ocuparam, também, os mesmos espaços das atuais. Isto fez com que muitas instituições educativas nacionais apresentem histórias que ultrapassam o tempo de um século.

É esse o caso da Escola Secundária de Alberto Sampaio, agora escola sede do Agrupamento homónimo, que remonta as suas origens ao decreto régio de 11 de dezembro de 1884, quando Braga foi dotada com ensino técnico, a funcionar na Escola de Desenho Industrial, sita no Largo das Carvalheiras e cujo diretor foi o cirurgião Bernardino Alves Passos. Mais tarde, passou a denominar-se Escola Industrial Bartolomeu dos Mártires, integrando, no século XX, o Curso Elementar de Comércio. Desde 1936, ficou instalada na Rua do Castelo e, se bem que um decreto-lei de 1948 estabelecesse a separação entre Escola Técnica Bartolomeu dos Mártires e Escola Industrial e Comercial Carlos Amarante, um outro, de 31 de maio de 1951, fundiu-as na Escola Comercial e Industrial de Braga, ainda hoje na memória de muitos. No entanto, há precisamente cinquenta anos feitos há dias, e através do decreto-lei 457/71 de 28 de outubro, o ensino técnico secundário passa a ser ministrado por duas escolas, ficando a parte industrial na Escola Técnica Carlos Amarante e a comercial na Escola Técnica de Alberto Sampaio, que, a partir de 1979 (através da portaria n.º 608/79 de 22 de novembro), adota o nome atual, Escola Secundária de Alberto Sampaio, mudando-se, pouco depois, em 1980, para a localização atual, na Quinta de Santo Adrião.

Em 2013, é agregada ao Agrupamento de Escolas de Nogueira, assumindo este o nome do Patrono da escola sede e passando a denominar-se Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio.
Estamos a falar de um percurso de quase século e meio de história, muito tempo para uma instituição, educativa ou outra. Muitas gerações e vastíssimos milhares de atores que foram marcados pela identidade da instituição e que, por sua vez, marcaram a cidade de Braga, o país e demais territórios onde desenvolveram a sua diversificada atividade.

A identidade perene do AESAS, bem como das demais instituições educativas desta cidade, foi construída a partir do perfil dos cursos ministrados e da confluência de atores que por elas passaram. Nas palavras de José Saramago, que já anteriormente nestas crónicas citámos e que pensamos que tão bem se aplicam à Educação: “O que sabemos dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar.”

Assim, preservar a nossa história é, principalmente, preservar a dimensão imaterial da mesma. Ainda que as sucessivas lideranças tenham feito um notável trabalho de preservação de alguma memória material, a maioria patente na Sala Museu Alberto Sampaio, onde podemos encontrar peças de alunos com quase um século de antiguidade, a nossa escola sede mudou várias vezes de localização, o que implicou que o património material disponível não seja tanto quanto o que gostaríamos. Como bem referiu, no encontro do passado dia 6 de novembro, Alberto Abad Benito, Presidente da Asociación Nacional para la Defensa del Patrimonio Histórico, de Espanha, instituição congénere à que se pretende criar em Portugal, e citando um dizer popular espanhol, que também existe no nosso país: “Duas mudanças, um roubo, três, um incêndio.”

Foi este o peso, de continuidade do percurso de tantos outros, que transmitimos aos nossos alunos de mérito, em cerimónias que decorreram na passada sexta-feira. Indicando-lhes que era nossa convicção que, tal como os que os precederam e todos os outros atuais da nossa comunidade, também dotados de mérito, ainda que não formalmente visível, estavam destinados a marcar, positivamente, o futuro da nossa região, país e Mundo.
Mensagem escutada por muitos, por, devido à pandemia, termos somente agora entregue os prémios de mérito dos últimos anos. Além do agradecimento aos alunos, família, professores e demais comunidade, aproveitamos para agradecer a imediata colaboração, mais uma vez, do Município de Braga na possibilitação dos eventos, agora pela pessoa da nova Vereadora da Educação, Dr.ª Carla Sepúlveda, também antiga aluna da Escola Secundária de Alberto Sampaio, e que nos deu o prazer da sua presença num dos eventos, e a quem desejamos as maiores venturas para o presente mandato.
Momento, também, para reconhecer e agradecer o trabalho marcante, junto do nosso Agrupamento e na Educação em Braga, da sua antecessora no pelouro, Dr.ª Lídia Dias, a quem também desejamos o maior sucesso nas novas etapas do seu percurso.

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