Maximinos: Educação Projetada para o Futuro
Ideias
2010-05-29 às 06h00
No dia 29 de Maio de 1985, confrontos entre adeptos italianos e ingleses causaram 38 mortos e dezenas de feridos, no Estádio de Heysel, em Bruxelas. Os distúrbios aconteceram minutos antes do jogo da final da Taça dos Campeões Europeus de Futebol, que opunha a Juventus e o Liverpool. Quatro anos mais tar-de, um tribunal de Bruxelas condenou 14 adeptos ingleses a três anos de prisão.
Tal como hoje acontece, as autoridades vieram a público dizer que as medidas de segurança eram as necessárias. A possibilidade de confrontos entre os adeptos de ambas as equipas foi, desde o início, ponderada pelas autoridades belgas. Daí que te-nham proibido a venda de álcool em estabelecimentos próximos do estádio e reforçado a segurança com um total de 1500 polícias.
Como ninguém deu muita importância ao caso, as bebidas foram servidas a excelente ritmo. Contrariamente ao previsto, já depois de confrontos nas imediações do estádio e de uma ourivesaria roubada pelos adeptos do Liverpool (saque de valores na ordem dos 150 mil euros), a bancada norte do estádio estava repleta, com a incompreensível presença de aficionados de ambas as formações, apenas separadas por uma barreira metálica e alguns agentes.
A paz durou apenas 30 minutos. Os ingleses lançaram uma investida feroz e os distúrbios ganharam proporções incontroláveis. As grades que separavam as bancadas cederam à pressão humana e deram lugar à tragédia. Dezenas de espectadores italianos foram espezinhados por hooligans, que usaram barras de ferro para bater nos rivais. Com a pressão dos espectadores em pânico, o muro caiu, arrastando na queda mais algumas dezenas de pessoas. Aos hooligans ingleses foram atribuídas as responsabilidades pelo incidente, o que resultou na proibição das equipas britânicas participarem em competições europeias por um período de cinco anos. O povo inglês aplaudiu a decisão. A rainha Isabel II condenou publicamente o comportamento dos hooligans e apoiou a suspensão das equipas inglesas.
Apesar desta tragédia ter acontecimento há 25 anos, é comum em Portugal desvalorizar-se um ou outro acto pontual de violência que ocorre dentro dos estádios ou nas imediações dos mesmos. A sociedade exige punho firme perante aqueles que, misturados num qualquer grupo organizado de apoio a um clube, multiplique actos de violência por onde passa, escondendo o rosto com um cachecol adornado por um qualquer emblema do nosso campeonato.
A não ser que ande distraído, pergunto: que exemplos o nosso país tem conhecido de casos on-de quem não cumpriu as regras tenha sido punido por isso? Quantos são os assaltos a estações de serviço durante as 30 jornadas do campeonato? O que acontece depois aos autores dos furtos?
A questão da (in)segurança nos estádios de futebol tem sido fértil em casos graves de violência entre adeptos, confrontos que se alastram a espectadores que nada têm a ver com as situações. E se alguém quiser provar que as chamadas claques organizadas do seu clube são mais sérias que as do outro, estará a fazer um exercício de puro masoquismo mental. Para mim, são todos iguais porque a realidade assim o prova. Mas também sei que, em muitos casos, os mentores dos confrontos até nem fazem parte do grupo organizado. Mas cabe aos líderes das claques afastar essa gente que se apro-veita do futebol para colocar a sua má educação em prática.
Para já, o campeonato está parado. Há no ar uma espécie de paz podre. Mesmo assim, a Torcida Verde, um dos movimentos de apoio ao Sporting Clube de Portugal, esteve em São Bento, onde foi recebida pela Comissão do Desporto e da Juventude, órgão composto por deputados da Assembleia da República aos quais aquela claque havia solicitado uma audiência. A reunião visou discutir e obter esclarecimentos acerca da Lei das Claques, que continua a suscitar dúvidas ao nível da sua aplicação dentro do espectáculo desportivo. As medidas previstas continuam a não ser totalmente claras para aquele grupo de apoio aos leões, que entendeu por bem pedir esta sessão.
Entendo que, legalizados ou não, os grupos organizados vão existir sempre. Vão estar na mesma bancada, com as mesmas pessoas e, segundo consta, com o mesmo propósito: apoiar o seu clube.
Nada tenho contra as claques. Aliás, elas são também a essência do desporto, da paixão, da dedicação a uma causa. Já viajei para muitos estádios do país, e não só, e nada de mal tenho a apontar. Há bons exemplos, mas os maus sobrepõem-se em força na opinião pública. Enquanto o emblema pelo qual eles tudo fazem não for alvo de castigo, dificilmente poderemos chegar a um estádio de futebol, de cachecol do clube visitante ao pescoço, e desfrutar da vitória, lamentar o empate ou chorar, sem ter que olhar para o lado, a derrota.
Se o governo, em especial a Secretaria de Estado do Des-porto, continuar a tratar este assunto com 'paninhos quentes', vamos continuar a ver grupos organizados a desfilarem, de Norte a Sul, sem que ninguém lhes faça nada quando se portam mal. E já agora, gostava de saber o que vai acontecer à 'Benfica TV' por ter andado uma semana a noticiar que um adepto do Benfica, nos festejos do título em Braga, foi esfaqueado e, cinco dias depois, viera a sucumbir. Esta informação, como depois se veio a comprovar a sua falsidade, poderia ter lançado a cidade de Braga numa onda de violência sem precedentes. É pena que estas coisas se resolvam com um simples desmentido. Que um canal de um qualquer clube analise um lance com pouca isenção, até aceito. Agora, inventar um ferido por facada, uma entrada no hospital, um coma de quatro dias e uma morte ao quinto, tem tanto de inédito como de grave.
Nota: O acórdão proferido ontem pelo colectivo de juízes da 5.ª Vara do Tribunal Criminal de Lisboa sobre o pro-cesso dos No Name Boys (Operação Fair Play) determinou 13 penas efectivas, a maior das quais de 12 anos, oito absolvições e 16 condenações com penas suspenas. Estavam indiciados da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de droga, posse de armas e outros ilícitos.
18 Janeiro 2025
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