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Braga, quinta-feira

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Inimigos à vista

Juntos por Braga: Um projeto vencedor

Inimigos à vista

Ideias

2025-06-18 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Sou um pacifista irascível. Serei um cínico, além do mais, quanto vejo criação em cada bomba que cai – criação de riqueza, bem entendido, não de um reles buraco. Na realidade, contas feitas, como estaria em termos de pé-de-meia se tivesse metido uns euritos no porquinho-mealheiro da Reihnmetall, que de 22 para 23 mais que dobrou o valor em Bolsa, e de 22 para cá quase decuplicou duas vezes? Não é que os artistas da multiplicação conseguem o feito de distribuir dividendos ao mês! E que bem não estaria, se tivesse composto arranjo floral com uns girassóis da Airbus, uns lílios da Leonardo, um punhado de lavandas da Thales, mais umas rosinhas-de-cheiro da Rolls Royce! Bouquet que algum iconoclasta estúpido e insensível qualificaria ao primeiro relance de Natureza Morta, mas ele há sempre quem veja as coisas de través, como ele há sempre quem cate e aparte as ervilhas numa jardineira caprichada.
O Banco bem me alertou, por causa de uns dinheiritos em conta à ordem preguiçosa. Eu ainda fui à net ver umas coisas, mas não fiquei confortável com o facto da Reihnmetall substituir no DAX a Fresenius Medical Care. Incomodou-me, seriamente, que a diálise e as nefropatias perdessem em lucro gerável para um fabricante de canhões, que a bata branca recuasse diante do camuflado, que os ondulados viridentes da música ambiente fossem ofuscados pela sarabanda de clarins, bombardinos, e demais instrumentos de bufo.
Ensaiei perguntar a amigos especiais, que conservo para lá da saudosa Cortina de Ferro, se não seria Putin um dos accionistas maioritários do gigante germano, ao que me responderam que ele não, mas que o Zelensky sim. Fiquei para não acreditar em saída tão malévola, porque não vejo que um actor invista em indústria de guerra, que isso é tudo gente de salvas de pólvora seca, beijos fingidos, e cenas de intimidade filmadas de ângulo cego, perladas de efeitos sonoros.
É isso: as escaramuças no Don, no Dniepr, na Crimeia, e onde mais calhe à boleia da sinuosa indústria ocidental, não são bem uma guerra, são um jogo, são níveis e cenários de um campeonato disputado em realidade virtual imersiva, porque a dada altura nem com bigode cossaco o Super Mário dê pica, e nós, para modorras nossas, para que eles juntos não venham partir a loiça para esta banda, pois nós arranjamos arruaça inteligente entre parentes eslavos, porque percam os dois, mas a fingir, porque se fragilizem os dois, mas ao postiço, e porque a malta tire umas buchas com o que vende e com o que toma de hipoteca, à séria.
Oh! E a coroa de glória da saraivada entre judeus e persas! Honestamente, estávamos a ver que nunca mais pegava, que eles eram do fala-fala, mas não faz nada, do tirem-mo da frente, que eu tenho uma mesa de sueca à minha espera. Por outro lado, a quezília entre eles tem milénios, se metermos persas, assírios e caldeus no mesmo saco, e chega a ser um abuso da nossa parte pensar que sejamos tidos ou achados em tais arrufos.
Cinismo diletante, o meu, que facilmente coloco de lado, fitando de frente um pesadelo que se adiciona a outro, mas cinismos de alto gabarito que resplandecem em exortações à paz, à concórdia, ao despertar da irrazoabilidade, porque não deva o Irão prosseguir na senda do enriquecimento do urânio. Eu não sei, mas parece-me que nos estão a espetar outra vez com a historinha das armas de destruição maciça, e que nós estamos a ir na conversa. Eu não sei, mas parece-me que estamos a engolir outra vez a nobre campanha contra a perfídia ditatorial – Saddam, Gaddafi, Al Assad, Khamenei. É tão reconfortante sermos tão bons!

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