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Ideias
2023-03-28 às 06h00
Não se trata de lamechice, longe disso. O que está em causa é tão somente a expressão de um sentimento de gratidão, de reconhecimento pelo notável percurso de vida, sempre pontuado por enorme generosidade e uma bondade sem limites. Também, devo confessar, uma longa amizade baseada no respeito mútuo, na lealdade e na solidariedade.
Porque estou plenamente convicto de que o relacionamento interpessoal não deve nem pode condicionar as minhas opiniões, decidi escolher para tema de hoje o Cónego João Aguiar Campos. Faço-o, não pelos laços amistosos que nos unem, mas porque acredito que é inteiramente justo falar deste homem que, além de outras virtudes, é um autêntico aristocrata da palavra.
Com a emoção à flor da pele, assisti este fim-de-semana à concelebração que festejou as suas bodas de ouro sacerdotais. Uma cerimónia simples, bem ao gosto do homenageado, mas plena de significado. Seria ingrato não assinalar o meio século de sacerdócio na sua terra natal, como o próprio fez questão de sublinhar.
Na verdade, Campo do Gerês, ou São João do Campo, freguesia serrana situada no Parque Nacional Peneda-Gerês, constitui, para João Aguiar, uma referência maior, já que é precisamente nesse local que pode fruir dos espaços outrora frequentados pelos seus pais e seus antepassados, e onde hoje em dia ainda tem oportunidade de conviver com familiares e amigos.
Não surpreende, por isso, que a pequena igreja paroquial tivesse ficado ainda mais exígua, na tarde do passado sábado, quando acolheu a cerimónia religiosa que comemorou o 50.º aniversário da sua ordenação sacerdotal. Ali acorreram bispos e padres, amigos de diferentes localidades, mas sobretudo a população local, que não quis deixar de se associar à cerimónia e saudar o filho dilecto da terra.
“Eu nasci sacerdotalmente em São João do Campo, cresci em São João do Campo e mesmo quando não vivi em São João do Campo, São João do Campo viveu sempre comigo”, fez questão de evidenciar o padre João, como é popular e carinhosamente tratado na freguesia.
Na homilia da concelebração, que foi presidida pelo Arcebispo Primaz de Braga, João Aguiar abordou o texto evangélico do Dia da Anunciação do Anjo, explicando que aquele “faça-se” de Maria não será uma decisão imperiosa, antes uma determinação que vai sendo cumprida, num desafio permanente ao longo da vida. E a verdade é que muitos têm sido os desafios que ele próprio tem enfrentado, sempre com sucesso, deve dizer-se, ao longo da sua multifacetada vida.
Conheço-o há tempo mais do que suficiente para poder afirmar que João Aguiar, portador de grande e inabalável fé, é um homem generoso, sempre disponível, que se entrega por inteiro. Homem de grandíssima sensibilidade social, sempre deu mostras de um despojamento solidário assinalável, sem colocar minimamente em causa o estrito cumprimento da ética e das suas responsabilidades públicas. Aliás, até na provação nos apresenta um testemunho que, de tão autêntico, a todos envolve e sensibiliza. Enfim, João Aguiar é aquilo que muito justamente se convencionou chamar de homem bom. E não me refiro apenas à sua acção pastoral. Aliás, hesito na sua classificação, isto é, se estamos perante um padre jornalista ou o inverso.
Como quer que seja, não restam quaisquer dúvidas que João Aguiar é um comunicador. D. José Cordeiro salientou isso mesmo na concelebração, quando o classificou como “um grande mestre, e um testemunho eloquente”, que “escreve como respira”.
De resto, opiniões idênticas podem ser lidas, por exemplo, nas redes sociais, onde os inúmeros seguidores do padre João Aguiar lhe manifestam gratidão pelos conselhos e exemplos da sua história de vida, que ele generosamente partilha.
E, por outro lado, os livros por si publicados são riquíssimos repositórios de ideias e reflexões sobre variadíssimas questões, algumas de grande relevância, e cuja leitura contribui para a formação dos seus inúmeros seguidores.
Termino com uma nota pessoal. Sei que a humildade do meu amigo João Aguiar não lhe permitirá apreciar por aí além este texto singelo. No entanto, porque entendo ser de inteira justiça agradecer-lhe publicamente a sua acção ao longo dos últimos 50 anos, acredito que ele me perdoará a sua publicação. Nesse sentido, convoco um pequeno texto do seu último livro, Cochichos:
“Seria hipócrita se não confessasse que sinto ausências inesperadas. E, sim, doem.
Mas seria tremendamente injusto se não sentisse a bondade de quem me anima, protege e desafia. E são tantas e tantas as doces surpresas!...
Gratuitas. Persistentes.
Quanta Bondade!... Quanta bondade!...
Quanto me ensinam!...
Obrigado!”
Nós, os teus amigos e os teus leitores, é que te estamos gratos, João!
29 Maio 2023
29 Maio 2023
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